Rica Amaral

por: Thaïs Roji e Jany Vargas

Rica Amaral é considerado um dos maiores artistas da cena eletrônica brasileira. Pode-se dizer que foi um dos responsáveis a trazer para o Brasil um movimento que acontecia no mundo, em meados dos anos 90, o Trance.

Derivado do Goa Trance (que surgiu na Índia quando começou a se misturar sons mais orientais ao Techno), o Trance vai além da música, o encontro entre as pessoas é essencial no movimento. Assim é possível haver algo ritualístico e uma troca real entre as pessoas, possibilitando uma transcendência e uma busca interior. As festas, sempre organizadas em locais no meio da natureza, têm como objetivo re-unir pessoas que buscam evoluir, em torno de música, dança, artes áudio visuais, yoga, malabarismo, pinturas, textos, xamanismo, entre outras atividades relacionadas a uma nova maneira de viver, que estimula um maior desenvolvimento interior e coletivo, com ações também ecológicas e sustentáveis.

Rica foi eleito melhor Dj de Trance por quase 10 anos consecutivos em veículos consagrados da mídia.
Também marcou presença em grandes eventos de musica, como o Rock in Rio, Free Jazz Festival, Planeta Atlântica, Universo Paralello, Fusion Festival, Boom Festival, Love Parade, Voov Experience, Shiva Moon Festival, entre outros aqui e na Europa.

No Brasil, ao contrário do que acontece na Europa, alguns Djs são considerados celebridades. Rica Amaral, granjeiro, é um deles.

O Início

Rica, quando garoto conseguiu entrar com o irmão mais velho numa boate e viu pela primeira vez um DJ atuando.

Ficou maravilhado com a possibilidade de trabalhar com a música e a dança e ainda ganhar com isso. Ele gosta de pensar sobre essas ocasiões onde é possível “ver” o futuro sem saber. Nesta ocasião não passou pela sua cabeça que essa seria sua profissão um dia.

Interessado em cura, ele pensou em ser médico e acabou se tornando dentista por sete anos.

Certo dia num curso de Reik, dançando, teve uma experiência incomum: seu corpo começou a vibrar e ele sentiu uma espécie de eletricidade nos braços. Tempos depois numa festa do Mercado Mundo Mix, em Curitiba, dançando sem nenhum tipo de droga ou álcool, a experiência se repetiu. Sentiu novamente o clique da conexão com algo maior, sagrado. Voltando para SP, foi atrás do som que tinha provocado
aquilo nele. Encontrou um CD que se chamava Chakra’s Journey. Descobriu assim a música Trance. Lendo o encarte do CD, ficou sabendo do circuito de Festivais que acontecem no verão por toda a Europa.
Foi para lá e se apaixonou. O Boom Festival em Portugal, por exemplo, reúne cerca de 30 mil pessoas de 70 nações diferentes por dez dias. É um evento que já ganhou prêmio de sustentabilidade. O Festival cria uma cidade alternativa onde acontecem palestras, workshops e muita música e dança.
 
Voltando para o Brasil e ainda dentista, quis trazer esse universo para cá. Começou fazendo as festas. Os palcos, como se fossem pequenos templos pagãos que evocam o clima de ritual, onde não há mestre, nem ninguém guiando, músicas sem letra e que permitem que as pessoas, dançando e convivendo, possam fazer suas viagens pessoais e assim, ele espera, se curem daquilo que estejam precisando
se curar, sem talvez nem saber que isto possa estar acontecendo.

Os Tempos na Europa

As festas começaram pequenas e a carreira de DJ começou a decolar.

Depois as festas foram crescendo, e em 96 aconteceu a primeira edição do XXXPERIENCE, evento que acontece em todo o Brasil e já contou com até 30 mil pessoas participando. Foi ficando complexo demais gerenciar eventos deste porte e Rica passou a ser novamente só DJ. Foi morar em Berlim, conheceu uma moça sueca e passou com ela três anos na estrada, num caminhão equipado, seguindo o calendário dos Festivais, tocando em vários deles.

Um dia um amigo lhe disse que a vida passa por mudanças a cada sete anos. Foi assim com ele e ele se lembrou disso quando soube que sua mulher, na época, estava grávida. O parto atrasou muito até que na madrugada do dia do seu aniversário de 35, ela entrou em trabalho de parto. Nessa noite, apesar do Inverno ter ido embora há bastante tempo, nevou e o bebê chegou: um menino que mora agora na Suécia. Há poucos meses, nasceu aqui sua segunda filha, Janaína com a também DJ Fernanda Rodart.

Agora

Conversar com Rica é entrar num universo paralelo. Seu cabelo muito comprido, que ele não corta há treze anos, com dread, suas tatuagens já alteram nosso senso de realidade comum.

Conversamos numa cabana no seu jardim, em volta de uma fogueira.
 
A sensação é de que estar com ele é estar num outro tempo. No agora? Ele diz que sim, que quando estava em Berlim leu o Poder do Agora, livro de Eckhart Tolle e ali aprendeu a esvaziar a mente, perceber quando começa a pensar no passado ou no futuro e aí voltar, reparar onde está.

Desse modo sua vida virou uma meditação constante.
 
Seu desejo atual é fazer vingar outro tipo de som que ele conheceu no Fusion Festival na Alemanha: são músicas ciganas, criadas por grupos atuais, algumas baseadas em melodias tradicionais e outras totalmente novas. Ele trouxe esse trabalho para o Supernatural, evento que ele tem feito atualmente na Vila da Mata/Ulabiná: um tipo de música que leva quem dança a interagir criativamente com ela. O
que o deixa feliz é que quem está participando desse evento, que já vai para a terceira edição aqui
na Granja em sete de agosto próximo, são pessoas de todas as idades. A galera reunida, do netinho ao vovô,como ele diz.

Terminamos nossa conversa com uma sensação muito boa. Uma sensação de que a vida é “agora- já”, muito bom vivê-la com intensidade e em comunhão com os outros. Se essa comunhão acontecer num local com alegria, música e dança, melhor ainda!