Não sei se foi de caso pensado ou por mera coincidência, mas na semana que marcou os cinquenta anos do golpe militar, a Câmara Municipal de Itapira empossou o Parlamento Jovem. Uma iniciativa que não é vista, nem valorizada, pela população como deveria ser. Erramos!
A ditadura militar que foi instaurada com forte apoio popular e com o beneplácito da grande imprensa brasileira da época ainda tem seus defensores, que apelam para as conquistas econômicas. Faz-me rir! A inflação brasileira, quando os militares assumiram, era de 78%. Em 1983, mais de 230%. Os avanços tecnológicos e de infraestrutura, tão festejados, foram custeados por empréstimos interesseiros que nos levou, ao final da ditadura, a um endividamento na casa do US$ 100 bilhões e sem reserva internacional. Uma dívida, que atualizada, hoje bateria nos US$ 1,2 trilhões. Suamos sangue para honrá-la. Só para comparar, a dívida externa pública atual gira em torno dos U$ 120 bilhões, com as reservas em dólares ultrapassando os US$ 350 bilhões. E para completar esse breve resumo, a ditadura esvaziou a zona rural, superlotou as cidades despreparadas para tanta gente, acentuou as desigualdades sociais e trocou a qualidade por quantidade na educação pública. Enfim, mesmo que ainda se fizesse um esforço sobre humano para esquecer as atrocidades, a falta de liberdade e a institucionalização da corrupção, ainda sim, a morte do ímpeto da juventude continuaria sendo um crime inafiançável e imperdoável. Levou os nossos jovens a se distanciarem da participação política, cristalizando a letargia que os eximiu da tarefa transformadora da sociedade. Foi como se cortasse a nossa veia principal. As escolas, públicas e privadas, ainda não conseguiram reverter esse quadro. Um processo de apatia crescente.
A iniciativa da câmara é bem vinda e abre, no mínimo, uma janela para o futuro, quando oferece a oportunidade para que os jovens exerçam a atividade política, na casa mais indicada para esta função.
Cabe à sociedade se desenvolver eticamente, produzir cidadãos conscientes, para que dela saia os representantes que exercerão as funções políticas. Além de pertencer a um extrato social promissor e proativo, é fundamental que cada um de nós se prepare para respeitar as decisões da maioria, para lidar com os pensamentos divergentes e, sobretudo, para cuidar do dinheiro público e para absorver o principio das prioridades.
Às vezes nos deparamos com a impaciência que transparecem que patinamos para trás, mas que, por outro lado, nos omitimos, escolhemos mal, cobramos quase nada, pensamos no umbigo, esperando que as boas novas venham dos céus. É em experiências como o Parlamento Jovem que nós começamos a fazer a parte que nos cabe. Esperemos, que desta vez, ela continue nos anos seguintes. Nos anteriores, ficou a impressão de que o interesse dos vereadores era outro, a eleição deles.