“Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhaminha cedo, pela estrada
E que para de onde veio, volta depois,
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças, tinha só que ter rodas.....
A minha velhice não tinha rugas nem cabelos brancos......
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.”
Poesia dos Outros eus- Fernando Pessoa
Nas manhãs da vida, pelas estradas da existência, somos jovens, fortes, sentamo-nos como invencíveis, conquistadores, desbravadores, chiando como brado de guerra.
No meio dia da vida, já não somos mais tão fecundos, queremos uma sombra, uma pausa, um descanso......
Nas tardes da vida , pensamos pensamentos crepusculares, sentamos-nos sobre o material das conquistas e nos damos por vencedores, haveremos de usufruir da vitória, somos vencedores.
Nas noites da vida, nas rugas e cabelos brancos, sem a potência do utilitarismo, rodas não são mais necessárias, pensamentos celebrativos veem o significado profundo da nossa experiência terrestre e ao fim da noite, desejamos paz, um “fundo de barranco”, um retorno ao paraíso perdido.
O autor é Psicanalista e possui Especializações em: Mitologias (CEFAS), Sonhos e Símbolos (SPAG), Ópera e Psicanálise (Unicamp), Transtornos Psicossomáticos (S.N.H), Neurociências e Psicanálise (Soc. Psicanalítica de Campinas), Psicoterapia Psicanalítica de Grupo (CEFAS) e atualmente especializa-se em: Intervenção Psicanalítica nas Instituições.