Cerca de sessenta pessoas tomaram a sessão da Câmara Municipal da noite de ontem, terça-feira, engrossando as manifestações que nasceram na capital paulista contra a majoração no valor da tarifa de R$ 3,00 para R$ 3,20, organizado pelo Movimento Passe Livre, e como um rastilho de pólvora, tomou conta das capitais brasileiras e avança para as cidades interioranas e ganhou uma larga pauta de reivindicações, como corrupção, impunidade, PEC 37, o aumento dos homicídios, os gastos com os estádios para a Copa, IDH brasileiro, a qualidade das escolas e hospitais públicos, enfim, todas as mazelas sofridas por um povo que se apresentava anestesiado.
Os organizadores, que por estratégia do movimento, não querem assumir a liderança e nem estabelecer porta vozes, está mobilizando os participantes pela Internet e organizam um protesto para sábado, 22, a partir das 10h30min na Praça Bernardino de Campos, para cobrar soluções para os problemas do município.
Na sessão de Câmara, o principal alvo das manifestações era o projeto do poder executivo que criava a secretaria de Desenvolvimento Econômico e elevava os diretores de quatro secretarias à condição de Secretários, resultando em mudança na faixa salarial em torno. Havia, também, um movimento de buscar a redução nas tarifas dos ônibus coletivos.
O prefeito Paganini, atento ao movimento, optou por retirar o projeto de lei dos secretários. A tarifa dos ônibus, que já era discutida com a empresa por conta da desoneração publicada em 1º de junho zerando as alíquotas do Cofins e PIS, anunciou ontem, antes, da sessão, a redução das passagens em R$ 0,10. Paganini em contato com a redação do PCI esclareceu: “Com a exclusão do PIS e Confis, a empresa tinha que repassar o montante que passará a economizar. Estávamos tratando desse assunto deste a publicação da Medida Provisória, ainda bem que enxergamos antes e tomamos as providências, senão levaríamos mais tempo para anunciar a redução, até a empresa fazer seus cálculos e previsões”.
As medidas tomadas por Paganini não foram suficientes para arrefecer os ânimos dos manifestantes, que passaram a sessão toda gritando palavras de ordens, interrompendo os trabalhos, provocando os vereadores. A manifestação foi eminentemente pacífica, salvo algumas palavras mais agressivas direcionadas aos vereadores como “malandros”, ”safados”, “vagabundos”... O Dr. Rafael a respeito das agressões verbais se limitou a dizer que todos os vereadores foram eleitos democraticamente e todos trabalhadores.
A postura dos vereadores, diga-se de passagem, foi bem diferente em movimentos anteriores, quando manifestantes tomaram as dependências da nossa casa de lei, que chamou a polícia militar e a guarda municipal para garantir a “segurança e a ordem”. Em nenhum momento os vereadores fizeram qualquer comentário ou responderam agressivamente ao manifesto. Os vereadores Marquinhos, Rafael, Cesar e Água Suco chegaram usar a tribuna para tentar estabelecer a abertura do diálogo, perceberam a total impossibilidade e encerraram suas falas, que apesar do clima, não foram duramente hostilizados. Depois de suspender temporariamente a sessão, o presidente Carlinhos Sartori encerrou os trabalhos alegando falta de condições.
O movimento que se espalha pelo país tem semelhanças com a chamada “primavera árabe” que provocou uma onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe que eclodiu em 2011. A raiz dos protestos foi o agravamento da situação econômica dos países e pela falta de democracia. A população vivia – e ainda vive - com altas taxas de desemprego, custo elevado dos alimentos e más condições de vida. A onda atingiu Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmem e Barein. Ditaduras foram derrubadas, eleições aconteceram e a democracia, apesar da ascensão de partidos islâmicos, começa a dar sinais de vida. Uma das características do movimento foi justamente a ausência de lideranças e toda articulação se deu via mídias sociais como Facebook, Twitter e YouTube.
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