A volta do debate em torno da construção de uma barragem de água no Ribeirão da Penha para livrar a cidade de problemas futuros no abastecimento de água ocorre num momento crítico. A seca que afeta de modo particularmente severo a região Sudeste do país promete ser um termômetro definitivo para o ribeirão.
Quem vê sua calha definhando dia a dia, fica imaginando se daqui a três meses, quando teoricamente começa o novo regime de chuvas,ainda vai restar alguma água para ser recolhida pela estação de captação do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos).Silvio Humberto Bagini, 57, que trabalhou durante 29 anos no setor de tratamento de água do SAAE , afirma que nunca presenciou uma estiagem tão forte. Ainda assim acredita que o curso de água não vai refugar. “Com toda certeza, ainda que a vazão venha a diminuir bastante, confio no elevado grau de capacidade dos colegas do SAAE para gerenciar esta questão”, afirmou.
Antonio Carlos Avancini , o Tatão, 54, presidente da AIPA (Associação Itapirense de Proteção ao Meio Ambiente), acredita que a situação de fato é preocupante, mas não acredita em prejuízo no abastecimento de água. “Acho que seria uma boa medida se o SAAE facilitasse acesso a dados relevantes como vazão atual e o limite de comprometimento”, recomendou. Ele acha que assim como já foi feito anteriormente, bastaria elevar a barragem em frente a captação de água para que não houvesse prejuízos maiores.
O engenheiro e consultor José Flávio Correia Vieira, 70, que está a frente da elaboração do projeto de revisão do Plano Diretor do Município, possui grande familiaridade com a questão do saneamento público itapirense. Ele foi um dos técnicos que elaboraram, a partir de 1973, os projetos que resultaram na ampliação do sistema de captação e distribuição de água e na construção do tratamento de esgoto do município. Grande defensor da construção da barragem, disse que se deve confiar, desconfiando, ao ser questionado se o Ribeirão passará incólume com a atual estiagem.
Demonstrando otimismo, Vieira disse que situação ruim é de quem mora em São Paulo, numa alusão à crise de abastecimento que vem sendo gerenciada pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo). Ele disse que no caso de Itapira possui total confiança na capacidade das autoridades em solucionar o problema da forma mais simples possível.
Segundo sua análise, os registros históricos do ribeirão apontam para uma grande capacidade de suportar períodos de estiagem. “É um curso de água que possui muitas nascentes e este fato, penso eu, é de suma importância para que continue oferecendo água num momento tão crítico como este que estamos vivenciando”, aposta.
Análise
Entre os dias 17 a 20 deste mês, técnicos da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e do SAAE estiveram analisando a situação do Ribeirão da Penha, levando em consideração informações da AIPA Ambiental a fontes jornalísticas. Foi percorrida a extensão do ribeirão, da ponte de acesso ao bairro Istor Luppi até o bairro Antonio Assad Alcici. Foram verificados troncos de árvores caídas na calha do ribeirão, com grande acúmulo de resíduos, descartados muitas vezes pela própria população.
Quanto à poluição das águas, na forma de uma mancha, o fato não foi constatado pelos técnicos. Após análise de sedimentos, ficou constatado um grande acúmulo de folhas das árvores do gênero Leucena, que, ao cair na lamina d’agua, aparenta uma poluição como se fosse uma mancha.
O monitoramento da água bruta com análises laboratoriais é realizado constantemente pelo SAAE, que descarta poluição química de suas águas como retratado pela AIPA. Para isso, foi feita análise da água bruta pelo SAAE no dia 02 deste mês.
Foi observada a falta de conscientização das pessoas ao dispor de forma irregular seus resíduos, que acabam ficando retidos no leito d’água. Por conta disso, o SAAE já realizou uma limpeza nas proximidades da captação de água. Além disso, SAMA, Defesa Civil e Secretaria de Serviços Públicos estão organizando uma limpeza em massa do ribeirão com a retirada dos troncos arbóreos, sedimentos e resíduos de forma geral. A SAMA ressalta ainda que ações visando a manutenção do ribeirão são realizadas constantemente, com o seu desassoreamento e de seus afluentes, assim como a reconstituição de sua mata ciliar.
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