“Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.” (1Tm 2. 1e2 NVI).
É ensino comum nas Escrituras que devemos orar e interceder por aqueles que possuem autoridade sobre nós. Nossas lideranças, independentemente da cultura ou da modalidade, receberam por desígnio de Deus tal encargo e autoridade. Isto fica muito claro no caso de Pilatos. Jesus mesmo disse que o Procurador Romano não teria autoridade se não lhe fosse dada pelo Pai. Entretanto, o coração corrupto e enganador do homem pode não reconhecer esta outorga divina. Pode mesmo nem ter sequer entendimento ou conhecimento sobre o assunto. E é aí que mora o perigo. Como afirmou o escritor russo Fiodor Dostoiewiski: “Se não há Deus tudo é permitido”. Israel pagou um altíssimo preço pela corrupção moral, política e religiosa de sua liderança. Corrupção que se tornou uma epidemia incontrolável. Idolatria, crimes bárbaros, violências sexuais, abortos, prostituição “sagrada” ou “comercial”, alianças políticas pecaminosas, injustiça e decisões mentirosas nas cortes judiciais, geração de pobreza e miséria gritantes. Israel padeceu também de uma espécie de ateísmo prático, isto é, comportava-se como se Deus não existisse, ou ao menos não se importasse com o seu proceder. Com esta “ausência” da presença de Deus na vida da sociedade, Israel logo se tornou uma nação sem rumo, sem sentido e sem ética. Não demorou muito o castigo de Deus, com invasões, guerras, desterros e exílio. Graças a Deus, quando existem homens segundo o coração de Deus na liderança do seu povo, e quando este povo se compromete em ouvi-los e apoiá-los com obediência e oração, um novo estilo de vida é forjado naquela comunidade. Veja os casos emblemáticos de Salomão e Josias, Esdras e Daniel. Homens que pautaram o seu agir em conformidade com a vontade de Deus. Administravam o interesse comum e a justiça com ética e equidade. Foram grande fonte de bênção, paz e tranquilidade para o seu povo. Vivemos dias difíceis em nossas sociedades. A crise que está aí é filha da ganância, da falta de contornos éticos e de responsabilidades no trato com o dinheiro e a coisa pública. Contudo, nossas igrejas também, infelizmente, padecem de uma crise moral na liderança e em seus membros. Há um escandaloso abandono da Palavra de Deus e uma desenfreada busca do “sobrenatural” que solapa a razão e por isso mesmo a vida ética do crente. Quando a Igreja, consciência do Estado, deixa de ouvir Deus em sua Palavra, tudo a sua volta perece. Dê uma olhada nos telejornais, não há um dia em que não testemunhemos um novo escândalo no congresso nacional. Funcionários fantasmas, imóveis cedidos ilegalmente, a farra das passagens aéreas, as negociatas e as obras superfaturadas, as malas cheias de dinheiro, as propinas e etc. E assoma-se a isso o destempero dos ministros da suprema corte, imputando um ao outro uma incapacidade moral para corrigir, exortar, julgar e decidir. Será o fim da picada? Claro que não, vivemos ainda numa sociedade violentíssima, pais que matam ou estupram seus filhos, a violência doméstica e a do trânsito. E o que dizer da ideologia de gênero? Aqui está a fronteira da nossa razão de ser como Igreja e aqui começa a nossa missão de povo de Deus. Povo santo, separado para o serviço de Deus no mundo. Povo real, conquistado para infundir e proclamar o direito, a interceder e abençoar o contexto no qual estamos inseridos. Povo sacerdotal, que deve interceder pelo mundo e abençoar os homens e as mulheres de nosso tempo, apresentando-os dia e noite a Deus em nossas orações. Queiramos ser uma igreja relevante, com ações afirmativas, que nossa presença seja não só como um oásis em meio ao deserto, mas que possamos irrigar toda a terra para que os outros homens e mulheres, compartilhem conosco um tempo de refrigério, prosperidade, paz e dignidade humanas. Por isso devemos orar por nossas lideranças políticas, para que voltem ao bom senso e tenham prudência no trato com a coisa pública (res pública). Oremos pelos nossos magistrados, para que se revistam de justiça e envergadura moral necessárias para arbitrarem sempre em favor da promoção humana e da verdade. Oremos pelos nossos líderes espirituais para que nos guiem e governem segundo o coração de Deus, com unção e entendimento. (Jr. 3.15). Em certa medida, nossa tranquilidade dependerá de nosso compromisso com a paz que vem de Deus somente. Oremos insistentemente por nós mesmos, para que não sejamos vencidos pelo espírito de época que não vivamos pautados por estilo de vida ‘egorreferente’, mas que compreendamos que a nossa vocação escatológica de maneira nenhuma anula o nosso compromisso com a história presente e um futuro melhor para os nossos filhos. Comecemos a fazer diferença com a oração. Uma nação de pé com os olhos do futuro, têm homens com os joelhos em terra e os corações nos céus.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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