Quando dei por mim, estava ali, sentado numa poltrona, na parte traseira de uma grande embarcação, o vidro era enorme, arredondado, onde eu podia ver a distância imensurável do oceano, sem mais nada, nem um prédio, uma casa, um automóvel, um bicho, uma gente.......nada, só horizonte e água, e eu com um olhar de Galileu espantado, admirava aquela paisagem.
Na poltrona ao lado, minha mulher, companheira de longa jornada, Sancho Pança deste Dom Quixote que já fez tantas insanidades mas, ela, sempre ali, apoiando, esperando.
Ao meu outro lado Luís, meu amigo de infância, um homem de conteúdo e do silêncio, nos entendemos pelo olhar, ao lado dele , sua companheira e minha mentora, Rachel aquela que enquanto demoro a pensar, ela decide, visão de águia para solucionar problemas.
Eu me sentia completo, protegido, amado e respeitado, tinha impressão que aquilo era um sonho, um devaneio crepuscular.
Queria eternizar aquele momento, mas não foi possível, assim tenho-o fortemente registrado em minha memória.
Eh! A mala de minha existência se enche cada dia mais de saudade, sinto falta de sentar na escada do Bazar da Elza e observar o sobe desce da Rui Barbosa, sinto o cheiro do pão da Lurdes, da gasolina do posto do João Coloço, do sabor da água com gás e groselha do Bar do Coli, do sorvete de limão do Bar da Dª Cida, da broa do Manelito........
Sinto dor visceral da falta do Dã e do Coloçinho, e alguns vizinhos como o Cacá e o Fubá, o Xico e a Xica Bambú e tantos outros.........
Saudade é uma força de sucção que me arranca pedaços e no entanto continuo a jornada.
Dª Elza, minha mãe, me faz uma falta louca, interessante é que ao passar do tempo, ao invés de ir esquecendo-a, estou caminhando para ela, com ela pulsante, vibrante como nunca em meu peito.
Dai, lembrei da Elba Ramalho cantando:
“É duro ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de REGRESSAR
Parece que vou mergulhar
Na felicidade sem fim”.
Post Scriptium: Você, querido leitor, que tem a felicidade de ainda ter sua mãe, pare agora de ler, saia agora, como está, correndo vá, abrace sua mãe, beije-lhe a testa, não diga nada, a não ser um “zilhão” de vezes a mesma frase: EU TE AMO.
O autor é Psicanalista e possui Especializações em: Mitologias (CEFAS), Sonhos e Símbolos (SPAG), Ópera e Psicanálise (Unicamp), Transtornos Psicossomáticos (S.N.H), Neurociências e Psicanálise (Soc. Psicanalítica de Campinas), Psicoterapia Psicanalítica de Grupo (CEFAS) e atualmente especializa-se em: Intervenção Psicanalítica nas Instituições.