O engenheiro naval Paulo Coutinho Anacleto, paulistano radicado em Itapira desde 99, apesar da discrição com que circula nos meios sociais da cidade, possui em seu currículo uma espécie de ativismo informal pouco comum na maioria das cidades, em defesa das árvores. Este seu lado militante apareceu com maior visibilidade há cerca de cinco anos, quando por intermédio de uma associação de moradores do bairro Santa Fé, fazendo-se valer das redes sociais, apontou todo o descaso da comunidade em geral e , em particular, do Poder Público Municipal, com relação ao tema árvore.
Aproveitando a passagem de mais um Dia da Árvore, A Cidade quis saber dele o que mudou em Itapira depois deste processo de engajamento . “Essencialmente mudou pouca coisa. Mas tivemos atitudes mais claras do próprio Poder Público Municipal que passou a dar mais atenção ao assunto”, disse. Ele menciona a aprovação pela Câmara Municipal de uma Lei que proíbe a prática da poda radical e que um processo de conscientização, ainda muito longe do ideal, pode ser observado principalmente entre os mais jovens.
Por outro lado, afirma que o brasileiro de uma forma geral, ainda enxerga a árvore como um estorvo. “As pessoas reclamam por exemplo que a árvore derruba folhas e que é preciso limpar. Além disso existe uma espécie de ‘cultura do cimento’ onde algumas pessoas implicam com a árvore porque segundo raciocínio predominante, a árvore vai estragar a calçada.Por isso que tanta gente prefere o cimento do que , por exemplo, um gramado, um canteiro”, analisa. Prosseguindo, diz que outra implicância que muitas pessoas manifestam com relação a presença das árvores é também muito curiosa : “serve de esconderijo para maus elementos”. Outra igualmente curiosa, segundo ele: “dão abrigo a morcegos”.
Na condição de uma pessoa que já viajou ao exterior, observa ainda que os brasileiros que têm este privilégio, via de regra, ficam maravilhados com as enormes avenidas todas arborizadas que encontram, com as árvores frondosas em parques e jardins. “Acham lá bonito, mas aqui acham que as árvores vão atrapalhar de alguma forma e esse tipo de comportamento você observa, independentemente da classe econômica da pessoa. Basta visitar os bairros mais valorizados da cidade e aqueles mais periféricos e observar a aridez da paisagem. Poucas pessoas plantam árvores”, aponta.
Podas
Ele diz que as podas radicais ainda podem ser verificadas em alguns pontos da cidade e que seria o caso de questionar as autoridades responsáveis sobre os motivos. “Eu acho que se existe uma legislação dizendo que não se pode realizar a poda radical, isso deve ser fiscalizado e se houver descumprimento, que seja aplicada a penalidade prevista”, defendeu. Acredita que as podas radicais sejam feitas para baratear os custos de manutenção da rede da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).
Questionado sobre informações da própria Prefeitura que centenas de novas mudas vêm sendo sistematicamente plantadas em todo o município, Anacleto disse que não duvida da informação, mas fez uma objeção. “Eu enxergo uma preocupação de se plantar árvores em locais mais afastados, onde teoricamente não causarão incômodos. É um tipo de cultura do descompromisso, regida pelo imediatismo. Acho que deve-se sim plantar mudas em locais mais afastados, sem, no entanto, privar áreas mais habitadas que possuem poucas árvores”, condicionou.
O outro lado
Fábio Alexandre Giovelli, que faz vistorias das árvores para a Secretaria de Agricultura e Abastecimento diz que seu trabalho muitas vezes é problemático porque sofre críticas quando tem que indicar a necessidade de erradicação de uma árvore. “Se não faço isso e uma árvore cai, a responsabilidade é minha. O prefeito determinou uma vistoria em todas as árvores da cidade. Imagina só o tamanho do trabalho. Apesar de todo nosso esforço, é possível que alguma que precisa ser erradicada passe batido”. Defendeu ainda a política de plantio de mudas. “Nunca se plantou tanta árvore na cidade. O resultado disso só será visível dentro de pelo menos cinco anos. Teremos uma cobertura vegetal bem melhor a médio prazo”, confia.
O encarregado de podas da Secretaria de Serviços Públicos, José Maria Rostirola Filho, disse que as podas radicais estão abolidas pelo município. Confirmou a suspeita de Anacleto no tocante às necessidades da CPFL. “Quem tem feito poda radical na cidade é a CPFL. Eu, pessoalmente, estou levando esta questão ao Comdema (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente) para que seja examinada uma medida contra esta prática”, garantiu.