Existem muitas teorias filosóficas, psicológicas, pedagógicas, médicas e psiquiátricas, que tentam apresentar uma explicação plausível para a degenerescência do caráter humano, inclusive desde a mais tenra infância. Otimistas como Russeaul, puristas como o antropólogo Strauss, pessimistas como Sartre, escolas como de Freud, por exemplo, falham ao tentar de um lado isentar o homem fazendo dele uma vítima simplista de fatores exteriores e descontrolados ou entregando-o a um determinismo fatalista sem esperança e sem solução. Não à toa a cultura popular criou o ditado: ‘pau que nasce torto, morre torto’. Somente as Escrituras oferecem uma explicação cabal e consistente a respeito do caráter imperfeito e inclinado para o mal do homem, bem como oferecem uma esperança real e uma cura definitiva. A Bíblia nos ensina que o caráter do homem foi deteriorado e todas as suas faculdades foram manchadas pelo pecado, e assim, não há coisa alguma que se forme no homem e que ele venha a fazer, por mais louvável que seja, que não seja maculado pelo mal. Esta doutrina nós a conhecemos como Depravação Total. Isto não quer dizer, evidentemente, que o homem é o mal absoluto e que tudo nele é mal em sim mesmo. Não. O que essa doutrina assevera é que o homem ficou incapacitado de fazer sempre o bem e de evitar fazer o mal. A nossa experiência pessoal confirma exatamente isso. Nem sempre nos entusiasmamos, temos vontade, energia e coragem para fazer o que é reto, justo, bom e verdadeiro. E muitíssimas vezes, sequer conseguimos esboçar qualquer reação frente ao mal que fazemos. Não oferecemos resistências, damos vazão à satisfação dos nossos desejos caídos e à nossa vontade inclinada à rebeldia. E, isso não tem a ver em essência com o meio, a educação, a exposição à violência e etc. Claro, que essas coisas, também porque trazem em si resíduos da corrupção, podem muito bem potencializar e mesmo trazer à tona o que está estruturado em nossos corações. Mas o fato é, que nascemos com uma natureza disposta ao pecado. Somos por natureza pecadores. Não somos pecadores porque pecamos. Pecamos porque somos pecadores. Não podemos evitar. Na verdade, até que Cristo nos salve, nem queremos evitar. Para que não fiquemos confusos, a doutrina da Depravação Total abre espaço para outra verdade inferida das Escrituras. A Graça Comum ou Geral de Deus que age no mundo, subjugando mentes e corações, de modo que nunca um homem e nem a reunião de todos eles pode fazer todo o mal possível, porque se o fosse, nem mesmo poderíamos existir como raça. Há muito nos teríamos destruído. Conquanto essa Graça Comum esteja em atuação nesse exato momento, ela não tem o fito de acabar com o mal e sim restringi-lo. A Graça que extirpa o mal em definitivo e continua atuante sobre os resíduos persistentes em nossa carne, em nosso coração e em seus efeitos em nossa mente, é a Graça Especial, aquela que é dada quando o Evangelho é ouvido e aplicado às almas pelo Espírito Santo. Quando isso acontece, uma nova natureza nos é dada e um coração novo nos é implantado no peito. A partir desse momento, de maneira irreversível e sempre mais crescente, a despeito dos meios, circunstâncias, educação e etc., nosso coração já passa a evitar e aborrecer-se do mal. Agora, há em nós uma vida que não suporta o mal em si e o mal no mundo. Esse novo coração e essa nova mentalidade não podem mais achar conforto no pecado, deleite e satisfação no mal, indiferença com a injustiça e deseja do fundo da alma não participar de nenhuma sorte de mal perpetrado contra si mesmo, o próximo e fundamentalmente contra Deus. Não importa a gravidade do pecado e do estado podre da vida até então. Não importa por quais caminhos tortuosos andou até então. Por mais funda que seja a fossa em se encontrasse até o dia de sua conversão, nada mais conta. Claro, a culpa e a punição pelo pecado já não mais existem. Todavia, os efeitos históricos dele continuam e alguns, como os físicos por exemplo, podem nunca mesmo desaparecer. Mas, uma consciência limpa e livre, um senso de liberdade e dignidade e a certeza de uma vida nova, marcada por novos e salutares relacionamentos e um esperança que não decepciona, agora fará parte do seu ser e do seu agir. Para quem está em Cristo, pau que nasce torto, Ele endireita.
Reverendo Luiz Fernando É Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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