No exato momento em que os itapirenses de uma forma geral estão cada vez mais assombrados com a epidemia de dengue que afeta a cidade de uma maneira mais avassaladora a partir do último trimestre do ano passado, pululam nos meios informativos mais diversos os contornos de tragédia nacional em que a doença adquiriu neste início de ano. Segundo a Agência Estado, o país tem registrado 140 casos de dengue por hora.
Ainda segundo veiculou o jornal O Estado de São Paulo em sua edição de ontem, São Paulo é responsável por dois terços das notificações. Segundo a referida fonte, até quinta-feira haviam sido registrados quase 225 mil casos em todo o país. Em termos proporcionais o Acre é o estado mais afetado, com 695,4 casos por cada 100 mil habitantes.
Segundo outro levantamento, feito pelo portal UOL, seriam 91 municípios paulistas em situação epidêmica, caracterizada pela ocorrência de mais de 300 casos por 100 mil habitantes, ou em uma outra conta mais simples, um caso para 334 habitantes. Segundo o site noticioso,Guararapes, na região de Araçatuba, lidera o ranking com seis mortes e um caso de dengue a cada 15 habitantes, maior índice no Estado. Na sequência aparecem Florínea, na região de Assis, com um caso a cada 17 habitantes; Santa Rita do Passa Quatro, na região de Ribeirão Preto, com um a cada 18; e Estrela d’Oeste, na região de Fernandópolis, com um a cada 26.
O estado de São Paulo lidera o número de óbitos, 35. Esta é a informação que mais tem abalado os itapirenses, já que, segundo dados da Secretaria de Saúde do Município, nove pessoas perderam a vida por causa da doença a partir de dezembro do ano passado.
O número total de casos neste ano atingiu até a tarde de ontem, segundo dados do Serviço de Vigilância Epidemiológica, 3.457, sendo 1.715 em janeiro, 1.489 em fevereiro e de 01 a 07 de março, 253 casos. Esta é, a rigor, a única boa notícia: o número relativo de casos positivos recuou em comparação com levantamentos anteriores.
A VE terá disponibilizado o balanço da segunda semana de março somente no final da próxima semana. Existe uma torcida das autoridades da saúde para que o viés de baixa do número de casos se confirme. Até porque a potencialização do quadro local em meio ao imaginário popular atingiu também seu ápice nesta semana, impulsionada pela divulgação dos números locais na terça-feira, 10, pelo apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo, William Bonner. Foi o assunto da semana nas redes sociais.
A dona de casa M. que mora na região central, próxima ao Parque Juca Mulato, disse que ela e dois filhos apanharam a doença neste ano. “A gente fica com um sentimento de impotência. Eu tomo todos os cuidados que são recomendados para impedir a proliferação do mosquito. Não me descuidava nem mesmo do repelente. Uma vez apenas eu esqueci de passar. Foi numa sexta-feira. Com certeza foi o dia que fui infectada”, comentou. Alarmada, M. disse que em uma residência que faz fundo com sua casa a fiscalização encontrou um criadouro do mosquito. “Com certeza o Poder Público poderia ter sido mais ágil na resposta à epidemia, mas fica claro que a população é a grande responsável pela atual situação“, opinou.
O advogado José Hortêncio Francischini ficou doente em novembro. Mora na Rua Clélia Dini, no Jardim Soares, onde praticamente todos os moradores pegaram a doença. No caso dele a doença ocasionou efeitos colaterais que resultaram, inclusive, numa pequena cirurgia para correção do aparelho digestivo. “Sinto os efeitos até hoje. Fiquei traumatizado. Não desejo para o pior inimigo o que eu passei”, afirmou. Ao comentar o atual estágio da epidemia, disse que está assustado. “A gente sabe que se pegar outra vez os riscos de morte são bastante sérios”.
“Fiquei com medo de morrer”
A professora Maria do Carmo Bittar Soares, a Mamo, moradora no Jardim Itapuã é uma das pessoas que tiveram a infelicidade de pegar a doença duas vezes. Ela contou que a primeira vez foi em abril de 2014. Segundo seu relato, chamou sua atenção uma certa indiferença com a qual pessoas que a atenderam se referiram ao seu quadro clínico, como se fosse algo normal. No seu entendimento, naquela oportunidade a doença ainda estava sob controle, daí um certo conformismo das autoridades da área da Saúde diante da situação de momento.
Quadro muito diferente da segunda vez em que apresentou os sintomas da doença, em janeiro último. “O clima era de absoluta apreensão. Fiquei com medo de morrer”, afirmou.
Ainda conforme relembrou, os sintomas na segunda vez foram mais brandos do que a primeira. Indagada se chegou a fazer um exame clínico para confirmar o tipo do vírus - para pegar a doença uma segunda vez, somente com outro tipo de vírus, já que o corpo adquire imunidade contra o primeiro -, disse que não. “Fui informada de que a demanda por este tipo de exame naquele momento impossibilitava sua realização”, disse. Maria do Carmo revelou, contudo, que o exame de detecção da doença foi realizado e apontou positivo. Ela disse que o agravamento da doença na cidade a incomoda. “É lamentável você observar que a doença acabou provocando situações extremas, como a lotação nos hospitais. Nem os médicos escondem seu espanto”, observou. Ela também direciona suas críticas para o comportamento de parte da população. “Numa situação de extrema gravidade como esta, ainda existem pessoas que não fazem sua obrigação. É lamentável”, encerrou.
A enfermeira Josemary Apolinário, chefe da Vigilância Epidemiológica, disse que para fazer um exame para detectar a tipagem do vírus seria necessário colher material no máximo três dias depois dos primeiros sintomas. Ela avaliou o caso relatado pela professora Maria do Carmo como algo excepcional, registrado também em outras localidades. “São casos mais raros, onde ainda não se pode afirmar com segurança se evidenciam a circulação de um outro vírus, ou se foi algo esporádico”, mencionou.
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