O recém-encerrado mês de Abril foi marcado por uma sucessão de crimes hediondos que reascenderam a discussão sobre a redução da maioridade penal. No início do mês o estudante universitário Victor Hugo Delppman, de 19 anos, foi morto na porta de casa baleado na cabeça por um menor de idade mesmo sem ter reagido ao assalto. Dias depois foram duas cidades interioranas, Cunha no Vale do Paraíba e Pinhalzinho aqui no circuito das águas. Nas duas cidades um casal de idosos tiveram fim parecido, mortos a facadas por menores de idade que invadiram suas residências para cometer assaltos. E mais recentemente, em São Bernardo do Campo, o caso mais chocante de todos: a dentista Cinthya Magali Coutinho , de 47 anos, foi queimada viva porque só tinha 30 reais em sua conta bancária. O assassino, a exemplo dos outros casos, era menor de idade.
O advogado criminalista Ariovaldo Risola, com 49 anos de atuação, acha que esta sucessão de fatos acaba fomentando um desejo de vingança da sociedade e que por isso é contra a redução da maioridade. “ Não é isso ( a redução) que vai resolver a questão da violência. É um erro apostar nesta solução”. Confrontado com os casos recentes, Risola imagina uma solução curiosa. “ Defendo que pessoas que praticam crimes bárbaros sejam doadores compulsórios de órgãos humanos. Se matou alguém indiscriminadamente terá que ajudar a salvar a vida de uma outra. Alguém tendo consciência de que isso será possível , uma mutilação de seu corpo, certamente vai pensar duas vezes antes de cometer um crime”, posicionou-se.
A educadora Nilza Osti Fracarolli, com dois mandatos à frente do Conselho Tutelar, disse que entende que o mundo está violento, mas não acha que a melhor saída seja reduzir a maioridade penal. “ Tenho medo de andar na rua, mas a questão da violência não vai ser resolvida com base em uma discussão irracional”, admitiu. Ela diz que “ O Estado é omisso na formação do cidadão e aparece como algoz na hora de punir. O castigo comprovadamente não tem funcionado como fator desinibição da violência e tão pouco para ressocializar o infrator. É preciso ter cuidado com a questão. Na minha opinião, a falta de políticas públicas adequadas, de educação de qualidade , do esfacelamento do lar são as raízes do problema”, expôs.
O Promotor de Justiça André Brandão, que atuou por quase uma década em Itapira e desde o final do ano passado está a serviço do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO-Piracicaba), tem visão diferente do problema. “ Se um jovem tem discernimento para eleger o presidente da República, possui também entendimento de que não pode sair por aí matando as pessoas, infelicitando centenas de lares como vem ocorrendo atualmente. Sou sim favorável à redução da maioridade , para casos mais graves. Precisamos destacar que as ocorrências envolvendo menores em delitos graves não param de crescer”, avaliou.
Plebiscito
Thomaz Antonio de Moraes, presidente da sub-seção da OAB Itapira, também defende a redução. “ A situação está se tornando insustentável. Não dá mais para ignorar que a sociedade está desprotegida. Acho até que aqueles que são contrários possuem argumentos convincentes. Mas a questão é que a sociedade exige um basta nesta situação. Não adianta ficar filosofando que o Estado é culpado da situação enquanto vítimas inocentes padecem todos os dias”, entende. Moraes acha que o momento é oportuno para que o Congresso Nacional convoque um plebiscito sobre o tema. “Um plebiscito tem a vantagem de envolver a sociedade brasileira num debate muito oportuno. É preciso dissecar o assunto para que a própria sociedade decida qual o melhor caminho”, defendeu.
Moraes: plebiscito é uma saída
Risola: mutilação como freio
Brandão: sociedade não aguenta mais
4 comentários
08/05/2013 13:05:12 | Leitora Assídua
Concordo com dr. brandão e moraes.
08/05/2013 13:05:37 | Leitora Assídua
Ariovaldo, mas num há uma lei que diz que é proibido retirar qualquer órgão ou tecido de uma pessoa para transplante sem o seu conssentimento seu ou de algum familiar?? e o que resolveria com iss?? isso ia ser com o paciente vivo ou depois de morto?
08/05/2013 12:05:32 | Leitora Assídua
Do que adiante políticas públicas se alguns jovens já crescem com mentalidade de bandido ensinado e espelhados pelos próprios pais nilza?
08/05/2013 12:05:48 | Leitora Assídua
A maioridade penal não vai acabar com os crimes por menores delinquentes, mas sim puní-los e mostrar de exemplo pra sociedade e demais menores que nada ficará impune por serem menores.