Esse tal de Amarildo parece que está tentando complicar vida do governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral. O sumiço dele pegou carona nas manifestações e ao que tudo indica o questionamento disso não se resumirá a vinte centavos.
Cabral vem sofrendo com manifestantes próximos à sua residência, em desassossego. É certo que tem gente usando essas oportunidades em busca de retorno eleitoral ou de interesses escusos, mas é certo também, que nem todos estão nisso para vandalizar e amedrontar a população em relação aos movimentos populares. Nada ocorre sem motivos!
Afinal, o que esse Amarildo Dias de Souza, de 47 anos, pensa que é? Trata-se de um ajudante de pedreiro, morador da Rocinha, a maior favela do Rio Janeiro, dizem, pacificada. O relatório policial conta que esse sujeito foi detido porque parecia com um criminoso, que as investigações também não descartaram a hipótese do envolvimento dele com o tráfico de drogas. Para a família ele desapareceu quando foi levado por PMs para a sede da UPP, dentro da favela. A polícia garante que Amarildo foi liberado depois da verificação, mas as imagens captadas por duas câmeras na Rocinha colocam em xeque a versão sobre o trajeto que Amarildo teria feito ao deixar a UPP. Os equipamentos não registraram a saída do desaparecido no portão principal da unidade e nem pela escadaria, outro acesso à unidade.
No Rio, vários movimentos ocorreram e devem continuar ocorrendo até que o poder público ofereça respostas a esse desaparecimento. Em São Paulo, já estão sendo organizadas concentrações em apoio aos cariocas e à causa questionada: cadê o Amarildo?
Penso que essa bandeira venha a ser traduzida, mais tarde pela história, como a mais significativa desse período movimentado. Desta vez, o que se pede, não envolve discussão parlamentar, nem aprovação dos órgãos técnicos e muito menos recursos que estejam disponíveis para aplicação imediata. Pede-se a valorização da vida. Pede-se que o poder público cumpra com o seu dever principal.
Nem é preciso dizer que este país trata pobres e ricos desigualmente, talvez sejamos coniventes: carecas de saber, o problema persiste. Nem dou a essa desigualdade qualquer relação às questões econômicas ou sociais, mas ao direito básico que é o respeito à vida. É notória a diferença aplicada pelos policiais e justiça, sistema de saúde e educacional, e até pela imprensa quando ricos e pobres são envolvidos em ocorrências policiais de qualquer natureza. O barulho e a rapidez das ações quando tem rico na jogada funcionam quase como no primeiro mundo, mas quando tem pobre na parada, nos igualamos às nações menos desenvolvidas do planeta. Vale a penas lembrar, também, a preocupação diferenciada na divulgação de nomes, quando tal informação não interessa ao envolvido mais endinheirado. O que é bom para uns, deveria ser bom para todos.
Para esse tempo de sumiço do Amarildo de Souza mistérios não faltam. A PM do Rio tenta colocar que o ajudante de pedreiro foi morto por traficantes de drogas, ligando o desaparecido ao tráfico, caracterizando-o como bandido, e tirando, assim, a culpa dos ombros dela. Tudo bem! Não está colando. Suponhamos que a PM carioca tenha razão nas suas elucubrações: pode ela tentar subverter a opinião pública antes de oferecer provas concretas daquilo que realmente aconteceu? É evidente que não. Em qualquer situação, a responsabilidade é do Estado. Amarildo - nem ninguém - deve sumir, sem mais nem menos.
O fato novo que se tipifica é que a população, ou parte dela, mostra que a versão não cabal da polícia não é mais suficiente para justificar o descompromisso do Estado com a vida humana. Puxa! Como isso é importante! Um sentimento que não vai parar por aí!
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