Padre Pires
Desde a Alta Idade Média a figura do papa sempre foi cercada de pompa e circunstância. Mesmo com as reformas do Concílio Vaticano II as celebrações vaticanas continuaram majestáticas, reproduzindo muitos dos costumes e hábitos do antigo Império Romano. Porém, acima destas contingências históricas, a figura do papa merece respeito porque, entre outras coisas, ele mantém a unidade de milhões de pessoas com a mesma fé, na diversidade de culturas e costumes.
A exposição pública da figura papal é simbólica e estes símbolos têm repercussão. O jornalista Clóvis Rossi disse que estes símbolos só se tornam importantes quando se transformam em substância. Já o jesuíta espanhol Pedro Lamet, diretor da revista AVIVIR, lembra que o meio é a mensagem e as atitudes simbólicas do Papa Francisco estavam carregadas de conteúdo evangélico.
Sua postura diante do povo na Jornada Mundial da Juventude chamou a atenção de todos. Paramentos simples, aparato de segurança mínimo, linguagem coloquial, crítica contundente da sociedade baseada no consumo e no poder do dinheiro. Leonardo Boff, que foi silenciado pelos papas João Paulo II e Bento XVI disse ao jornal espanhol El País que Francisco "não é um nome, é um projeto de igreja. Uma igreja pobre, humilde, despojada do poder, que dialoga com o povo". O teólogo espera que Francisco "inaugure a igreja do terceiro milênio".
Há 122 anos o papa Leão XIII com a encíclica Rerum Novaram chamou a atenção para a exclusão social gerada pelo capitalismo. Desde então, com mais ou menos ênfase, todos os papas denunciaram a pobreza no mundo. Essa vertente profética de denúncia das injustiças e opção preferencial pelos pobres foi abafada por João Paulo II e Bento XVI. É alentador ver Francisco retomar essa dimensão profética de denúncia das injustiças sociais quando a concentração de renda e a opulência caminham de mãos dadas com a miséria e a exclusão.
Ele foi corajoso em suas posturas e seus discusos no Rio de Janeiro. Convocou os jovens a “criar problemas” em seus países e suas dioceses. Convidou-os a irem para as ruas com a cruz e a palavras de Cristo, que são desestabilizadoras. Indo para a periferia do Ro de Janeiro denunciou as injustiças de um mundo rico que mantém os pobres na marginalidade, como fez em Lampedusa na Iália com os imigrantes. Não teve medo de acusar a própria Igreja e pedir uma metanoia, uma conversão, uma mudança a partir de dentro.
Os pessimistas dizem que no fundo o papa é conservador e que uma verdadeira mudança nunca virá. Mas se com ele a igreja fica mais pobre, mais humilde, mais livre, menos pomposa, mais unida internamente e, especialmente, menos egocêntrica e de volta ao Evangelho de Jesus, são sinais revigorantes para o povo de Deus. Por tudo isso rezemos por Francisco, como ele sempre pede, e peçamos ao Senhor que o ajude a renovar a Igreja para que ela se torne cada dia mais serviço e menos poder.