Debaixo da terra há um caixão, dentro do qual se deita um esqueleto que um dia esteve de pé. Quem andava pelo mundo e quem agora se deita? No dente do esqueleto há um verme, dado à luz há não muito tempo. Onde estava este verme antes de nascer? Dentro deste verme há uma bactéria já longínqua e remota em sucessão da primeira a habitar estas entranhas. Onde estão as bactérias que ainda vão nascer ali dentro? Dentro desta bactéria há uma molécula de água que já correu muitos rios abaixo, precipitou-se em incontáveis chuvas por todo o globo, esteve no cálice de vinho de uma imperatriz, hidratou os corpos de dinossauros e invertebrados paleozoicos. A que lugar pertence esta molécula? Quando trafega pela corrente sanguínea e visita corações e cérebros conta a história de suas andanças? Ou será que, tão primeva e anciã, não vê, ainda assim, a quem pudesse contá-las, por intuir que seus interlocutores também já eram e estavam antes mesmo do tempo?
. A luz das estrelas – dizem que leva anos pra chegar na Terra –, quando atinge o olho de um vivente, deixa saber o espaço imenso que cruzou?
. Quando vejo a lua penso “lua”. Quando ela me vê não pensa nem diz, ela vê. Se fosse um pouco parecida comigo riria de mim. Sendo igual a mim ela permanece em silêncio.
. Dizem que os esquimós têm uma abundância de termos correspondentes a sutis variações de cores do gelo e da neve. Na língua portuguesa e somente, servindo como um documento da história específica daqueles que a falaram, há a palavra Saudade. No Japão e na Índia há um termo, referente a uma experiência eventualmente atingida, de clara e perfeita visão de si e do mundo. Cada conceito nasce de, repousa e se volta sobre a experiência.
. O que é aquilo que é designado pela palavra Nada?
Tom Custódio da Luz, 22, escritor, compositor, cantor e músico, reside em São Paulo(SP).
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.