A mudança do local onde é festejado o carnaval popular da cidade da rua José Bonifácio para o entorno do Parque Juca Mulato acabou sendo a mola propulsora do enorme sucesso que a festa adquiriu neste ano. Segundo estimativa da Polícia Militar, pelo menos 20 mil pessoas circularam pelo local durante os quatro dias de folia, contabilizando também o Carnaval do Povão que teve lugar logo após os desfiles.
A repercussão positiva funcionou como um elixir contra um certo ceticismo que tomava conta de alguns dos principais nomes relacionados ao carnaval aqui da cidade. O aposentado João Adilson Ravetta, que atuou como espécie de consultor de luxo do prefeito José Natalino Paganini na elaboração do esquema deste ano chegou mesmo a cogitar a possibilidade de reassumir as rédeas da gloriosa escola de samba 09 de Julho, que tanto sucesso fez nas décadas de 1980 e 1990. Ele achou o Parque Juca Mulato muito eficiente para abrigar tanto ao público quanto aos foliões. Aislan Rossi, dirigente da Mocidade Alegre da Vila Boa Esperança disse para A Cidade que o desfile deste ano provou que o carnaval de Itapira desde que bem organizado tem público garantido. “ Estamos conversando. De repente a Mocidade, dependendo do apoio que a iniciativa tiver, pode ressurgir no ano que vem”, condicionou.
A discussão seguinte envolveu uma questão estrutural. Dentro da Prefeitura existem pessoas que defendem a pavimentação do entorno do Parque e vozes que discordam. Marcelo Iamarino, Secretário de Cultura e Turismo disse que esta questão ainda está sendo discutida e ao contrário do que se imagina, pode pesar contra a decisão de pavimentar o parque uma questão legal. “ Existe um processo de tombamento dos arredores do parque. Precisamos examinar até que ponto este documento iria permitir a pavimentação”, disse numa entrevista coletiva dada na tarde de quarta-feira na Casa da Cultura. Segundo fontes próximas, o Prefeito José Natalino Paganini estaria inclinado em ao menos propor uma alternativa secundária para oferecer mais conforto aos passistas. Segundo este raciocínio, as pedras do calçamento dificultam a evolução de passistas. Uma outra sugestão apresentada seria a de mudar o local do palanque oficial, permitindo que o início da rua João de Moraes sirva de recuo para a bateria das escolas de samba.
O Deputado Barros Munhoz que esteve prestigiando a festa com familiares no domingo, estava efusivo. “Uma festa maravilhosa! Fico feliz por termos conseguido resgatar a tradição do carnaval de Itapira”, colocou. Também mostrou-se totalmente favorável à manutenção do Parque Juca Mulato como palco da Festa. “ Foi uma decisão que se mostrou bastante acertada. Com algumas modificações certamente vai ficar ainda melhor no ano que vem”, defendeu.
Desfiles
Já na abertura do carnaval no sábado ficou evidente que a festa tinha caído no agrado do público . Estimadas quatro mil pessoas assistiram à passagem do Bloco dos Bichos; Rosa Choque; Corgo do Coxo ; Aloprados e Interact. Todos eles indistintamente mostraram que têm potencial para crescer. Jorge Jaconi, do Corgo do Coxo tocou num ponto que normalmente provoca muita discussão quando o assunto é a destinação de recursos. “ Recebemos somente dois mil reais de incentivo enquanto que outras agremiações receberam muito mais. Acho que deve existir transparência e justiça nestes critérios”, reivindicou.
Zuleika Silva, do Bloco Rosa Choque também seguiu o mesmo discurso. “ A gente entra com a motivação, com a boa vontade, com a alegria, mas, deve existir uma contrapartida que assegure a todas as pessoas que desejam ser protagonistas da festa recursos necessários para que as agremiações possam se fortalecer”, mencionou.
O Bloco dos Bichos ausente desde 2008 foi uma grata surpresa. Ao lado da mordacidade tradicional em lidar com assuntos do cotidiano , o Bloco trouxe como principal novidade uma interação com o público que não existia anteriormente. Teve por isso mesmo seu desfile muito valorizado em detrimento ao número de bonecos que sua direção gostaria de ter colocado para desfilar. O pessoal do Aloprados desfilou numa alegria contagiante, comandados pelo grito de guerra de seus comandantes, deixando implícita a mensagem de que naquilo que depender deles , o Bloco também virá ainda mais forte em 2014. Quanto ao pessoal do Interact a palavra motivação parece estar grudada à pele dos mais de 300 componentes, uma maré de adolescentes tomando conta do palco do carnaval.
Escolas & Nheco
No Domingo ( com direito ao repeteco na Terça-Feira) as escolas de samba, cada uma dentro de suas possibilidades, cuidou de não fazer feio. As duas novas escolas, a Mocidade Alegre Nova Era e Academia do Samba ( do bairro Istor Luppi) tiveram com principal virtude a determinação. Um desfile correto, cujo principal ingrediente era a força da bateria. Numa avaliação geral, seus dirigentes também gostaram do resultado, lamentando não terem tido um tempo maior ( e recursos maiores) para fazer algo melhor. “ Acho que dentro daquilo que nos propusemos em realizar, fizemos bonito”, disse Claudio Maria, da Nova Era.
A Império do Samba não negou fogo. Pesava sobre os ombros de seus dirigentes a responsabilidade de ter sido a escola o último bastião de resistência do nosso carnaval de rua. Bem composta, com um desfile compacto e com muitas fantasias de extremo bom gosto, a escola arrancou aplausos entusiasmado do público. Pelo entusiasmo verificado pelos seus dirigentes, é aposta certa no desfile de 2014, “ainda mais revitalizada”, segundo um dirigente.
E a Banda do Nheco Vai- Nheco Fica que desfilou no intervalo entre a Império do Samba e a Nova Era, só reforçou a aura de maior atração do carnaval regional. Um desfile apoteótico, que deixou fissurado o público infantil e atônitos os adultos. Uma interatividade gostosa de se ver. Na terça-feira o bloco ganhou o reforço de um palhaço de verdade, Reco-Reco, famoso em São Paulo e que fez parte da trupe do saudoso Circo Garcia. Reco-Reco tem ligações afetivas com a cidade. É casado com a itapirense Rute Coutinho. “ O carnaval de Itapira é algo muito lindo e esta banda do Nheco é atração para qualquer lugar do Brasil”, admirou-se.
Segurança
No quesito segurança a tranqüilidade foi a palavra de ordem. “ Acho que em 22 anos policiando festas de carnaval nunca vi um cenário tranqüilidade como o carnaval deste ano”, comentou um incrédulo Capitão Luciano Peixoto, comandante da 3ª Cia de Policiamento Militar. Ele disse que apesar do grosso do efetivo estar posicionado na área da festa, por toda a cidade a sensação de tranqüilidade foi a mesma. A mesma constatação foi feita pela enfermeira Elaine Sabadini, a itapirense que é coordenadora de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), da unidade matriz em Mogi Guaçu. “ Tivemos um índice de ocorrência inferior ao verificado em dias normais”, espantou-se.