Dizem que estamos próximos do fim do mundo. Não acredito. Acho que vai demorar pelos menos cinco bilhões de anos para isso acontecer. Além dos prenúncios religiosos catastróficos, parece que a humanidade, por conta da tecnologia e da revolução dos costumes, vive, constantemente, a prévia do apocalipse.
Indícios não faltam. Peguemos um deles: o uso do celular, hoje intimamente ligado à rede de alcance mundial, tem pessoas que não querem qualquer relação com essa geringonça. Por outro lado, crianças, adolescentes, jovens e adultos são fissurados por esse instrumento de comunicação. Há quem diga que o celular seria o bezerro de ouro dos tempos modernos.
A revista "Time" entrevistou cinco mil consumidores de tecnologia móvel no Brasil, nos EUA, na China, na Índia, na Indonésia, na Coreia do Sul, no Reino Unido e na África do Sul, recentemente, e constatou que 79% das pessoas ouvidas têm dificuldades para viver sem o celular. Na China e na Indonésia, esse número chega aos 90%. Entre os brasileiros, 35% consultam o celular a cada dez minutos ou menos e 74% dormem com ele na cabeceira. Um comportamento considerado, pela maioria, como absolutamente normal. Será?
O medo de ficar longe do celular já recebeu a classificação de "nomofobia", uma dependência patológica que pode produzir alteração da respiração, angústia, ansiedade e nervosismo.
Anna Lucia Spear King, doutora em saúde mental e pesquisadora do Laboratório de Pânico e Respiração da UFRJ, comparou pessoas consideradas sadias com pacientes de síndrome do pânico. Entre os "saudáveis", 34% afirmaram experimentar alto grau de ansiedade sem o telefone e 54% disseram ter "pavor" de passar mal na rua e não ter o celular.
Nas famílias brasileiras, enquanto alguns pais demonstram grande preocupação com o uso excessivo dos aparelhos móveis pelos filhos, outros são ferrenhos defensores e lhes atribuem alto grau de direito quanto à utilização. Ai de quem questionar se os seus filhos devem ou não usá-los fora de casa, inclusive, nas escolas, durante as aulas, a qualquer momento.
A pesquisa demostrou que o Brasil é o país mais liberal quanto ao acesso dos adolescentes à tecnologia móvel. Enquanto a média mundial aponta 13 anos para que uma criança tenha o seu aparelho, no Brasil a idade mínima indicada foi de 11 anos. O IBGE, oficialmente, publicou no final do mês passado um relatório que aponta que entre 2009 e 2011 o número de usuários com mais de dez anos ou mais aumentou em 23%. A faixa de 10 a 14 anos lidera a estatística com 12,6% e na de 15 a 17, o aumento foi de 15,7%.
Os números parecem assustadores e continuam crescendo. Mas será que podemos classificar esses exageros como prenúncio do fim do mundo? Nem tanto. É chegada a hora de adoção de medidas de acomodação racional ao uso do aparelho. Lembremo-nos que a humanidade sempre reagiu assustadoramente às novidades importantes. Só nunca teve tanta tecnologia para fazer esse barulho. Vai passar!
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