História dos Óleos Essenciais e Aromaterapia
Nossa história ancestral nos conta que desde os primórdios do tempo era na natureza que os homens encontravam todos os recursos e mistérios no reino vegetal. Era de lá que se retiravam tudo que necessitavam, desde alimento, remédios até a vestimenta e também abrigo. Não precisavam ser botânicos para observar e apreciar a magia, a energia e a diversidade do mundo das plantas. Para eles as plantas tinham poder mágico. Acreditavam que se pudessem dominar esse poder, poderiam ter controle sobre o futuro, curando, aliviando a infelicidade e o mais importante para eles, estariam em paz com os Deuses.
A fragância era o elo de ligação entre a mente, o espírito e os deuses. Pioneiros na arte da destilação foram os Persas, Egípcios e Indianos, há milhares de anos atrás, sendo que o primeiro registro que revela sua utilização, foi encontrado no Himalaia , a aproximadamente 3.000 anos a.C.
No antigo Egito, considerado o berço da Medicina, a utilização de plantas medicinais aromáticas, teve seu início mais ou menos entre 5 a 6 mil anos atrás, quando o incenso preenchia os ambientes do templo do Egito, onde farmácia e medicina deram seus primeiros passos. Foi ao redor do Nilo, que por um longo período de tempo, acontecia o intercambio das plantas , reconhecido como o Centro das Plantas Medicinais e que eram importadas dos jardins botânicos localizados em suas margens férteis e trazidos para esta área e que, consequentemente tornou-se o foco para a aprendizagem. Não só plantas foram trazidas para esta área, como também arbustos e árvores de pequeno porte, incluindo a Mirra, Cedro, Incenso, Canela, Nardo, ladanum e outras espécies, de terras como Iêmem, Líbano, Síria, Pérsia e Índia.
A compreensão egípcia destas poderosas substâncias, na sua maioria antissépticas naturais, indicam que percebiam as implicações para a higiene e a saúde. Uma das receitas mais famosas, direcionada à cura, foi o Kyphi – uma cópia foi encontrada gravada na parede de um laboratório de Edfu e identificada por Victor Loret em 1887, e continha 16 extratos de plantas e essenciais.
Sobre os óleos essenciais, cerca de cem prescrições de medicamentos foram registrados no Papyrus Ebers, mencionando seu uso e aplicações. 700 fórmulas mágicas e remédios populares para lidar com tudo, desde mordida de crocodilo a unhas doloridas nos pés, bem como indicações para manter a casa livre de pragas.
Em 1500 a.C a rainha Hatshepsut enviou navios para a Somália, para buscar 31 árvores de incenso – pinturas encontradas em um dos templos, mostra essas árvores, que foram adquiridas para sua produção de resina de Olíbano. Mas foi em 1240 a.C que se deu o êxito judeu do Egito: em seus rituais templários foram incluídas a utilização de resinas, mirra, incenso, e óleos contendo canela e cálamo, para unção. Colocavam cones perfumados sob penteados de modo que os aromáticos pudessem derreter lentamente na atmosfera quente do Egito.
O Egito não foi a única terra a desenvolver o uso de aromas para a religião e a medicina: cada civilização adotou seu próprio uso dos óleos aromáticos: Assírios, Babilônios, Judeus, Fenícios, chineses, Indianos, Gregos, Romanos e Cristãos – todos eles queimavam resinas em suas cerimônias religiosas, voltadas a purificação.
Na índia, na Medicina Ayurvédica, foi criado um sistema único e que nunca foi perdido, estando em uso contínuo por milhares de anos, podendo-se datar mais de 5.000 anos atrás até a atualidade, relatado em um dos mais antigos livros o “Vedas” e que menciona muitos materiais aromáticos incluindo sândalo, gengibre, mirra, nardo, canela e coentro. Relata também o uso desses materiais para a religião e a medicina.
Na Mesopotâmia , em Ninevah, é contada a história de um heroico rei do sul (mais ou menos durante o primeiro semestre do terceiro milênio a.C), que não queria morrer, consulta um sobrevivente do dilúvio para tentar aprender o segredo de evitar a morte. onde o Cedro é mencionado (foram encontradas partes da obra Epopéia de Gilgamesh , com relatos do uso dos óleos aromáticos), e seu uso direcionado para controlar os Deuses e torná-los agradáveis.
Na Babilônia – 1.800 a.C , menciona que o cedro, o cipreste e a mirra, foram importados do Egito naquela época.
Em Israel, durante o reinado do rei Salomão valorizavam muito o Frankinsence, a Mirra, a Canela da Índia e o Nardo. Caravanas comercializavam o Cedarwood (cedro) levando do Líbano para o Egito. O Frankincense (olíbano) e a mirra foram as mercadorias mais caras mais caras do oriente, junto com o ouro, foram ofertados como presente ao Menino Jesus. Dizia Salomão: “borrife minha cama com mirra”, para o deleite do sono e para suprimir as dores do sofrimento. Tempos depois este costume foi repetido por Plutarco, que apreciou o agradável aroma da mirra.
Foi na Arábia – entre os anos 800 e 1.300 – que os primeiros passos para a destilação do Óleo bruto começou. Desenvolveram técnicas químicas, relacionadas a destilação, permitindo que alguns óleos essenciais, de alta qualidade, pudessem ser extraídos das plantas.
No norte da África, até os dias de hoje, mulheres nativas árabes honram a tradição de se usar equipamento simples na cozinha, para a produção de águas aromáticas.
Avançando um pouco no tempo, Avicena, em seu “Livro da Cura” e “Canon da Medicina” – 1650 Montpellier revelam que muita importância foi conferida aos Óleos Essenciais , pois anteriormente eram considerados subprodutos indesejáveis para a preparação de águas aromáticas.
Na Alemanha, A Irmandade dos Monges Beneditinos, também cultivavam plantas aromáticas. Os monges beneditinos trouxeram tomilho e melissa da Itália para crescerem e florescerem nos jardins de Rupertsberg, em Bigen na Rhein, Alemanha, onde a abadessa Hildergard de Bigen cultivou Lavanda no século XII, não só por seu aroma mas um maior interesse pelas propriedades terapêuticas do óleo essencial.
Com a entrada do Renascimento, os óleos essenciais foram amplamente utilizados devido ao resultado da melhoria dos métodos de destilação e o progresso da química. Substancial gama de produtos para perfumaria e cuidados com a pele, como águas florais, bálsamos, pomadas e óleos aromáticos.
Mas foi a partir somente no século XX que uma nova visão chegou trazendo sinais de uma nova compreensão dos méritos dos óleos essenciais. Pesquisas começaram a ser feitas para a investigação das propriedades de cura dos óleos essenciais, quando René Maurice Gatefossé descobre por si mesmo o efeito de cura rápido do óleo de Lavanda sobre uma queimadura; surpreso com o resultado, dedicou-se por muito tempo ainda nas investigações científicas das propriedades terapêuticas de uma gama de óleos essenciais, onde o termo “Aromaterapia” foi cunhado, passando a ser amplamente utilizado.
E assim caminharam pela história, em busca de mais e mais conhecimentos sobre as plantas, intercambiando informações e mudas com outros povos e civilizações, registrando através de símbolos e desenhos, sua forma de comunicação, o que nos possibilitou o conhecimento de “como tudo começou”, e a maravilhosa e mágica história de nossa ancestralidade e de como as plantas se transformaram em remédios, aromas, cheiros, perfumes e poções mágicas, durante toda a história da humanidade.
Um pouco de toda essa magia ficou perdida no tempo, mas registros nos apontam que, no início do século XVI , Paracelso, o pai da Farmaquímica estudou a extração da “alma dos vegetais” (como chamava na época), e posteriormente batizou de “espírito”a essência e o Óleo Essencial.
Já Goethe (alquimista e poeta) mergulhou nas plantas em sua busca pela flor primordial enquanto Hannemann, no século XVIII criava a homeopatia, afirmando e reafirmando a importância das plantas, das flores e dos aromas. Na virada do século XIX para XX, Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, estabelece as relações fundamentais entre o homem e a planta. Nessa mesma época, nosso tão querido Bach, Edward Bach, pai dos Florais de Bach , médico Inglês, mergulha no maravilhoso mundo das plantas, em busca da harmonia e do equilíbrio da mente e do espírito, descobrindo a influencia das flores e dos aromas sobre o indivíduo.
Porém, coube a Reneé Maurice Gatefossé, químico francês, através do resgate da composição química natural dos óleos essenciais, após ter tido seus braços queimados durante uma experiência em seu laboratório e os ter mergulhado em um recipiente onde armazenava o Óleo Essencial de Lavanda, comprovar a eficácia do resultado positivo do Óleo e introduzir a palavra Aromaterapia em nosso vocabulário. Foi por volta de 1928 que o fato ocorreu e a comprovação se deu no momento do acidente , quando retirou os braços do tonel de Lavanda, percebeu que a queimadura não levantou bolhas e não sentia tanta dor. A partir daí mergulhou nos estudos sobre as propriedades dos óleos essenciais, onde descobriu que são mais ativos integralmente, do que seus componentes isolados.
Durante a 2ª Guerra, o Dr. Jean Valnet, servindo como médico, ficou sem antibióticos para tratar os feridos e, conhecedor dos Óleos Essenciais e seus efeitos (já havia estudado as pesquisas de Gatefossé), usou-os nos feridos, salvando assim muitos soldados.
A partir de 1948 dedica-se a provar que, a natureza e o uso dos óleos essenciais, em termos científicos e principalmente suas propriedades terapêuticas, tem especial valor na medicina do dia-a-dia. Quando algo não vai bem e isto é perturbador, a ação da Aromaterapia ajuda a lidar com a situação. Não se pode confundir saúde com doença. A própria Natureza está aí para nos sinalizar que a Aromaterapia veio para que possamos manter nossa saúde e bem-estar.
Não podemos dissociar Aromaterapia de uma série de outras fatores muito importantes e lembrar sempre que os princípios básicos de terapia, massagem, dietas naturais e nossa atitude perante a vida, são fatores primordiais que entrelaçam nosso bem estar. As formas tem relação com cores, odores, gostos ânimos, elementos, órgãos, plantas e doenças; tudo está perfeitamente encaixado. É sabido que as analogias nunca são perfeitas, mas permitem que vejamos a ordem do universo, a correlação entre coisas aparentemente desconexas, mas que na verdade falam de verdades ou vibrações. E como saber se as duas possuem as mesmas qualidades ou as mesmas vibrações? Por sensação. Somente a sensação, isto é, quando usamos “aquele” sexto sentido chamado intuição. Quanto mais o desenvolvermos mais seremos capazes de ver a ordem e a perfeição do universo e mais profundas e ricas serão nossas vidas.
“Hipócrates, nascido em 460ªa.C , dizia “o médico deve ter experiência em muitas coisas, mas é indispensável que o tenha em fricção, porque a fricção pode atar o que está solto e desatar o que está muito rígido”... , tornando-se assim o pioneiro em considerar a massagem com Óleos Essenciais uma terapia, difundindo-a entre a comunidade científica. Em suas prescrições médicas, eram administrados fumigações, massagens e banhos com sálvia, malva e cominho”.
Texto extraído de Aromacologia – uma ciência de muitos cheiros - Sonia Corazza 2010