No final do mês de abril deste ano, a Prefeitura de Campinas, pressionada pela população desassistida, lançou um programa chamado “Dr. Plantão” para contratar 100 médicos plantonistas para a rede municipal de Campinas. O prefeito Jonas achava que para atrair os profissionais de medicina bastava pagar mais, ofereceu para uma carga horária de 12 horas, valores diferenciados e atraentes: de segunda à sexta-feira, pagamento de R$ 921,59, para os finais de semana, R$ 1.230,58 e, para os feriados de Natal e Ano-Novo, R$ 1.810,92. Nada mal, não é mesmo? Para um médico que trabalhe 10 dias, folgando o resto do mês, incluindo todos os finais de semana, um contracheque de R$ 9.215,90. Alguém diria que se trata deu uma má remuneração para o padrão brasileiro? Para quem não sabe, o CAGED informa que salário médio do brasileiro no primeiro trimestre deste ano ficou em R$ 1.166,84.
Assim que o referido programa foi lançado, o pronto-socorro municipal de Itapira sofreu com a redução de médicos e com o aumento das reclamações. Dizia-se, então, que Campinas, ao oferecer propostas mais atraentes, poderia estar tirando alguns médicos plantonistas de nossa cidade. Pois é, nesta semana, a ausência de médicos nos prontos-socorros pode não ter origem apenas no campo financeiro, mas na preferência ao público a ser atendido. O programa campineiro, apesar de remunerar igual ou até melhor que muitos convênios de saúde, viu 17 médicos serem contratados dos 100 desejados. A mesma situação vem sendo verificada em muitos municípios brasileiros.
É fato, dos problemas do sistema unificado de saúde oferecido aos brasileiros a maioria está concentrada nos prontos-socorros, mais pela falta de médicos do que pela estrutura oferecida. Se há noticias de pessoas atendidas nos corredores dos hospitais por conta do acumulo, há informes de bem montados ambulatórios em que médicos não se apresentam para trabalhar.
A cada dia me convenço mais. Os problemas relacionados à saúde no Brasil não podem ser atribuídos, exclusivamente, aos governantes. Passa pelo controle profissional de mercado exercido pelas entidades médicas representativas que levou o país a formar menos médicos do que precisa. Passa, provavelmente, pela origem cultural e social dos formandos em medicina que deve criar dificuldades de convivência com as pessoas pobres, principalmente, nas localidades mais distantes ou pela violência.
Seria muito bom se a saúde brasileira dependesse apenas da boa vontade dos governantes. Assim fosse, saberíamos que quando essa boa vontade aparecesse, nossos problemas estariam resolvidos. Entra governo, sai governo, o problema permanece, quando não piora. A saúde virou um saco sem fundos. Por isso volto à tecla. Existem casos que se a sociedade não colocar a mão na massa, nada feito.
Na saúde, devemos atacar, de cabo a rabo: o aumento no número de vagas nas faculdades, a melhoria da condição social do povo brasileiro, a redução da criminalidade, a preocupação com a segurança social, o cuidado com o meio ambiente...
Como se vê, falar mal do governante é tarefa fácil, dá a entender que os problemas podem ser resolvidos num passe de mágica. Está mais do que na hora de atacar os governos e a sociedade na parte que lhes cabe nesse latifúndio.
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