Um bom gestor terá sempre diante de si uma lista de prioridades. Aquelas coisas que precedem na ordem de importância e necessidade a todas as demais. Aquilo que se não for feito trará prejuízo para o presente e, de certa forma, comprometerá o futuro e ainda oferecerá algum tipo de efeito colateral sobre as demais realidades que nem sempre estão diretamente ligadas com a prioridade não atendida. No mundo há um ditado assim: “primeiro a obrigação e depois a devoção”. Evidente que o mundo mormente entende por obrigação a busca de suprir as necessidades e as demandas da vida que tem a ver com ganhar dinheiro, ter pão, honrar os compromissos gerais e etc. Claro que estas coisas são importantes e ocupam mesmo uma parte significativa da nossa existência. Contudo, desde uma perspectiva bíblica, o contrário é o verdadeiro. Primeiro a devoção, depois a obrigação. Qual a base bíblica? Bom, para não extrapolar o espaço desta pastoral, vou me deter a uma citação que me parece mais que suficiente: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês” (Mt 6.33). Que coisas são essas a serem acrescentadas? Aquelas da nossa ‘obrigação’, das nossas necessidades de cada dia, comida, vestuário, segurança, conforto, lazer e etc. Assim, aprendemos do próprio Senhor Jesus que a prioridade das prioridades é o nosso relacionamento com Ele e com tudo o que diz respeito ao seu Reino de amor, justiça e paz. No livro de Josué 3.5 encontramos o seguinte: “ Josué ordenou ao povo: Santifiquem-se, pois amanhã o Senhor fará maravilhas entre vocês”. O contexto é o da tomada iminente de Jericó, a entrada em Canaã e a plena posse dos bens prometidos na nova terra. O princípio espiritual geral envolvido é bastante simples, antes das vitórias, das bênçãos e do desfrute da paz, a coisa mais importante a se fazer é corrigir, consertar a relação com Deus e cultivar a sua amizade e apreciar a sua santidade. Os dois textos citados nesta pastoral jogam muita luz para as metas que nos propomos a cada ano, nos objetivos que desejamos chegar e nos resultados que almejamos nas mais variadas áreas da vida. Seguramente, muitas delas são mesmo imprescindíveis e se alcançadas podem inclusive mudar o nosso patamar ou o nosso senso de felicidade. Entretanto, para que as maravilhas de Deus aconteçam em nossas vidas, para que nos sejam acrescentados os benefícios que tanto sonhamos, para que possamos tirar todo proveito espiritual inclusive das bênçãos materiais, a nossa vida com Deus deve estar ‘em dia’. Esse ‘que’ de insatisfação, ansiedade, incompletude, esse mal-estar que sentimos em relação ao casamento, ao futuro dos nossos filhos, com os rumos políticos do país, com a profissão, quase infalivelmente tem o seu nascedouro em uma vida com Deus negligenciada. Essa negligência é sintomática quando a prática devocional não ocupa a primeira atividade da nossa mente e do nosso coração no dia. Quando colocamos a oração, a leitura bíblica e a meditação em algum lugar entre as redes sociais, a TV e as preocupações de cada dia. Essa mesma negligência começa a afetar a nossa perspectiva da realidade e começa a distorcer os fatos e deles descolar, quando a vida devocional entra no rol das coisas que eu tenho que fazer se der tempo. Quando a relação com Deus entra na lista das possibilidades do dia, havendo oportunidade para isso. Nos tornamos homens e mulheres estéreis, secos, azedos, amargurados, sem paciência e murmuradores, na medida em que a devoção se torna um apêndice da vida, um acessório sem utilidade prática, uma experiência realizada na periferia da nossa existência, quase como um hobby. A prioridade das prioridades é a busca da face com Deus. O Encontro com o Senhor é o que deve determinar o que é realmente importante em nossa jornada diária. É a convivência com o Espírito de Deus que nos livra da tirania da urgência, da escravidão da ansiedade e da vertigem de querer sempre mais do que se tem sem nunca chegar a ficar saciado com coisa alguma. A vida devocional faz com que a totalidade de nossa existência orbite na face do Todo-Poderoso com segurança e propósito e nos impede de nos tornarmos como astros errantes, como meteoros perdidos na imensidão do espaço, desgarrados e sem o senso de pertença, identidade, cuidado, propósito e missão. Uma vida diária com Deus molda o nosso caráter, fortalece o nosso coração e prepara a nossa alma para desfrutar com gozo e proveito todas as bênçãos de Deus, mesmo aquelas que não parecem ser. Comece 2021 acertando as coisas com o Senhor.
Rev. Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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