De Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Buenos Aires - Após a descoberta de documentos registrando 280 reuniões secretas entre integrantes das Forcas Armadas argentinas, ao longo dos sete anos de ditadura militar (1976-1983), a sociedade argentina espera agora responder a algumas das perguntas que continuam sem resposta, apesar de o país viver em uma democracia há três décadas, entre elas, o destino de milhares de desaparecidos, cujos corpos jamais foram encontrados.
“Foi um achado fantástico. Agora temos a prova de que tudo foi arquivado e temos a esperança de que vamos achar mais documentos”, disse, nesta terça-feira (5), em entrevista à Agência Brasil, a mãe da Praça de Maio, Taty Almeida. A organização é formada de mães cujos filhos foram sequestrados na ditadura e jamais encontrados. “Um sinal de que os tempos estão mudando é que os arquivos foram entregues pelas próprias Forças Armadas”, disse ela. Os arquivos secretos foram encontrados em um subsolo da sede da Aeronáutica, informou na segunda-feira (4) o ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi.
O arquivo foi encontrado em uma “limpeza” pedida pelo chefe do Estado-Maior da Força Aérea, brigadeiro Mario Callejo. Até agora, a maior parte das informações sobre o chamado “processo de reorganização nacional”, surgiram de investigações feitas pela Justiça ou de denúncias de sobreviventes ou de parentes e amigos das vítimas. Mas os chefes das juntas militares, processados e julgados, nunca forneceram detalhes de como planejaram atuar.
Nos documentos verifica-se que os militares registraram pedidos de parentes e amigos de pessoas que haviam sumido nos porões da ditadura, mas davam instruções para evitar o uso da palavra “desaparecido”. Preferiam falar em “pessoas de paradeiro desconhecido”. Havia também uma lista negra com nomes de artistas e escritores famosos (como Mercedes Sosa e Julio Cortázar) e discussões sobre a disputa com o Chile pelo Canal de Beagle (que quase acabou em guerra).
Alguns documentos tratam da detenção da família Graiver, dona da fábrica de papel de jornal Papel Prensa, que acabou sendo comprada pelos jornais Clarín e La Nación. O ministro deu a entender que os donos das empresas jornalísticas tinham ligação com a ditadura e por isso conseguiram comprar a fábrica dos Graiver. A revelação foi feita em meio à disputa entre o governo argentino e o Grupo Clarín – o maior conglomerado de mídia do país.
O Supremo Tribunal acaba de declarar a constitucionalidade da Lei de Meios, aprovada em 2009, que limita a atuação dos grandes grupos de comunicação. O Grupo Clarín (principal voz opositora ao governo) recorreu à Justiça, alegando que a nova legislação feria os direitos adquiridos e censurava a informação. Com a decisão do Supremo, a empresa apresentou um plano de adequação – que inclui a venda de ativos - que será examinado pela Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), responsável pela aplicação da lei.
Edição: Davi Oliveira
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