“Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama realmente mais do que estes?’ Disse ele: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo’. Disse Jesus: ‘Cuide dos meus cordeiros’. Novamente Jesus disse: ‘Simão, filho de João, você realmente me ama?’ Ele respondeu: ‘Sim, Senhor tu sabes que te amo’. Disse Jesus: ‘Pastoreie as minhas ovelhas.’ Pela terceira vez, ele lhe disse: ‘Simão, filho de João, você me ama?’ Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez ‘Você me ama?’ e lhe disse: ‘Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo.’ Disse-lhe Jesus: Cuide das minhas ovelhas” (Jo 21.5-17).
Estamos tratando do tema ‘pastores ovelheiros’ como sendo uma urgência para a igreja contemporânea, na verdade, vimos que essa é uma urgência da igreja de todos os tempos. Terminamos a última pastoral falando sobre a tarefa de proteger o rebanho, tarefa essa na qual se encontram os ofícios de intercessor e supervisor (bispo). Gostaria de continuar nesse tema da supervisão, uma das tarefas mais delicadas e difíceis de todo o pastorado. Não se trata de intromissão, mesmo porque as Escrituras preceituam: “Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia” (2 Ts 3.11). Supervisão aqui significa uma espécie de sondagem, de medição de temperatura ou de investigação do coração. O pastor é uma espécie de médico, de clínico geral, precisa sempre fazer uma avaliação pessoal das condições de saúde espiritual e moral dos seus irmãos. Existem três maneiras de exercitar essa supervisão e todas elas demandam proximidade, convivência, acolhimento e abertura. A primeira delas é a não formal. Aquela convivência casual, aqueles encontros ‘acidentais’ que acontecem pelos corredores da igreja, na porta do templo, na rua, nas festas de aniversário. O pastor sempre deverá aproveitar essas ocasiões para na troca de cumprimentos, ainda que de maneira genérica, auscultar o coração dos seus irmãos. Perguntar pela família, ou por um motivo de oração recente, ou qualquer outra coisa da vida, pode e geralmente fornece bons subsídios para a oração do pastor e, se necessário, uma abordagem futura. A outra maneira é a informal. Essas ocasiões se dão no dia-dia da igreja, nos cultos, nas reuniões de oração e estudos, nos trabalhos das diversas comissões e departamentos. Convivendo, estando ao lado, conversando sobre assuntos práticos da vida da comunidade ou orando juntos, é possível sentir os movimentos da alma, as tensões, as preocupações e o que tem ocupado a vida dos irmãos. Outra ocasião para a oração, uma outra possibilidade para uma abordagem. E por último, a formal. É aquela com agenda marcada, no gabinete para uma mentoria ou aconselhamento. Isso só é possível quando a proximidade dos outros dois momentos concede ao pastor a liberdade de abordar e conversar mais séria e efetivamente sobre casos concretos que estejam afligindo os corações. Assim, convivência, proximidade e amizade são qualificações necessárias a um pastor ovelheiro. Outra função do pastor ovelheiro é a de guiar, conduzir, tanger o rebanho. Essa é uma atividade pastoral essencial e passa, claro, pelo ensino e pela pregação. Entretanto, a primeira tarefa a ser realizada pelo pastor nessa função é a de ser o modelo de vida que agrada a Deus. Sim, o pastor é alguém que deve desfilar diante das ovelhas aquele estilo de vida desejável pelo Senhor para os seus filhos e isso é radicalmente bíblico: “Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade” (Tt 2.7); “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 e Tm 4.12) e ainda: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1 Co 11.1). Paulo não abriu mão dessa condição para a genuinidade de uma vocação pastoral quando tratou com Timóteo e Tito, dois jovens pastores, e ele mesmo não se eximiu dessa reponsabilidade quando precisou intervir pastoralmente na igreja de Corinto. É inerente a obra de um ovelheiro ser a ovelha modelo do rebanho. O seu modo de viver a vida doméstica, como ele lida com os seus negócios, o trato com as ovelhas e a sua devoção por Jesus são os meios mais eficazes pelos quais ele pode encorajar e guiar a seu rebanho dentro da vontade do Senhor. Ele o pode fazer porque se esmerou em aprender o Evangelho e, por isso mesmo, agora tem autoridade para ensiná-lo. Aqui vem a tarefa que inevitavelmente segue-se a essa de ser modelo: ensinar a igreja, pregar. O cajado pastoral de um ovelheiro é a pregação fiel das Escrituras. Por meio da exposição da Palavra o pastor mostra o caminho, direciona a mente, desafia e empodera a vontade e abre os olhos para que todas as ovelhas andem nas veredas do Senhor. A pregação e o ensino fiel são expressões do ensino geral das Escrituras: “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho” (Sl 119:105). Um pastor ovelheiro se dedicará com toda a diligência em aprender com profundidade, manejar com eficiência, viver com piedade e expor com fidelidade a Palavra de Deus para que as ovelhas não se extraviem em sua peregrinação para a pátria e andem sempre pelo Senhor, que é o Caminho. Um pastor ovelheiro talvez não seja tão criativo e atrativo. Mas se ele realizar com zelo e solicitude pastoral esse tríplice oficio de alimentar, proteger e guiar, a igreja jamais se sentirá abandonada ou desorientada e será suprida em todas as suas carências. Um ovelheiro talvez não viva sob os holofotes, mas seguramente vive sobre os seus joelhos!
Reverendo Luiz Fernando é cuidador das ovelhas do Senhor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.
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