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Itapira, 22 de Novembro de 2024
Notícia
26/11/2011 | Mulheres podem ter múltiplos maridos?
Freakonomics

Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt

Nós solicitamos recentemente perguntas para Mara Hvistendahl, colaboradora de nosso podcast "Freakonomics Radio" e autora de "Unnatural Selection: Choosing Boys Over Girls, and the Consequences of a World Full of Men" (seleção não natural: a escolha de meninos em vez de meninas e as consequências de um mundo cheio de homens, em tradução livre). Abaixo, Hvistendahl responde algumas de suas perguntas.

P: Parece que a Ásia pode vir a precisar adotar a poliandria, onde as mulheres têm múltiplos maridos. 

Mara Hvistendahl: A única sociedade que consigo lembrar onde isso existe é em uma pequena cultura do Himalaia, apesar desse grupo praticar na verdade a poliandria fraterna, que envolve o casamento da mulher com todos os irmãos de outra família. Essa prática existe, em parte, para impedir a divisão das terras entre os irmãos.

P: Não é preciso dizer, a mulher fica em má situação independente do tipo de poliandria sendo praticada, já que precisa realizar o trabalho doméstico para todos os seus maridos.

Mara: Você tem razão; a poliandria fraterna é historicamente praticada no Tibete. Mas ela não existe apenas em isolamento. A disseminação que você prevê já ocorreu. A poliandria fraterna está em ascensão em lugares onde nunca foi culturalmente aceita. Casos de mulheres casadas com vários irmãos foram relatados tanto na China (fora do Tibete, entre os chineses han) e na Índia. A poliandria não é comum, mas ocorre com bastante frequência a ponto de um perito em tráfico vietnamita, que entrevistei, ter me dito que ela conta com uma estrutura diferente de preço. (Uma mulher que deve dormir com mais de um homem tem um preço mais alto.)

A poliandria talvez seja um dos efeitos mais terríveis do desequilíbrio de gênero. No meu trabalho, eu entrevistei várias noivas compradas e passei bastante tempo com os ativistas que lutam para protegê-las. Nenhuma considerou divertido ser casada com múltiplos homens.

P: Há exemplos históricos de desequilíbrios de gênero entre as populações? Em caso afirmativo, o que os causou? A única coisa em que consigo pensar seria o infanticídio. Se as sociedades experimentaram desequilíbrios de gênero no passado, qual foi o resultado?  Um aumento da criminalidade parece uma possibilidade muito séria. Isso aconteceu no passado? Se for caso, um aumento da agressão pessoal leva a um aumento da agressão da sociedade, isto é, guerra?

Mara: O mundo nunca viu um desequilíbrio na escala em que estamos vendo hoje, onde há cerca de 160 milhões de mulheres a menos do que deveria na Ásia. Esse número é maior do que toda a população feminina americana. Nós também nunca vimos a proporção dos sexos alterada antes do nascimento; o poder de moldar a reprodução dessa forma tem apenas poucas décadas. Dito isso, a história nos diz algumas coisas a respeito do que acontece quando um sexo supera significativamente em número o outro.

Em momentos no passado, os padrões de migração resultavam em populações em que o número de homens superava significativamente o de mulheres (pense nas sociedades que viviam em qualquer zona de fronteira). O infanticídio feminino também foi praticado várias vezes na história da sociedade chinesa e indiana, apesar de nunca na escala do aborto seletivo atual. Eu não chegaria a dizer que a existência de mais homens leva a mais guerras, mas uma desproporção de sexos que pende para os homens tende a aumentar a incidência de crimes e distúrbios. Por todo o mundo, os homens são responsáveis por mais crimes e crimes violentos do que as mulheres –e os homens jovens não casados apresentam uma probabilidade muito maior de cometer crimes como homicídio do que homens casados da mesma idade. O exemplo do Velho Oeste americano diz muito. Em 1870, os homens superavam em número as mulheres em uma proporção de 4 para 1 em alguns Estados do Oeste americano. Os índices de homicídios foram às alturas, o consumo de álcool era desenfreado e casas de jogos e saloons prosperavam.

P: Tentando pensar freakonomicamente, e sem ter lido "Unnatural Selection", minha sensação é de que qualquer discussão sobre as consequências de um desequilíbrio de gênero em favor dos homens precisaria levar em consideração como isso se desenrola nos países, como a Arábia Saudita, onde os homens podem ter mais de uma esposa. Em outras palavras, o que acontece nas culturas onde a escassez de mulheres é resultado não da taxa de natalidade, mas de costumes sociais? As consequências são as mesmas?

Mara: Há poucos paralelos entre a Ásia e o Norte da África. Nos últimos anos, uma grande proporção de homens jovens norte africanos permanece não casada. (Para deixar claro, a baixa taxa de matrimônio é resultado do desemprego elevado –um homem desempregado tem dificuldade em acumular o capital necessário para atrair uma esposa– não da poligamia.) No Egito, por exemplo, o último levantamento aponta que 50% dos homens com idades entre 25 e 29 anos não são casados. Esse é um número imenso para uma sociedade tão concentrada na família. E alguns acadêmicos argumentam que essas taxas baixas de matrimônio resultaram em uma população de homens jovens facilmente influenciáveis –o que ajudou a abrir caminho para os levantes da Primavera Árabe.

(Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores de "Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo Que Nos Afeta" e "Superfreakonomics: O Lado Oculto do Dia a Dia". Para mais a respeito de Freakonomics, visite o site Freakonomics.com)

Tradução: George El Khouri Andolfato
 
Fonte: Freakonomics

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