O ex-presidente Nelson Mandela morreu aos 95 anos. Sepultado, neste domingo, na aldeia de Qunu, local que ele escolheu para ser enterrado por ter passado ali a sua infância. Batizado como Rolihlahla, nome que no entendimento da tribo Xhosa - da qual Mandela pertencia - significa “aquele que ergue o galho de uma árvore”, “aquele que agita”. E ele agitou.
Esteve preso durante 27 anos por lutar contra a discriminação racial - contra o “apartheid” - acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo. Quando saiu da prisão, em 1990, foi ovacionado por uma multidão que o aguardava fora do presídio. Em 1993 recebeu o prêmio Nobel da Paz. Em 1994 foi eleito presidente da África do Sul, finalizando três séculos e meio de dominação da minoria branca. Até 2008, o nome Nelson Mandela integrava a lista de terroristas dos Estados Unidos.
Transformou-se no político mais admirado do mundo.
Ogari de Castro Pacheco não é, nunca foi e, pelas recentes declarações, nunca será político. Escolheu ser empresário. Foi médico da Santa Casa por vinte anos. Encara há mais de quarenta a luta empresarial. Transformou o pequeno laboratório de 1972 em um dos maiores da América Latina, além de se apresentar como a farmacêutica brasileira mais avançada em pesquisa de princípios ativos.
Nesta sexta-feira, enquanto ouvia as respostas do Dr. Pacheco na coletiva concedida no salão nobre da Santa Casa de Itapira, veio Mandela à minha cabeça. A instituição centenária, queiramos ou não, está envolta, faz tempo em brigas políticas, em jogos de interesses corporativos, em denúncias de abusos administrativos e operacionais e tantos outros dissabores. Nesse tempo, o itapirense, apesar do vínculo umbilical com a entidade, foi se afastando, ora não usando seus serviços, ora não mais colaborando com as suas ações beneficentes. Os empresários de outrora que destinavam gordas verbas, desapareceram. Virou várias clínicas particulares, transformando a mãe Santa num verdadeiro saco sem fundos. Quem poderia ajudar a Santa Casa se ela não estava ajudando quase ninguém?
O que fez Pacheco? Saiu das suas atividades empresariais habituais - e do merecido conforto da estabilidade conquistada - para encarar um problema com quase meio século de existência. Um hospital que mal produz para pagar os juros dos empréstimos contraídos e receita declinante. Cuidadosamente, aplicou um raio-x e levantou os problemas, detectou os ralos e apresentou uma ideia incontestável para recolocar a Santa Casa nos eixos.
Convenhamos, as ações administrativas apresentadas por ele, mesmo inovadoras, são obvias e naturalmente esperadas quando oriundas de um grande empresário como ele é. Mas Dr. Pacheco fez mais do que isso, associou a competência que tem com o espírito conciliatório. Determinou que o passado não entrasse nessa pauta, que não houvesse caças às bruxas e nem se estabelecesse qualquer responsabilidade pelo estado financeiro da instituição. Sabe, de antemão, que a guerra nem sempre leva à melhor vitória. Quer o fazer, daqui pra frente, recuperando a vida de um hospital que salvou milhares de vidas. E que merece ser salvo, também.
Assim como Mandela, Pacheco usou a paz para guiar o caminho do desafio. Limitou-se, a dizer que daqui para frente, quem quiser continuar trabalhando na Santa Casa, vai continuar trabalhando na Santa Casa. E quem não quiser continuar trabalhando por lá, prestando serviços dignos e adequados, que procure outro lugar para ganhar a vida.
É a inteligência em ação. Tolerar as escorregadelas de um passado nebuloso é possível, mas estendê-las a um futuro transparente, nem pensar.