A creche “Wilma Amâncio de C. Mituzaki” localizada no Jardim Raquel, mantida pela municipalidade, colocou Itapira na lista dos acontecimentos abomináveis. Uma criança de 10 meses foi queimada, sob a guarda e responsabilidade dos educadores da instituição.

Segundo as apurações preliminares pelas equipes da EPTV e do PCI, a fato ocorreu na tarde do dia 28 de junho. A mãe deixou o filho na creche e foi preencher uma ficha de trabalho. No final do período, a retirada cabia ao pai. Na entrega, ele foi questionado sobre os ferimentos, insinuando que as queimaduras teriam ocorrido antes da entrada. Naquele momento, o pai desorientado, foi tranqüilizado de que a criança estava bem.

O pai foi para casa, com o filho no colo. Lá chegando, ao tentar saber da esposa o que tinha acontecido, foi surpreendido com o desespero da mãe. A criança tinha sido entregue, por ela, na creche sem qualquer ferimento ou arranhão.

No dia seguinte, o casal procurou a creche para saber o que tinha acontecido. Primeiro foi um jogo de empurra-empurra, ninguém sabia dizer o que tinha ocorrido. Mas no final da conversa, foi sugerido aos pais que não levassem a denuncia em frente, pois poderia chegar ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público, onde as coisas poderiam ficar complicadas para todo mundo. Foi aventada a hipótese de que funcionários da creche poderiam ser demitidos e até, quem sabe, a mãe perder a vaga para o ano que vem. Como os pais bem sabem da dificuldade de conseguir a matrícula para poderem trabalhar e como a criança estava aparentemente bem, optaram pelo silêncio.

Mas o comentário correu o bairro, rapidamente. Não demorou em chegar aos ouvidos investigativos de Adilson Fernandes. O repórter policial tirou fotos e filmou as queimaduras. Mas não levou adiante, não passou para a imprensa e nem comentou no seu programa de rádio, pois a família da criança não se dispunha a levar a denuncia em frente.

Os dias foram se passando, a creche também em silêncio, não levou o assunto para as esferas superiores, talvez esperasse o dito pelo não dito. Os vizinhos revoltados e preocupados com a possibilidade de novas ocorrências começaram a fazer barulho, a espalhar de casa em casa, até que o assunto viesse para o centro da cidade no início da noite de sábado. O Portal deu a notícia em primeira mão, ontem, domingo. Hoje, foi a vez da Radio Clube, no programa diário de Adilson Fernandes. A EPTV pautou a matéria para esta segunda. Noticiou nas duas edições do jornal Regional, ganhando destaque nas chamadas que antecedem o telejornal.

Ao tomar conhecimento, a secretária de educação, Ana Peruche, abriu sindicância, afastou as duas educadoras responsáveis e solicitou uma vistoria nos chuveiros da instituição. O técnico não encontrou problemas, mas por segurança o aparelho foi substituído.

A secretária afastou a probabilidade de que as queimaduras possam ter se originado no chuveiro. Aparentemente, os ferimentos não parecem feitas por água quente. No entanto, considerando que as queimaduras ocorreram em três regiões diferentes, costas, mãos e cabeça, pingos quentes continuam sendo os principais suspeitos. Mas essa é uma questão, que a perícia médica poderá esclarecer, assim que for solicitada.

Entre fatos e boatos, algumas perguntas deverão ser respondidas:

1)     Por que a Secretaria da Educação não foi informada da ocorrência no momento em que ela se deu?

2)     Se houve a comunicação, por que não foram tomadas as providências cabíveis?

3)     Onde a criança foi primeiramente atendida?

4)     Por que quem atendeu não fez a ocorrência?

5)     Por que a família não procurou o Hospital Municipal ou a Santa Casa?

6)     Por que a família não levou o caso para o Conselho Tutelar e nem registrou BO?

7)     Por que o chuveiro foi retirado, se estava funcionando bem?

8)     Por que a secretária não informou o que foi apurado na conversa mantida hoje com as duas educadoras.

9)     Por que a criança não foi retirada do local após os primeiros pingos, como o choro de dor denunciante?

10) O quadro de funcionários da creche atende aos mínimos exigidos, em função do tamanho da clientela, para esse serviço?

Caberá ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público buscar essas e outras respostas para esse lamentável episódio, para que sirva de lição e jamais volte a repetir.

A instituição, uma das maiores da cidade no segmento, atende 120 crianças menores de quatro anos. Ela tem o nome de uma grande pediatra itapirense, Wilma Amâncio de C. Mituzaki, que certamente, no céu, deverá estar condoída e inconformada, assim como todos os itapirenses.