Quando Hotel Fazenda Esperança foi implantado, em 2001, o prefeito Barros Munhoz planejava colocar Itapira explorando o turismo rural, quando esse assunto apenas engatinhava como atividade econômica.
A modernização da agricultura ocorrida a partir dos anos 60 provocou mudanças profundas no meio rural. Naquele tempo os trabalhadores e proprietários de terra representavam 1/3 da população, mas que definhou rapidamente na grande migração para as cidades em busca de trabalho. Processo que levou ao colapso as micros, pequenas e médias propriedades rurais e a desorganização das cidades que não estavam preparados para receber esses contingente, gerando favelas e miséria. Sem acesso à educação, moradia e saúde as consequências desse período são sentidas até agora na forma de violência crescente e insegurança.
O retorno à terra
Entende-se por Turismo Rural o conjunto das atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, que agregue valor aos produtos e serviços, resgate e promova o patrimônio cultural e natural da comunidade. O meio rural pode ser bem aproveitado com a oferta de bebidas e alimentos in natura (cereais, peixes, frutas, legumes, verduras orgânicas - ou processados – vinho, doce, mel, aguardente, pão, embutidos etc.), artesanato, criação de animais, atividades equestres, pesca, ecoturismo, esportes de aventura, caminhadas, atividades pedagógicas, manifestações folclóricas (música, dança e tradições religiosas), gastronomia, saberes e fazeres locais, atividades recreativas e visitação a fazendas, casas de cultura e ao patrimônio.
Turismo Rural: a melhor alternativa
A primeira iniciativa reconhecida no Brasil como Turismo Rural se deu em 1986 na fazenda Pedras Brancas no município de Lages (SC). A fazenda oferecia pernoite e participação nas atividades típicas do meio rural. Diante do sucesso desses pioneiros, a iniciativa se multiplicou ao longo do tempo e rapidamente alcançou vários lugares do território nacional que implantaram a atividade como incremento ao desenvolvimento das populações rurais.
No final dos anos noventa, o Estado de São Paulo contava com algumas iniciativas, mas carecia de organização. Em 2000 nasceu a Associação de Turismo Rural e com o apoio da Secretaria de Agricultura e de Turismo foram desenvolvidas várias modalidades de acordo com vocação agrícola de cada região. O circuito das Frutas, por exemplo, envolve as cidades de Atibaia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Morungaba, Valinhos e Vinhedo, congrega cerca de sessenta propriedades e recebe, atualmente, entre trinta e quarenta mil visitantes por mês. Turistas que buscam o contato com a natureza, frutas frescas, produtos caseiros, hospedagem e passeios pelas propriedades. Uma das características principais desse processo foi o retorno dos filhos, com conhecimento acadêmico recebido, ao sítio ou fazenda, aplicando as técnicas adquiridas.
Hotéis e pousadas
À medida que o número de visitantes foi aumentando, vários investimentos em hotelaria foram realizados e muitas propriedades se especializaram em oferecer hospedagem. A procura pelos hotéis na área rural está crescente, pois tem se revelado com excelente atenuante do estresse urbano.
Outras modalidades:
O turismo rural se espalhou por todo Estado de São Paulo de forma diversificada. Na região de São Roque são produzidos vinhos de excelente qualidade e cultivadas uvas víniferas. No Vale do Paraíba a procura pelas grandes fazendas como de “Mazzaropi” e Monteiro Lobato, além das cafeeiras. Na região de Mococa a procura é pelos derivados de café e leite e em Monte Alegre do Sul, a cachaça, para ficarmos em alguns exemplos.
Tempo perdido.
Paganini lamenta o fato da atual administração não ter percebido a importância dessa modalidade econômica para a nossa cidade. “O Hotel Fazenda Esperança representava a base de tudo isso. É claro que no início era deficitário. Tinha que ser assim. Primeiro era preciso oferecer aos turistas, não um lugar para dormir, mas uma estrutura de serviços condizentes com a exigência deles. Precisávamos treinar o pessoal que encarnasse o nosso jeito de ser. Não bastava contratar. Precisávamos desenvolver cardápios apropriados que caracterizasse a nossa região. Além disso, as outras atividades do hotel eram para oferecer atrativos rurais para os turistas, mas também servir de piloto para os demais agricultores. Foi uma pena esse governo não ter entendido isso e visto o Hotel com imediatismo.”
O futuro prefeito de Itapira acredita que se o hotel fazenda tivesse seguido o caminho traçado, hoje estaria totalmente integrado ao sistema, recebendo milhares de turistas, todos os meses e rendendo dividendos para a cidade inteira. “Fico triste em ver a situação de abandono e deterioração que se encontra o Hotel Fazenda. É uma judiação.” (ver box).
O futuro.
Hotel fazenda é um dos maiores negócios da atualidade, desde que seja gerido com competência e focado no turismo rural. Mas trata-se de uma atividade que requer muita qualidade e dedicação. É o segmento que mais cresce no estado.
Para a Paganini uma das palavras mais importante para o seu governo é “desenvolvimento”. Para isso, além de cuidar das atividades econômicas existentes, ele quer buscar todas as possibilidades que tragam crescimento e melhore a qualidade de vida dos itapirenses. “Itapira está localizada numa região belíssima. É servida por estradas de primeiro mundo que são usadas por milhares de turistas que passam por nós em busca do circuito das águas e sul de minas. Queremos essa gente aqui. Só conseguiremos isso com o turismo rural”, esclareceu mostrando determinação.
Quanto ao Hotel Fazenda, o primeiro passo será avaliar a real situação da empresa que o administrava. Encaminhou várias perguntas ao governo atual sobre as dívidas fiscais, trabalhistas e fornecedores. Ao apresentar a outra palavra importante do futuro governo “responsabilidade”, esclareceu: “Pé no chão: não transformarei a minha passagem como prefeito em aventura. Não vamos improvisar. Não podemos errar e nem retardar mais.” E completou: “Temos várias ideias para o hotel fazenda, uma delas é tentar levar para lá o funcionamento de escolas nas áreas agrícola, gastronômica, hotelaria... Ou ainda, podemos chamar parceria com a iniciativa privada. Enfim, temos várias possibilidades e o importante será colocar Itapira totalmente integrada ao Turismo Rural.”
Abandonado, deteriorado e depenado.
Desde que foi fechado, em abril de 2010, a área livre e o prédio que abrigava o Hotel Fazenda Esperança vem sofrendo a ação do tempo e vândalos ou dilapidadores do patrimônio público.
Um funcionário que não quis se identificar disse: “sempre para alguém, olha daqui de fora e até chora ao ver do jeito que as coisas estão... É muito triste.”
No início da administração, o prefeito Toninho Bellini, aparentemente, não sabia se fechava ou continuava com o Hotel Fazenda, mas depois de considerar que o Hotel tinha dado bons resultados no semestre anterior, resolveu manter o empreendimento, mas paralisou o cultivo de café orgânico, horta e frutas e desacelerou a criação de animais, descaracterizando um dos três pilares do empreendimento. Depois começou a substituir o pessoal que já estava treinado por “apaniguados” inexperientes comprometendo os serviços e o consequente não retorno dos hospedes. E para sepultar o projeto, cortou os investimentos.
Qualquer itapirense que conheceu o Hotel Fazenda em funcionamento ao fazer um pequeno passeio ficará estupefato com a visão que terá. As imagens que ilustram essa matéria dão uma pequena amostra da situação.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.