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Itapira, 23 de Novembro de 2024
Notícia
02/09/2012 | Nino Marcatti: A gente merece um mundo mais colorido!

O povo do meu tempo de juventude deve lembrar-se de um programa da rádio Bandeirantes AM – naquele tempo FM não existia – comandado por um radialista famoso chamado Hélio Ribeiro. Um programa com boas músicas, mensagens cativantes, traduções dos grandes sucessos da língua inglesa que faziam a festa dos anos 70. Hélio Ribeiro com sua voz grave quase que hipnotizava os ouvintes e influenciava uma geração. Reverbera, até hoje, em minha memória a primeira tradução de Imagine, John Lennon cantando e Hélio Ribeiro traduzindo sem interferir na beleza e delicadeza da obra. Muitos, daquela época, devem se lembrar do início das músicas velhas, com dois ou três anos de gravação, Hélio dizendo: “onde você estava em 1968?” E uma musica de 68 rolava...  Hélio Ribeiro lia crônicas, histórias, transmitia pequenas mensagens dando-lhes um colorido especial. Uma vez ouvi, não dei muita importância, mas guardei a indagação: “não entendo porque nós ao menor barulhinho no motor levamos o automóvel correndo para a oficina e quando o nosso corpo anuncia que algo não está bem, vacilamos para procurar o doutor. Nosso carro tem revisões constantes. Qual foi a última vez que você foi ao médico para saber se tudo está bem com você?”

O tempo passou. Quarenta anos depois lá estava eu na fase das revisões obrigatórias fazendo periodicamente os checapes médicos. Passei parte do primeiro trimestre desse ano tirando sangue, enfiando tubos por todos os lados, lambuzando-me de gel, todos os exames solicitados. Nada seriamente detectado, graças a Deus, salvo uma recomendação de emagrecimento. Mas faltava a revisão dos olhos. Descobri a tal da catarata.

A catarata pode vir com o nascimento ou manifestar depois de um trauma ocular, mas em geral, o tempo é o grande vilão que apanha quase todo mundo. Faz o cristalino se tornar menos elástico, menos transparente e mais espesso, originando a partir dos 55 anos, o turvamento, variando o grau e a época, de pessoa para pessoa.

No dia do fatídico exame, como não sentia nenhum sintoma e ignorava totalmente o processo, levei o maior susto com o diagnóstico: afinal, para mim, catarata era doença de velho, bem velho. Assumi, com brevidade, a realidade. Descobri que a indicação do procedimento vem se antecipando, cada vez mais. Ninguém precisa ficar quase cego para executá-la. Há corrente que a sugere a partir dos quarenta anos. Marcamos a cirurgia do olho esquerdo.

Logo no primeiro dia com lente intraocular no lugar do cristalino esquerdo comecei a perceber que o branco que era visto pelo olho operado era mais branco do que o olho original. Até a água da torneira era diferente, com um olho, cristalina, com o outro, meio suja. Virou brincadeira. Tive a sensação de que o mundo não era da cor que eu enxergava até então. Era menos colorido. O tempo todo, em qualquer lugar, quando não tinha ninguém observando, eu tapava um olho, depois o outro: para olhar o céu, as nuvens, a Lua, as montanhas, as árvores, as fotografias, a televisão... Não via a hora de operar o olho direito.

Passado o tempo regulamentar, voltei para substituição do outro cristalino por uma lente novinha em folha. Saí do hospital, querendo ver, o quanto antes, o mundo do jeito que eu via, talvez, até os quarenta anos, quem sabe, como nos anos setenta. Um mundo muito mais colorido. Não me decepcionei. Estou me deliciando. Deus salve a medicina.

 

Fonte: Nino Marcatti

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