O ensino odontológico brasileiro e a realidade da política pública de saúde bucal
Antonio Carlos Crivelaro(*)
De acordo com Samuel Jorge Moysés, consultor do Ministério da Saúde do Brasil em Vigilância em Saúde Bucal, a odontologia brasileira é contraditória, pois ao mesmo tempo em que apresenta uma busca pela excelência técnica, esse benefício não chega a todas as camadas sociais. “As teorias/práticas odontológicas dominantes na sociedade brasileira, ao longo do século XX e início do do século XXI, não contribuem para resolver os problemas de saúde bucal da maioria da população, não obstante o grande número de cursos e de profissioanis da área lançados no mundo do trabalho a cada ano”.
Por sua vez, para Paulo Capel Narvai, professor titular da Universidade de S. Paulo USP)e chefe do Departamento de Prática de Saúde Pública, a dificuldade está em mudar a maneira como muitos professores de odontologia se comportam. “Enquanto o ensino contemporâneo requer a integração dos currículos com forte ênfase interdisciplinar e foco no aluno, a grande maioria de professores ainda segue apegada à cânones disciplinares. Isso acaba impondo limites importantes à criação e estimulando a acomodação e o conservadorismo. Os currículos são muito fragmentados, como se uma disciplina nada tivesse a ver com a outra, e isso provoca enormes prejuízos à formação, pois se perde inúmeras oportunidades de ampliar os horizontes e integrar a formação. Há, pelos menos, uns vinte cursos dos mais de 200 que temos no país, onde é evidente o esforço para fazer valer os princípios e valores apontados nas novas diretrizes curriculares, que são levadas muito a sério. Nesses cursos, há espaço para a ousadia da renovação e da invenção. Isso é, sem dúvida, um alento. Mas a maioria dos cursos é marcada por descompromisso e descrença em qualque mudança para melhor”, diz Navai.
Na visão do coordenador de saúde bucal do Ministério da Saúde, Gilberto Pucca, é mais prioridade aliar a formação do cirurgião-dentista à realidade da política pública de saúde bucal no Brasil. “Depois do Brasil Sorridente, o maior empregador na saúde bucal passou a ser o sistema público, e infelizmente ainda a maior parte das universidades forma um superespecialista precoce, quando o que precisamos é um clínico geral de excelência, que maneje instrumentos de planejamento e epidemiologia e conheça o que é o sistema de saúde no Brasil, esse profissional falta. A Coordenação de Saúde Bucal tem trabalhado em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), do Ministério da Saúde, no Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saude), e no Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), com o objetivo de aproximar a formação de graduação e as necessidades da atenção básica por meio da Estratégia da Saúde da Família, visando transformações do processo de formação, geração de conhecimentos e prestação de serviços àpopulação, e posso garantir, o Governo Federal neste quesito ainda vai ser mais ousado”
(*) Antonio Carlos Crivelaro é presidente da APCD Regional de Mogi Mirim