Depois de alimentar inúmeros comentários desconexos, o relatório da sindicância solicitada pelo prefeito José Natalino Paganini (PSDB) para apurar as irregularidades no SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos) chegou à Câmara Municipal e nesta terça-feira, 05, foi lido na íntegra pelo secretário da mesa, o líder Maurício Casimiro de Lima (PSDB). Considerando que o referido relatório é extenso e relata os depoimentos dos funcionários do SAAE, o jornal A Cidade destacou os aspectos mais importantes, de forma mais reduzida, e o que cada ponto apurado poderá significar depois das investigações.
Segundo o relatório, o rombo que foi possível determinar em face dos documentos disponíveis superou a casa dos R$ 2 milhões. Sendo que R$ 338.657,20 foram desviados entre a saída do caixa e o depósito bancário e, ainda, que R$ 272.004,49 baixados no sistema do Setor Comercial, mas não foram incluídos no Mapa de Arrecadação, totalizando um desvio de caixa na ordem de R$ 610.661,69.
A Comissão de Sindicância indicou, ainda, como corresponsáveis os ex-presidentes do SAAE, Neiroberto Silva e Antonio Eduardo Boretti. Gizelda Maria Tofanello Giório Froes também responderá por ter ocupado a presidência da autarquia entre abril e dezembro de 2012.
Documentos desapareceram do SAAE
O que foi apurado: Todos os documentos da tesouraria referente aos exercícios 2008, 2009 e 2010 tais como recibos autenticados com códigos de barra que são baixados no sistema e recibos sem códigos de barrar que não são baixados no sistema, fitas de máquina autenticadora e os boletins Diários de Caixa de 2009 e 2010 não foram encontrados.
O que isso pode significar? Considerando que o rombo foi calculado com base em documentos confrontados com a movimentação bancária e que o ano de 2008 apresentou uma divergência na ordem de R$ 1,6 milhão, cuja projeção pode apontar para o período auditado um rombo na ordem de R$ 8 milhões.
Documentos sem código de barra era prática corriqueira
O que foi apurado: As segundas vias de conta de água sempre que solicitadas pelos consumidores, recálculo por erro de leitura ou descontos requeridos pelas entidades municipais e parcelamentos por carnê de contas, pedidos de ligações novas de água e esgoto, religação de água e outros serviços quando pagos à vista eram emitidos protocolos sem código de barra.
O que isso pode significar? A emissão de documento sem o código de barra impedia que o consumidor usasse o sistema bancário e liquidasse o compromisso financeiro no caixa do SAAE.
Contabilidade versus Sistema Comercial
O que foi apurado: Os funcionários que trabalhavam na contabilidade do SAAE não tinham acesso ao Sistema Comercial e a nenhuma informação sobre a quantidade e o valor das contas de água emitidas mensalmente, impedindo a contabilização dos procedimentos não informados. O chefe do Departamento Comercial, Alessandro Rodrigues Fróes, é marido da diretora Administrativo-Financeira, Gizelda Maria Tofanello Giório Froes.
O que isso pode significar? Que a contabilidade não refletia, necessariamente, a movimentação real da autarquia. As contas podiam ser fechadas sem refletir, com clareza, eventuais desvios de dinheiro público.
Mapa de arrecadação sempre atrasado e sempre acumulado
O que foi apurado: Os pagamentos das contas, serviços e taxas só eram escriturados no Mapa de Arrecadação e repassados pela diretora Gizelda Maria Tofanello Giório Froes à Contabilidade somente depois de efetivamente pagos. Não eram entregues diariamente e acumulavam.
O que isso pode significar? Nem todos os créditos a receber eram contabilizados, acumulados não correspondiam com o caixa e movimento bancário diário.
As baixas no caixa do SAAE
O que foi apurado: Ao contrário dos agentes externos em que o processo era via digital e uma funcionária apenas conferia e efetuava, automaticamente, a baixa no sistema, a arrecadação oriunda do Caixa do SAAE gerava baixa manual, uma a uma, cuja documentação era repassada à diretora administrativo-financeira, juntamente com o dinheiro recebido, a quem cabia o encaminhamento dos depósitos.
O que isso pode significar? Como a maioria dos recebimentos no Caixa do SAAE era em dinheiro vivo, o rastreamento era dificultoso, permitindo que os depósitos pudessem ser retardados.
O caixa do SAAE era fechado e zerado várias vezes
O que foi apurado: Por ordem da diretora Gizelda Fróes, o caixa do SAAE era fechado e totalizado várias vezes no mesmo dia, sem qualquer explicação, obrigando o caixa ser reaberto do zero. Mesmo as atendentes recomendando que esse procedimento era desnecessário, o processo continuou.
O que isso pode significar? Intenção de confundir ou embaralhar os resultados efetivamente apurados no dia, talvez para que ninguém memorizasse ou tentasse monitorar o movimento a partir do total arrecadado por dia.
Fechamentos de caixa que desapareciam
O que foi apurado: Após o fechamento do último caixa do dia, todo dinheiro e documentos correlatos eram entregues para a diretora Gizelda, que no dia seguinte os devolviam para a baixa no sistema. De vez em quando, as funcionárias davam pela falta de alguns fechamentos de caixa (aqueles que ocorriam várias vezes ao dia). Questionada, a diretora Gizelda dizia não saber o que tinha acontecido, mas que procuraria o fechamento que estava faltando e os entregaria. Nem sempre eles eram encontrados, vinha a ordem para que as baixas fossem realizadas assim mesmo e que quando localizados ela mesma resolveria o problema. Não há informações se esses caixas faltantes foram encontrados e regularizados.
O que isso pode significar? Que o dinheiro dos caixas faltantes possa ter sido desviado para outras finalidades, a baixa dada por alguém que tinha acesso ao sistema, sem que o dinheiro fosse contabilizado.
Credores da diretora recebiam no caixa do SAAE
O que foi apurado: Vários credores da diretora Gizelda, quando entravam no SAAE para cobrar dívidas, ela orientava os funcionários para que retirassem o dinheiro do caixa e realizassem o pagamento, esclarecendo que o valor retirado seria reposto. No fechamento do caixa, as atendentes colocavam um lembrete informando o valor pago aos credores. Não há afirmação de que as reposições tenham sido verificadas.
O que isso pode significar? Ao permitir que os credores se dirigissem ao caixa do SAAE para receber contas particulares, o servidor demonstra desconhecimento onde termina o interesse público e começa o privado, colocando a instituição sob suspeita.
A contabilidade nem sempre era fechada batendo com o saldo bancário
O que foi apurado: Vários meses foram fechados pela contabilidade sem ter a informação correta dos saldos em contas bancárias. A informação era cobrada, mas na maioria das vezes, ignorada pela diretora.
O que isso pode significar? Tentativa de esconder eventuais diferenças quando elas são significativas.
Marido é nomeado pela esposa para fiscalizar
O que foi apurado: Logo depois que Gizelda Fróes foi indicada pelo então prefeito Toninho Bellini para assumir a presidência do SAAE, ela nomeou o próprio marido, Alessandro Fróes, como responsável pelo Controle Interno do SAAE. Ao ser questionado, Alessandro declarou que o único serviço que ele realizava era conferir as despesas de viagem.
O que isso pode significar? Que a indicação poderia ajudar na cobertura dos procedimentos irregulares.
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