Depois de passar por uma reformulação em seu projeto de atendimento e assistência e da mudança de local, o Instituto Samaritano de Proteção Social retomou as atividades junto as pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. Na nova sede, que fica na Praça Riachuelo, 59, no Centro, há três quartos, dois banheiros, recepção, sala de convivência, copa, cozinha, rouparia, quintal com jardim, galpão para oficinas e aparência de lar familiar.
Durante uma visita ao local, a voluntária Fátima Cecília Cintra Anacleto, a Fati Cintra, explicou sobre o novo modelo de atendimento do Instituto, que hoje conta com uma equipe de técnicos contratados composta por um coordenador, uma assistente social, uma psicóloga, uma auxiliar de serviços gerais, além de voluntários fixos e estagiários que desenvolvem diferentes atividades com os assistidos. “Todos os moradores são encaminhados pela Secretaria de Promoção Social através do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). Aqui, eles passam por um atendimento com a nossa equipe técnica e é traçado um plano de desenvolvimento individual para que possamos ajudá-lo no resgate da cidadania, do vínculo familiar e da vida autônoma”. Também poderão ser atendidos os egressos de instituições de recuperação de dependência química.
De acordo com o manual da entidade, os assistidos podem permanecer no local por até três meses, prazo que pode ou não ser prorrogado de acordo com as avaliações. “Aqui nos iremos auxiliar as pessoas a ter acesso a todos os serviços que elas têm direito, como consultas e internações via SUS, atendimentos nos PPAs, CAIS, Assistência Odontológica, Caps, obtenção de documentos, assistência jurídica e acesso a educação e cultura. Muitas vezes, por algum motivo, eles perderam a motivação e precisam desse auxílio externo”, completou Fati Cintra.
Além do atendimento, um dos principais intuitos do Instituto Samaritano é resgatar a figura do voluntariado na cidade, presença que é considerada o diferencial no modelo assistencial. “Cada voluntário desenvolve um tipo de trabalho diferente com os moradores, seja pedagógico, de lazer, entretenimento ou simplesmente de convivência. Todo mundo sempre tem algo para oferecer e um tempo disponível. Cada um tem uma história de vida e queda e essa proximidade é que auxilia no resgate da dignidade, o fato de ser visto pelas outras pessoas sem preconceito. A equipe técnica é fundamental porque ‘alinhava’ o trabalho e tem compromissos fixos. Já o voluntário vem para fazer a parte social, que é trazer uma nova referência de convívio diferente da vida na rua”, esclareceu a voluntária.
O novo modelo – que nada tem a ver com albergue e não possui qualquer ligação com denominações religiosas ou partidos políticos – não funciona como internação e os assistidos podem sair para cumprir compromissos externos, mas sempre agendados e monitorados. Conforme explicou Fati, nesse processo de adaptação e ajustes ainda não é possível acompanhá-los, mas o próximo projeto visa a aquisição de um veículo, o que auxiliará nessa tarefa.
Em um convívio quase que familiar, porém com regras fixas, os moradores têm a possibilidade de se desligar do mundo das ruas e retomar ao modo de vida anterior. Cafés, almoços, bate papos, oficinas e atividades os ajudam a relembrar como era a convivência em suas antigas casas, além de fomentar o desenvolvimento intelectual e de aptidões de trabalho. “Quando eles saem pra rua eles saem da rota normal e passam a viver em um mundo paralelo, com regras totalmente diferentes. Aqui vamos dar força e apoio para que eles possam retomar do ponto onde pararam, no curso natural da vida. Não queremos vender ilusão e prometer que vamos devolvê-los totalmente renovados, mas sim em condições de olhar para sua família e, no mínimo, estar mais humilde e voltar”, resumiu Fati.
Apesar do prazo curto de assistência, a voluntária acredita que é possível alcançar os objetivos, que desde sempre foi o ponto de partida dos membros que deram os primeiros passos no ‘antigo’ Samaritano. “Vai ser um desafio. Quando iniciamos os trabalhos no Samaritano era isso o que queríamos. Começamos a fazer e aprendemos fazendo e foi ousado nesse sentido. Sempre quisemos algo mais estruturado, mas mesmo lá fazíamos com amor e dávamos o máximo de carinho. Porém, com o grande rodízio era difícil dar um acompanhamento melhor e nosso grande salto foi esse: fixar as pessoas. Hoje mudamos o modelo, mas podemos oferecer um olhar especial a cada um deles”, finalizou.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.