Sei que muitos ao se depararem com esse título nem desejarão mais ler o artigo que segue. Não me espanto com isso. E, como a maioria dos que pareciam os meus textos são cristãos, é justamente entre esses que se encontra o maior número de desertores. Muitos de meus colegas pastores devem estar agora mesmo perdendo a paciência e até a caridade para comigo. Não os culpo de maneira alguma e compreendo perfeitamente a reação a este título. Desde a Queda, evidentemente, mas sobremaneira nos últimos tempos, essa mentira de que devemos ser felizes custe o que custar e que a única razão pela qual estamos aqui é para sermos felizes, (então você tem direito a essa felicidade), faz parte do cotidiano de muitos cristãos e de muitos pregadores. Uma visão excessivamente humanista, centrada apenas nas necessidades e nos anseios do homem, que desde a modernidade, proclama a sua autonomia, também influencia a nossa teologia e a nossa leitura das Escrituras. Essa visão humanista ela é antropocêntrica, isto é, coloca o homem no centro de tudo, coloca o homem como aquele que tem desmedidos direitos sobre tudo e, portanto, o sentido da vida é ser feliz, ter, usufruir, gozar, satisfazer-se e etc. Por isso mesmo, na teologia contemporânea e em muitos contextos evangélicos tudo é meticulosamente pensado no bem estar dos frequentadores. As músicas, letras, melodias e ritmos, são especialmente planejados para entreter, emocionar e promover os desejos dos que ouvem e cantam. Na verdade, poucas são as letras que cantam as glórias de Deus, a sua majestade, o seu poder e a sua graça. Antes, o que é louvado são as vitórias e as conquistas humanas ou a projeção e a cobiça do homem em sempre querer ter o que não possui. O que dizer das pregações? Fortemente ‘psicologizadas’. São escolhidos temas para não só massagear o ego, mas também temas que podemos encontrar com muita facilidade nos cursos de ‘coach’ ou mesmo nessas preleções motivacionais e de autoajuda. Quase não se tem espaço para magnificar o plano da salvação estabelecido pelo Pai e executado por Cristo na obra da redenção. A cruz é hoje em muitos ambientes cristãos uma palavra amaldiçoada, proibida até. Tribulação, tentação e outros temas afins, se abordados o são para justificar uma derrota pessoal em face de uma desobediência ao que determinara o pastor, líder e seja lá quem for. Dentro dessa cultura que exalta o homem, as igrejas capituladas pelo secularismo, têm como o centro do seu ensinamento o postulado: Você merece ser feliz! Mas, não é verdade. A Bíblia não se trata do homem, não se trata de nós num primeiro momento. A Bíblia tem o seu centro e a essência de sua mensagem em Deus. Quem Ele é, o que Ele fez e como ele fez e o que Ele faz ainda hoje e como e por meio de quem ele o faz. É verdade, a Bíblia revela muitas coisas sobre o homem, de fato, o homem foi feito para ser feliz. Criado para ser eterna e perfeitamente feliz, sem coisa alguma que o pudesse aborrecer. Mas, desgraçadamente ele perdeu essa condição na Queda e de lá pra cá, nenhum homem ou mulher nascido neste mundo tem o direito à felicidade. Todos são pecadores e ofenderam Àquele, justamente Aquele único que poderia dar a felicidade plena. Desde então, todos estamos encerrados em maldição e debaixo de sua ira. E, mesmo sendo inimigos declarados d’Ele, uma vez que pensamos em como nos agradar e satisfazer-nos, Ele continua mostrando a sua grandeza, majestade e amor, preservando-nos a vida e não deixando-nos ser consumidos em sua justa ira. Mesmo não crendo nele ou a Ele obedecendo e amando, ainda sim Ele nos permite e ainda providencia todas as coisas para o nosso bem. Mas, não porque merecemos, e sim porque Ele é bom e o que temos não é mérito, é graça. Então, não se trata de nós e sim d’Ele, que ainda ofendido, negado, esquecido, blasfemado, desobedecido e não amado, continua gracioso. Entretanto, essa vida não é tudo o que há. Esses dias hão de passar inevitavelmente, ainda que você tenha tido uma vida boa, ela não será sem consequências eternas. Então, se não temos o direito a felicidade, significa que nossa situação ainda pode e vai piorar. O que precisamos antes de ser felizes é sermos reconciliados com Deus e isso se chama salvação. E essa é outra coisa que também não merecemos, mas que também nos é ofertada de Graça. Essa Graça é Cristo. Só n’Ele, por meio d’Ele é que o Pai nos aceita e somente com Ele, Cristo, somos então beneficiários, herdeiros de toda felicidade, bem aventurança e gozo. Não porque merecemos, mas por graça que nos chega pela fé.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro do Evangelho da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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