O prefeito José Natalino Paganini (PSDB) anunciou na tarde de quinta-feira, 29, a decisão de cancelar os desfiles de Carnaval deste ano. O motivo foi uma solicitação neste sentido endereçada pela Secretaria Municipal de Saúde, com respaldo da Sucen (Superitendência de Controle de Endemias), sob argumento de que a concentração de um público numeroso num mesmo local acarretaria o risco de agravar ainda mais o quadro da dengue no município.
Paganini, acompanhado do Secretário Municipal de Cultura, Marcelo Iamarino, recebeu no final da tarde de quinta-feira em seu gabinete a todos representantes de blocos carnavalescos e escolas de samba, quando anunciou a decisão.
Segundo relato de participantes do encontro, o anúncio foi recebido com surpresa. “Fomos apanhados de surpresa pelo fato dos preparativos para o desfile estarem bastante adiantados”, comentou o ajudante geral Aislan Rossi, presidente da Escola de Samba Mocidade Alegre da Boa Esperança.
Rossi disse que os argumentos usados pela administração são fora de questionamento e que a maior preocupação passou a ser então os gastos que as agremiações já tiveram nos preparativos. “No caso nosso, tínhamos recebido cerca de 10% dos R$ 22 mil prometidos e assumi¬mos muitos compromissos acreditando que iríamos desfilar. Foi ai que questionamos ao prefeito Paganini sobre esta situação e ele nos deu garantias de que teríamos ajuda para cobrir os custos do que já havia sido empenhado”, informou.
Devaldo Cescon, representante da Banda do Nheco-Vai-Nheco Fica, considerou que o prefeito Paganini fez aquilo que achou mais correto. “Fica difícil você se colocar na situação dele. Se tomou esta decisão, é porque está convicto de que foi a melhor”, resumiu.
Cristina Helena Gomes, dirigente do Bloco Rosa Choque e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais também defendeu a decisão. “A questão da saúde pública deve mesmo ser priorizada, só acho que deveriam ter feito este anúncio com mais antecedência. Além do mais a situação financeira de todos os municípios, não somente de Itapira, tem piorado muito com a queda de arrecadação. Acho que a medida será bem recebida pela população”, opinou.
Em nota oficial a Assessoria de comunicação da Prefeitura esclarece os motivos da decisão tomada e afirma ainda que os recursos que seriam alocados para a realização da festa será aplicados prioritariamente nas ações de combate à dengue. Menciona ainda a nota que devido ao mesmo motivo a festa de encerramento dos Jogos de Verão e algumas dis¬putas que são realizadas na finalização do evento foram canceladas.
Compensação
Marcelo Iamarino reve¬lou que a possibilidade do cancelamento começou a ganhar força a partir de segunda-feira. “Praticamente todas as secretarias foram consultadas a respeito do cancelamento devido a avaliação realizada pelo pessoal da Saúde. De imediato, ganhou força a ideia de diminuir o formato original, com dois dias de desfiles com os blocos. O pessoal da Saúde, por sua vez, contra-argumentou que a aglomeração de pessoas seria um convite para a propagação da doença, já que, segundo especialistas, o mosquito transmissor agiria mesmo à noite por causa da iluminação no local. Eles teriam um comportamento instintivo diante da luz artificial. Foi este o argumento que fez com que o prefeito decidisse por não realizar evento algum. Imagine se de repente, por causa do carnaval outras 200 pessoas pegassem a doença. Traríamos uma situação de caos na saúde pública. Por isso tudo a decisão foi bem amadurecida e tenho certeza de que conta com a compreensão de todas as partes envolvidas”, argumentou.
Sobre os gastos das escolas e blocos, Iamarino disse que a Secretaria de Cultura já tem um plano de contingência para oferecer algum tipo de compensação, incluindo negociações com cidades da região para que estes blocos e escolas possam desfilar em troca de algum cachê. “Nós nos comprometemos em oferecer apoio logístico para quem fechar alguma participação”, adiantou.
No meio da população a medida parece ter sido bem aceita. “Foi a melhor coisa que fizeram. Não dá para brincar carnaval com meia Itapira doente”, afirmou a comerciária Cris¬tina Aparecida Rampim, moradora no bairro dos Prados. A aposentada Selma Regina Correa contou que gosta de ver os des¬files, mas que concorda com a decisão. “Fico com pena dos meus netos que esperam o carnaval para ver a Banda do Nheco, mas na atual situação é melhor se precaver”, afirmou.
O servente de pedreiro Jamil Pereira de Souza, 24, morador no jardim Raquel, acha que a Pre-feitura poderia ser mais flexível. “Que pelo menos fizessem os bailes como tem todo ano. Vamos fa¬zer o que no Carnaval”, questionou.
Anúncio do cancelamento foi feito durante reunião na quinta-feira
Em Mogi Mirim decisão foi tomada uma semana antes
A população da vizinha Mogi Mirim também vaificar sem carnaval popular neste ano. O prefeito Gustavo Stupp, 31, havia anunciado a medida no final da semana passada, só que com outro enfoque: a situação financeira difícil. Ao saber pela reportagem de A Cidade que Itapira tomou atitude semelhante, Stupp considerou que o seu colegaPaganini tomou uma decisão muito difícil. “A gente sabe que das cidades da nossa microrregião Itapira é aquela que possui maior tradição na realização de desfiles de carnaval de rua, portanto, imagino quanto foi difícil para o Paganini tomar uma decisão deste tipo. Sou totalmente solidário a ele”, colocou.
Stupp argumentou que logo no início do ano vinha analisando a questão do Carnaval com seus colaboradores mais próximos e a avaliação era a de que os recursos normalmente empenhados na realização da festa, em torno de R$ 400 mil para este ano, segundo ele, seriam melhor empregados para o setor da saúde – exatamente como agiu Paganini em Itapira. “A verdade é que a crise econômica já afeta diretamente a arrecadação das prefeituras e temos que nos curvar a esta nova realidade. O cobertor que já era curto, diminuiu ainda mais de tamanho. Temos que racionalizar recursos porque a cobrança é muito grande e numa situação destas, é claro que temos que priorizar ações que beneficiem um número maior de pessoas e sobretudo aquelas de menor poder aquisitivo”, defendeu.
Ele afirmou ainda que também em sua cidade a questão da dengue é motivo de enorme preocupação. “Tivemos um aumento no número de casos em 2014 e estamos trabalhando, a exemplo do que vem ocorrendo em Itapira, firmemente para reverter esta situação. É claro que este também é um motivo muito forte para ser levado em consideração”, corroborou.
Uma enquete divulgada pelo jornal O Popular, de Mogi Mirim, aponta que 90% das pessoas consultadas responderam que o prefeito Gustavo Stupp acertou ao cancelar o Carnaval.
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Itapira, 23 de Novembro de 2024
02/02/2015 | Receio do agravamento da situação da Dengue leva ao cancelamento do Carnaval no município
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