Estamos no início da Copa do Mundo no Brasil, o maior evento futebolístico mundial e que por sua magnitude envolve uma soma colossal de dinheiro em um país repleto de problemas sociais de toda ordem, especialmente nas áreas da saúde, moradia, educação, segurança.
Embora a presidente Dilma aposte que esta será “a Copa das Copas”, o povo brasileiro parece ter se cansado de fazer parte da “pátria de chuteiras”, como um dia Nelson Rodrigues alcunhou nosso país, para preferir ser uma nação de homens e mulheres que não mais se deixam enganar por oportunistas de plantão.
Não foi sem motivos que, em junho de 2013, milhares e milhares de pessoas saíram às ruas, de modo pacífico e ordeiro, espontaneamente e sem bandeira político-partidária, a fim de exigir que muitas de nossas más lideranças políticas apresentassem o mínimo do que, em linguagem popular, se chama “vergonha na cara”.
Não demorou, porém, para que logo aparecessem grupos mascarados, intitulados black blocs, promovendo desordens como quebradeiras, saques, incêndios, ataques a bombas, inclusive contra a imprensa etc.
Ora, não é preciso dizer o quanto essas cenas selvagens afastaram nosso povo honesto e trabalhador das ruas, esvaziando, desse modo, a força popular dos protestos monumentais que ganhavam o país da Copa. Foi por isso que a ação dos mascarados não demorou a suscitar suspeitas: que misteriosas mãos sustentam, ideológica e financeiramente, os black blocs? A quem mais interessa sua ação estúpida que tira os autênticos descontentes de nossas ruas e praças?
É difícil, de momento, oferecer uma resposta satisfatória, embora exista quem diga que “black bloc é máscara para esconder agentes do PT, que pretendem esvaziar as ruas das excelentes reações do povo brasileiro que, por fim, tinha resolvido sair às ruas para protestar contra o (des)governo. O povo está indignado, mas não gosta de desordens. Com as arruaças dos ‘black blocs’, quem lucra? O PT, que se vê livre dos protestos contra o sistema de governar tipo quadrilheiro” (Catolicismo n. 760, abril de 2014, p. 6-7).
Pois bem, sem comentar a afirmação acima registrada, notamos outra manobra estranha para afastar o autêntico brasileiro das vias públicas durante a Copa: um boato dizendo que o grupo black bloc se unirá ao crime organizado para promover vandalismos durante as partidas futebolísticas. Daí, logo os brasileiros de bem se acuam em casa a fim de não se aliarem e nem serem vítimas de pessoas mal intencionadas presentes nas ruas durante os jogos do mundial de futebol.
Três perguntas vêm à tona mais uma vez: quem lucra com essa aliança – se é que vai existir – entre arruaceiros mascarados e criminosos bem armados? Se assim é a face sombria da questão, vale a pena ir para as ruas, seja para protestar pacificamente contra os gastos da Copa, seja para comemorar as vitórias do Brasil? Por fim, mais uma questão: sou contra os gastos da Copa, não quero comemorar os resultados de dentro das quatro linhas, quando fora delas só há motivos para chorar no que se refere à saúde, moradia, educação, transportes públicos etc., que devo, então, fazer?
A resposta é simples, mas pode ser muito salutar se ganhar adesão dos brasileiros que realmente amam este país naturalmente rico, mas politicamente mal administrado. Trata-se do seguinte: a) não usar roupa verde-amarela, mas, sim, escura mostrando seu luto pelo desgoverno do país; b) colocar na sacada de casa um pano escuro ou no carro uma fita preta na mesma intenção. Se não quiser a cor preta, use apenas as do seu clube do coração.
Isso, longe de ser antipatriótico é uma dos maiores gestos de amor a esta nação amada, mas também sugada por péssimos administradores que deverão entender a mensagem do povo: olhe para nós, não para a FIFA!
Vanderlei de Lima é filósofo e escritor.
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