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25/02/2013 | Paolo Colosso: Cultura urbana e sociedades cindidas
                   
              No último texto falei um pouco a respeito  do que podemos chamar de cultura urbana. Hoje dou um passo atrás. Tento esclarecer o que está subjacente nesse termo, para pensarmos algumas questões como: por que as cidades são como são, por que tem a forma que tem e, ainda, em que medida  formas das cidades são ilustrativas para entendermos traços de hábitos e valorações de uma sociedade, bem como algumas de suas práticas institucionais.
            Com a ideia de cultura urbana  entende-se que  espaços urbanos, sejam eles públicos ou privados,  trazem a marca do tempo e da  sociedade onde são erigidos. Dito de outro modo: espaços  urbanos são resultado de processos sociais. Se olharmos para a história das cidades isso ficará mais claro.  Na Idade Média as cidades se organizavam em torno de uma grande Igreja, o centro da vida coletiva da sociedade. As ruas eram sinuosas e em pedra, bem de acordo com as técnicas possíveis na época. No século XIX, quando a Europa engendrava uma intensa industrialização e ocorreu um grande aumento da população urbana, as cidades passaram por transformações significativas; surgiram novos tipos de edifícios: os grandes galpões industriais, as Estações ferroviárias, as ferrovias e as vilas operárias. Esse foi também o período de constituição dos Estados-nação europeus, donde se entende a construção de imponentes e importantes edifícios públicos cujo papel era simbolizar  ideais nacionais.
 
Uso esses exemplos apenas para entender  a cultura urbana predominante em nosso atual contexto, onde o  crescimento das grandes cidades ocorre sobretudo de acordo com as forças do mercado.  Não é preciso ir muito mais longe do que a Campinas ou São Paulo para identificarmos os elementos centrais da  cultura urbana dos países semi-periféricos como o nosso. Estas cidades crescem de modo “espontâneo”, para as áreas periféricas onde a lucratividade é mais favorável aos empreendimentos. Esse espraiamento da cidade leva a uma fragmentação tal que se formam diversos núcleos de convivência, separados entre si por vazios urbanos  ( o que se chama na universidade de segregação sócio-espacial).  O primeiro núcleo de convivência são os condomínios fechados, que emplacaram no imaginário coletivo como um lugar seguro e tranquilo, distante das tensões da cidade. O segundo desses núcleos são os shopping center, o espaço onde nós,  da chamada sociedade de consumo, desenvolvemos nossos modos predominantes de sociabilidade. Não por acaso, autores mais críticos dizem que os shopping são as catedrais de hoje. Há ainda um terceiro núcleo de convivência: as ocupações irregulares, as favelizações, constituídas de pessoas que não conseguiram se estabelecer noutro lugar, nem foram atendidas pelo Estado. Esses espaços, que aqui chamo de núcleos de convivência, são articulados por rodovias urbanas cuja função é ligar os fragmentos de cidade.
 
A partir dos elementos shopping, condomínios fechados , ocupações irregulares e rodovias urbanas temos um quadro com as formas urbanas predominantes em nossas grandes cidades. E a partir disso podemos fazer algumas especulações. Parece que  esse tipo de cidade é onde paira uma confusão entre felicidade e poder de consumo; é onde largas camadas da população se ajeitam como e onde podem, pois os centros de decisões  não asseguram a todos direitos cidadãos. E mais: parece que esses espaços trazem as marcas de uma sociedade cindida, tensionada, que à deriva não resolve questões estruturais.
 
Paolo Colosso é arquiteto e bacharel em Filosofia pela Unicamp. Atualmente faz mestrado em Filosofia na USP. Contato no email: [email protected]
Fonte: Paolo Colosso

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