“Estejam vocês também alegres, e regozijem-se comigo” (Fp 2.18)
Setembro traz consigo a primavera no hemisfério sul. Bernardo de Claraval usa a transição da estação do inverno para a primavera para falar das alegrias pascais, uma vez que no hemisfério norte, a páscoa é celebrada muito próximo à chegada da primavera, chegando mesmo a coincidir com ela, depois de dias de frio intenso no rigoroso inverno europeu. Bernardo diz algo mais ou menos assim: ‘vejam, nos campos a neve derrete, as cores vivas das flores estão de volta com o seu doce perfume no ar, ouvi, o canto da pomba rola anuncia, os dias de longa escuridão dão lugar às alegrias da luz. Cristo, nossa luz, brilha nas trevas dos nossos corações, passou o inverno, foi-se o frio, a vida voltou depois da morte’ (citação livre). Essa belíssima ilustração pode e deve ser aplicada também a nós, ainda que o Brasil e Itapira de maneira especial, não possuam inverno tão rigoroso assim, ainda é possível verificar a transformação da natureza nesses dias de estiagem e frio. Os campos estão secos, os sinais das queimadas e a poluição mais densa do ar comprometem a nossa qualidade de vida e etc. A proximidade da primavera nos remete à proximidade cada vez maior do Natal, outra grande festividade do calendário cristão. Assim, é tempo de ir derretendo o gelo da indiferença, do cinismo, do criticismo e do desânimo de nossos corações. É tempo de retornar à vida, às alegrias da vida e de ouvir o canto da pomba convidando-nos à alegria pela iminência de logo celebrarmos as alegrias das festas natalinas. Você pode dizer, e com certa justiça, que ainda faltam quatro meses, verdade, mas é um tempo satisfatório para descongelar os nossos corações. O Natal tem tido cada vez menos significado e impacto sobre os cristãos e a sociedade. A comemoração do nascimento do Salvador tem cada vez menos encontrado acolhida inclusive nos corações crentes. Até parece que a história tem se repetido e Ele não tem encontrado hospedagem digna entre os seus, como aconteceu nos dias de seu nascimento histórico segundo a carne. As celebrações têm sido frias e não tão frequentadas como antes. Não só papai Noel, mas também o “desespero” pela praia, por uns dias de descanso e os atropelos pelas celebrações sociais, andam roubando a centralidade de Cristo, e assim, o Natal tem sido tão carente de sentido e de sentimentos de alegria e piedade, que é vivido com profunda e chocante indiferença e trivialidade pelos cristãos. Muito embora não devamos ver e nem reconhecer nesses dias algo místico ou superior aos demais dias do ano, e devamos ter todo o cuidado para não idolatrar essa data, não podemos incorrer no erro dos puritanos que no afã de não incorrer no erro dos católicos e anglicanos, simplesmente aboliram a comemoração, não sem prejuízo para uma enorme geração de cristãos e também para o aumento do secularismo na sociedade. Hoje, devemos nos precaver também da tirania do mercado e do comércio tanto quanto do cometer erros doutrinários crassos, mas sem deixar com que nossos corações fiquem congelados pela indiferença. A primavera vem, um tempo que antecede o sol em zênite, Jesus Cristo, que do alto vem visitar-nos, como canta Zacarias no Evangelho de Lucas. E, enquanto isso, temos tempo para o degelo, para a mudança da paisagem, seca e sem vida, para a mudança da aridez para a pujança de vida nova. Desde agora, é tempo de ouvir a pomba que canta a alegria, isto é, o Espírito que fala à Igreja por meio da Palavra. É tempo de recuperar o primeiro amor, as primeiras obras e ir preparando o nosso coração para que a alegria espiritual seja uma marca evidente de nossa vida, uma vez que é uma ordenança e uma experiência: “alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4.4); “Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração” (Sl 32.11); “Exultai no Senhor toda a terra; exclamai e alegrai-vos de prazer, e cantai louvores” (Sl 98.4) e ainda: “Este dia é consagrado ao nosso Senhor. Não se entristeçam, porque a alegria do Senhor os fortalecerá" (Ne 8.10). Roguemos a Deus irmãos e amigos que setembro traga consigo também uma primavera de santidade e de alegrias espirituais. Que saibamos aproveitar o tempo para aquecer os nossos corações com o calor e o consolo das Escrituras para que chegando os dias da festa, nossa alma se regozije nas coisas do alto e assim um sentimento de plenitude de vida invada a nossa vida livrando-nos do vazio existencial.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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