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25/07/2012 | Paolo Colosso: ceticismo político e a aposta no diálogo-debate
Esses dias um conhecido meu, que quer sempre passar longe de questões políticas, me disse assim: “garoto, se você quer fazer algo de bom, fique longe da política, aquilo é lugar de pessoas que querem privilégios, que querem fazer coisas erradas estando ao lado da lei”. Fiquei chateado com o ceticismo daquele senhor, que já tem uma boa experiência de vida, e mais chateado ainda de pensar na possibilidade de ele estar certo. Então pensei algumas coisas que arrisco colocar aqui.
1)                  O ceticismo faz mal por muitas razões, mas sobretudo pelo seguinte: ele estende sua generalização de tal maneira que reduz toda a realidade às suas experiências negativas. Ou seja, sua visão já de antemão acinzenta todas as possibilidades do presente, e assim nos deixa sem saídas. E percebo que os personagens mais céticos, que operam no clichê “nenhum político presta”, “foi sempre assim e vai ser sempre assim”, são aqueles que tentam se manter longe de quaisquer questões coletivas e públicas. Por uma desesperança, esses céticos já se distanciaram e voltaram às suas relações mais imediatas, tentam tocar a vida e tentam também agir corretamente, mas apenas até um ponto onde não interfira no que eles crêem ser apenas o “jogo de poderes e interesses”. E por isso, a meu ver, aqueles que ainda se dispõem a discutir, problematizar e propor saídas para questões públicas são, pelo contrário, aqueles que de algum modo ainda acreditam ser possível sim estabelecer uma vida política efetiva, onde toda a coletividade é contemplada em suas demandas e o bem público é preservado. Nesse sentido, esses que sinceramente participam, sejam como cidadãos ou como representantes, ainda creem pelo menos um pouco que a política seja o espaço onde todos tentam, em alguma medida, tomar decisões equânimes. Enfim, esses envolvidos entendem que as oposições e diferenças estão na maneiracomo os indivíduos tentam implementar suas ações e, também, entendem a dificuldade de determinar o que é ‘o justo para todos’ em cada situação; mas no fundo guardam a expectativa de poder chegar a um ponto em comum, que é o bem público.
2)                  O senhor cético que me interpelou essa semana talvez esteja dizendo que ainda sou jovem e inocente. Acho que nem tanto uma coisa nem outra: reconheço também casos patológicos onde autoridades usam a máquina pública a serviço da ilegalidade e/ou tentando resolver questões pessoais; não é preciso ir longe pra lembrar o último caso nacional mais bizarro. Apenas não ousarei analisar disfunções de tão grande porte nesse pequeno texto. Mas ao cético que me chama de ingênuo, diria estou ciente de que para chegarmos em decisões acertadas é preciso um esforço enorme, uma vez que exigem antes de tudo sairmos de nossa visão mais egoica e, ainda, vislumbrarmos conjuntamente onde está esse “justo” razoável a todos. Sei que isso é muito difícil e historicamente quase nunca obtido, sobretudo quando as questões são complexas e há muitas diferenças entre os participantes,  todavia se quisermos perseguir a meta do justo para todos, só existe um modo de consegui-lo: através do diálogo-debate horizontal e persistente, o método onde o que prevalece são as proposições e argumentos mais bem fundamentados. Não podemos deixar de apostar na possibilidade do entendimento através da comunicação propositiva, porque essa é a única capacidade que nos distingue dos outros animais, aqueles que se impõem uns aos outros pela força.  Essa é a única saída, ou então caímos por completo nas posições céticas, tristes, de que nem mesmo o diálogo é possível, onde a fala é só um modo polido de esconder nossas reais intenções – o que nos leva, no limite, também à posição segundo a qual o espaço político se reduz a um conflito de interesses inconciliáveis.
Paolo Colosso é arquiteto, bacharel em Filosofia pela Unicamp, atualmente faz mestrado em Filosofia na USP.
Fonte: Paolo Colosso

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