Quando infante eu sempre assistia os filmes do Zorro, com seu criado mudinho, porem a cara do Sargento Garcia, seu rosto redondo com bigode “mexicano”, grandes olhos negros e um “ar de tonto”, se mantinha no emprego de policial mas curtia o Zorro como se fosse seu lado B, algo que ele nunca poderia fazer e adorava ver ser feito pelo elegante cavaleiro negro. O sargento vivia mergulhado na injustiça mas amava a figura correta e corajosa do herói mascarado.
Sancho Pança via-se diminuído por sua mulher dominadora e no fundo tinha um “desejo de poder”, queria ser proprietário e/ou comandante de uma ilha ou um estado. Em sua santa ignorância entrava no delírio cavalherisco do nobre fidalgo Don Quixote e fugiu de casa com ele no intuito de realizar seu desejo, prometido pelo sonhador. Bonachão e com ar de bobo segue o cavaleiro da triste figura, fiel e crédulo nas aventuras medievais.
Penso e percebo que sempre gostei de palhaços inocentes como “Arrelia”, adoro o Chaplin com seu andar saltitante e sua face com “olhar de cachorro” de “sem interesse”, a simplicidade do humano distraído das convenções sociais.
Um dia minha prima Simone me disse: “Gosto quando você faz “cara de tonto”, a gente não sabe o que você está querendo”.
Fiquei pensando........será que ela quis dizer o que Freud chamava de “estado de neutralidade”?
O que será que o Sargento Garcia, o Sancho Pança e o Charles Chaplin tem em comum? No que se parecem? Por que gosto deles?
Será que “parecemos” com aqueles que gostamos?
Será que ao sentirmos o peso dos anos, sem tantas ilusões não “voltamos” com a frase que o Sancho proferiu ao avistar sua casa no seu grande retorno:
“Recebe oh gente querida este seu filho, Sancho, que se não volta rico em ouro, volta milionário em açoites”.
O autor, Prof. Dr. Antonio de Pádua Colosso é PSICANALISTA e possui Especializações em: Mitologias (CEFAS), Sonhos e Símbolos (SPAG), Ópera e Psicanálise (Unicamp), Transtornos Psicossomáticos (S.N.H), O Desenvolvimento da Existência - Winnicott (S.N.H), Neurociências e Psicanálise (Soc. Psicanalítica de Campinas), Psicoterapia Psicanalítica de Grupo (CEFAS), autor do Livro Lara e Leonora.