Esta semana, no dia 26 de novembro, vamos celebrar o Dia Nacional de Ação de Graças. Esta celebração pode se dar na intimidade do lar ou como é costume em alguns lugares, em culto público para que a ação de graças também se transforme em solidariedade. É um pouco o nosso caso aqui em Itapira. A igreja costuma reunir-se para um tempo de adoração e gratidão a Deus e, dentro do culto, trazem as suas ofertas em forma de donativos para compor a ceia de Natal que a Junta Diaconal costuma distribuir aos pobres. Tudo muito significativo e bonito. Mas, o centro das comemorações nesse dia é responder à pergunta: Pelo que você é grato a Deus, no ano de 2020? Talvez, pudéssemos mudar um pouco a pergunta e fazê-la assim: que motivos de gratidão a Deus você encontra em seu coração, apesar do que tem sido até aqui o ano de 2020? A ação de graças sempre esteve no centro da experiência cristã. Não é por acaso que o sacramento que torna presente a memória de Jesus redivivo no meio do seu povo chama-se EUCARISTIA! Essa palavra grega, grosso modo, significa obrigado. Os cristãos se reúnem desde sempre para, ao partir o pão e comungar do mesmo cálice, dar graças a Deus pelo imenso dom do Filho. Dar graças ao Filho, por revelar e comunicar o amor do Pai. Tudo isso na força e na luz do Espírito Santo. Esse gesto simples de sentar ao redor da mesa e partir o pão, donde a palavra companheiro, os que comem juntos o pão, nos faz companheiros de Jesus, ou melhor dizendo, permite que Jesus seja o nosso companheiro nessa viagem, chamada vida, assim como aos caminheiros de Emaús. E onde Jesus está o motivo de ação de graças sobeja no coração. Em 2020, em meio ao pavor, ao caos e às incertezas que tomaram conta do planeta, nunca foi tão imprescindível ter Jesus ao nosso lado e saber agradecer por tantas dádivas, tantas bênçãos, muitas vezes desvalorizadas por nós. Essa triste história da pandemia possibilitou-nos dar um passo atrás em todas as áreas da nossa vida e olhar ao lado, ao redor e para trás e assim enumerar as muitas bênçãos, fazer um inventário das dádivas recebidas e do trabalho da graça em nossas vidas. Quando estudamos a história da expansão do Evangelho, a história escrita pelos discípulos de Jesus Cristo, não é difícil que uma certa perplexidade tome conta dos nossos corações. A começar dos apóstolos, à exceção de João, o fim de suas vidas foi um tanto trágico. Decapitados, cerrados ao meio, apedrejados ou crucificados, um a um entregou a sua vida por Cristo em sangrento martírio. Em cada um desses um legado de gratidão ao Pai por terem sido dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Foi a gratidão em seus corações que impediu que seus pés vacilassem e seus lábios os traíssem, traindo a Cristo em seus corações. Na era dos pais da Igreja temos o luminoso testemunho de Policarpo de Esmirna. Foi o reconhecimento da bondade de Cristo para com ele que o impediu de o negar na iminência de ser queimado vivo por ser discípulo do Mestre da Galileia. E assim, um por um, pais da igreja, confessores, santos doutores, virgens, mães de família e esposas fiéis, crianças, uma hora ou outra pagaram o preço de sua fé no Cordeiro de Deus. O que eles tinham em comum, o que têm em comum os crentes de todas as épocas? A gratidão. Gratidão porque Cristo voluntariamente desceu do céu e assumiu a nossa condição mortal. Porque Cristo livremente aceitou levar sobre si os nossos pecados, não obstante a sua imaculada santidade. Gratidão porque o Filho inocente de Deus abraçou livremente a cruz e como um desgraçado recebeu em sua carne a punição por nossas iniquidades. Gratidão porque Jesus, ressuscitando e subindo às alturas, dignificou e redimiu a nossa humanidade. Os cristãos de todas as épocas agradecem em coro por sua nova condição de filhos amados e cidadãos dos céus. Essa gratidão é o que em todas as épocas fez com que a igreja resistisse, suportasse e avançasse no testemunho, mesmo contra toda a lógica da perversidade e do mal existentes no mundo. A gratidão é para o crente uma espécie de sal e suas propriedades. A gratidão impede que a murmuração e a incredulidade contaminem e apodreçam o nosso coração. Ela também realça o sabor da vida, quando ela parece sem sentido e nos dá prazer em viver intensamente cada etapa da nossa história. Sem um coração agradecido nos perdemos num emaranhado de ‘porquês’ e de silêncios desconcertantes. Somente a gratidão fará com que 2020 não seja visto como um ano absurdo, mas sim um tempo para dar o devido valor a cada coisa, sabendo que tudo vem da graça de Deus e não há resposta mais adequada à graça do que a gratidão. Então, apesar dos pesares, pelo que você é grato em 2020?
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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