O prefeito José Natalino Paganini (PSDB) fez na manhã desta sexta-feira, 25, durante pronunciamento feito na Rádio Clube, pesadas acusações contra o vice-prefeito Antonio Eduardo Boretti (PCdoB). Ele responsabiliza o ex-aliado por um suposto rombo encontrado nas contas do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos) do qual Boretti era o presidente até 19 de junho do ano passado, quando acabou exonerado depois de uma surpreendente decisão anunciada também nos microfones da emissora no dia seguinte, pelo próprio prefeito.
Na época, a crise gerada pelo referido episódio levantou diversas suspeitas de que o caso tinha conotações políticas. O próprio Paganini veio a público esclarecer o assunto argumentando que um episódio anterior, o do reajuste da tarifa de água que teria trazido desgaste à administração junto a alguns setores da sociedade local, tinha sido a causa da desavença que o levou a adotar aquela medida radical. Desde então o vice-prefeito sumiu de cena.
O engenheiro José Armando Mantuan foi designado para o posto de presidente da Autarquia, e em seguida, anunciou que uma auditoria interna nas contas do SAAE estava em andamento depois que foram encontrados indícios de irregularidades. Paralelamente corria, também por determinação de Paganini, um serviço de auditoria independente. Conclusões desta auditoria começaram a transpirar a partir de depoimentos de pessoas apontadas como responsáveis por supostas irregularidades, gerando ilações de que autoridades graduadas da atual administração teriam algum tipo de envolvimento.
Paganini, durante todo esse tempo, manteve-se calado sobre o assunto. Por isso causou certa surpresa sua manifestação de ontem e, principalmente pela forma agressiva com que se posicionou. Fez-se valer de termos duros como roubo, falcatrua e covardia ao se dirigir ao ex-presidente do SAAE, citando nominalmente também seu irmão, Flávio Boretti, ex-secretário de Esportes e Lazer durante a gestão Toninho Bellini e ex-presidente da Sociedade Esportiva Itapirense.
A origem do problema, segundo expôs Paganini, teria sido exatamente dois cheques que ele teria emitido, a título de patrocínio ao clube que disputava a série A-3 do campeonato paulista, no valor de R$ 10 mil cada um. Disse que, alertado por um funcionário do Banco do Brasil, ficou sabendo que os dois cheques (pré-datados para 16 de maio e 16 de junho) haviam sido depositados na conta do SAAE. Como o prefeito havia esquecido de desbloquear o talonário do qual emitiu os dois fólios, os cheques acabaram sendo devolvidos e não entraram na conta do SAAE.
Prosseguindo sua explanação, Paganini disse que achou estranho todo aquele procedimento e decidiu investigar melhor o assunto. Ainda conforme suas palavras, ao intuir que algo de errado estava ocorrendo dentro das contas da autarquia, tomou a decisão de exonerar Boretti, fato ocorrido no dia 20 de junho. A partir daí indicou Mantuan e pediu a instalação da auditoria. Classificou como covardia a tentativa dos irmãos Boretti em tentar lançar seus cheques dentro da conta do SAAE, argumentando que teria esta atitude como única intensão envolvê-lo nas supostas irregularidades apuradas posteriormente com as investigações.
Paganini disse que num primeiro momento foi apurado rombo na ordem de R$ 2,1 milhões. Disse que encaminhou os resultados da apuração para o Ministério Público e para o TCE (Tribunal de Contas do Estado). Antecipando-se a uma eventual reação dos acusados, disse que qualquer outro tipo de interpretação dos fatos terá como única intençãopromover factoides políticos na tentativa de descaracterizar os resultados da investigação.
Em entrevista ao jornal A Cidade, Paganini esclarece alguns pontos do ocorrido.
A Cidade – Quando Dado Boretti foi exonerado, em junho do ano passado, a justificativa recaiu sobre os reajustes irregulares das tarifas de água e esgoto do comércio e indústria e a resistência dele em corrigir os erros e devolver o que foi cobrado a mais. Pelo visto não era só essa justificativa. Por que você não esclareceu tudo naquela oportunidade?
Paganini – Os motivos que apontei naquele momento já justificavam a exoneração, pois a presidência do SAAE era um cargo de confiança do prefeito e deveria caminhar junto, além de ser vice-prefeito. Naquele momento, o problema dos cheques precisava ser investigado na sua totalidade e houve a decretação de sigilo tanto do SAAE como do Ministério Público.
A Cidade – O processo ainda não terminou, porque agora você resolveu falar?
Paganini – A auditoria e a sindicância seguiram o curso natural, mas nos últimos meses eu venho sofrendo ataques de forma disfarçada com a intenção de denegrir a minha imagem. Mas enquanto as pessoas falavam o que bem entendiam, sem respeito à ética e às pessoas envolvidas, eu esperei a liberação jurídica e orientação da forma adequada de como esclarecer o assunto.
A Cidade – O que exatamente ocorreu?
Paganini – Eu sempre ajudei física e financeiramente as instituições da nossa cidade, entre elas a Esportiva - todo mundo sabe da minha paixão pelo futebol e pelo time da casa – que ajudo desde 2006, quando eu nem pensava em ser prefeito. Em 2013 e 2014 acabei me envolvendo mais, senti a necessidade de ajudar mais. Em 2013 ajudei a completar o orçamento do semestre a pedido do presidente Flavio Boretti. Foram dois cheques para a Esportiva no valor de R$ 10 mil, conforme recibo firmado.
A Cidade – Foi só essa contribuição para a Esportiva?
Paganini – Não, o meu compromisso com a Esportiva vinha desde janeiro daquele ano. Foram oito contribuições, todas elas devidamente relatadas e reconhecidas.
A Cidade – Por que esses dois cheques foram parar no SAAE?
Paganini – Não faço a mínima ideia. Fui surpreendido com essa informação.
A Cidade – Para quem você entregou esses cheques?
Paganini – Ao presidente Flavio Boretti dentro de um procedimento normal. Da mesma forma dos demais patrocinadores.
A Cidade – Como os cheques eram pré-datados, você foi informado de que eles poderiam ser descontados no SAAE?
Paganini– De forma alguma. Sabia que eles poderiam ser negociados na praça para antecipar receita, mas jamais que envolveriam a autarquia ou qualquer outro órgão público. Eu não permitiria isso de jeito nenhum.
A Cidade – O Dado Boretti chegou a lhe informar que estaria trocando aqueles cheques. Ele lhe deu ciência sobre essa transação ser feita com o SAAE?
Paganini – Em momento algum eu fui informado dessa transação e desse movimento. E como já lhe disse, se fosse, não concordaria.
A Cidade – Em que momento você tomou conhecimento de que esses cheques estavam no SAAE?
Paganini – Eu recebi uma comunicação do banco dizendo que eles seriam depositados na conta do SAAE.
A Cidade – Qual foi a sua atitude diante desse fato?
Paganini– A informação do depósito se somou aos demais problemas, a minha atitude, como eu e o Dado já tínhamos conversado sobre os problemas administrativos, não tive alternativa. No dia 21 foram publicadas a exoneração do Dado e a nomeação do novo presidente, Mantoan.
A Cidade – Você imaginava naquele momento que poderia ter coisas estranhas acontecendo no SAAE?
Paganini – Diante do que aconteceu e o que foi feito com o meu cheque, era óbvio que durante dois meses a conta do SAAE ficou irregular, desconfiei de que outras irregularidades poderiam estar acontecendo. Por isso, de imediato, logo após o anúncio do novo presidente, determinei que uma empresa fosse contratada para fazer uma auditoria nos últimos cinco anos.
A Cidade – Por que só nos últimos cinco anos?
Paganini – Poderíamos esbarrar na prescrição.
A Cidade – Na prática você não precisava ter envolvido o ano de 2013, por que você fez isso?
Paganini – Fiz questão de cobrir até 2013, isso é transparência e também permitir um comparativo, ver o que acontecia antes do Zé Armando e o depois. Veja bem, todas as irregularidades se concentraram até o dia 20 de junho. Não tivemos nenhum apontamento depois que o Zé Armando assumiu.
A Cidade – Você disse que na exoneração havia uma suspeita. O que de fato foi apurado?
Paganini – Quando os cheques que destinei à Esportiva apareceram no SAAE, indevidamente, achei que aquele era o fio da meada. Puxando esse fio nós estamos chegando a números exorbitantes, um rombo de mais de R$ 2 milhões. Tenho certeza, considerando a lisura das investigações, todos os fatos serão muito bem esclarecidos.
A Cidade – Para finalizar, você diria que esse acontecimento foi uma armação com o intuito de te prejudicar?
Paganini – Eu não tenho a menor dúvida. Foi uma armação. Armação de uma forma rasteira, de uma forma covarde, e que, infelizmente, partiu de uma pessoa, no caso Dado Boretti, que estava realmente sob a minha responsabilidade, em cargo de confiança. É um assunto muito delicado, todos os fatos devem ser devidamente apurados. Foi uma trama para que eu fosse prejudicado.
Dado nega acusações
O jornal A Cidade ouviu Antonio Eduardo Boretti, o Dado, e seu irmão Flávio. Dado Boretti afirmou que está cuidando do caso com seu advogado. Limitou-se a dizer que foi exonerado em 20 de junho e que fatos que tenham ocorrido a partir desta data quem tem que responder por eles seriam o atual presidente José Armando Mantuan, seu sucessor na autarquia. “Não é me acusando que ele vai se justificar”, disse Dado Boretti.
Já seu irmão Flávio soube da fala do prefeito por intermédio da reportagem de A Cidade. Indignado, disse que estava surpreso com aquilo que havia sido afirmado pelo prefeito. “Não quero falar nada antes de ver a gravação com o teor do que ele falou”, disse.
Ainda assim, afirmou que jamais esperava qualquer acusação daquela espécie dizendo que sempre considerou o atual prefeito seu amigo. “Não faria qualquer coisa para prejudicar quem quer que fosse. Se ele tem algum problema com meu irmão, que resolva com ele. Não me envolvo com política. Sou uma pessoa íntegra e não admito acusações dessa natureza. Pode ter certeza de que tudo isso vai ser passado a limpo. Sou o maior interessado em que tudo isso seja esclarecido. Pode esperar que vai ter desdobramento”, disparou.
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