Parte da equipe de colaboradores do projeto durante evento realizado na terça-feira
A reportagem do jornal A Cidade visitou na terça-feira, 22, na zona rural do município as instalações da Fazenda Santa Carlota, onde o Instituto de Psiquiatria Américo Bairral, desenvolve um programa alternativo de recuperação de dependentes químicos que recebe recursos oriundos do SUS (Sistema Único de Saúde). Inaugurado em 13 de julho de 2012, inicialmente denominado Centro de Acolhimento e Recuperação Rural, que passou a ser Comunidade Terapêutica Rural Santa Carlota, foi projetado para absorver até 100 pacientes.
Atualmente emprega uma equipe composta por 42 colaboradores, todos sob a supervisão do especialista em assistência social Maurício Landre, 52, anos, egresso da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e estreito colaborador do Médico Psiquiatra Ronaldo Laranjeira, entusiasta do programa e uma das maiores autoridades sobre dependência química do país. Com 18 anos na área e especialista em dependência química, Landre explicou que nesta semana que assinala os dois anos de introdução do projeto a instituição achou por bem realizar uma semana toda de atividades envolvendo pacientes,familiares funcionários, convidados da cidade e órgãos de imprensa.
Ele disse que a experiência tem sido fantástica do ponto de vista do processo de recuperação de pacientes e que tem sido convocado por instituições de várias partes do Brasil para falar da experiência da Santa Carlota. “Santa Carlota se tornou referência nacional. Itapira, por intermédio do Bairral está exportando saúde”, asseverou.
Durante a visita o projeto estava sendo realizada uma cerimônia onde pacientes que já ingressaram num estágio daquilo que chamam de sobriedade plena, em uma fase na qual recebem a “graduação”, nome dado ao desligamento do projeto, que acolhe pessoas do sexo masculino com idade a partir de 18 anos. Com autorização da coordenação e do próprio paciente, a reportagem conversou com alguns destes que estavam se desligando ou já haviam se desligado do tratamento.
É o caso de Diego Cassimiro da Silva, 21, natural de Sertãozinho-SP. Ele foi um dos primeiros a receber acolhimento. Depois de sete anos afundando na dependência do crack acabou sendo convencido pelos familiares a aceitar o tratamento.
Ficou seis meses, achou que estava curado e decidiu ir embora - uma das características do programa é que a internação é voluntária. Nos seis meses que voltou para sua cidade, teve recaída. “Tomei a decisão de eu mesmo de ligar para o programa e pedir minha readmissão”, contou. Outros seis meses de recuperação e ele se considera apto a tentar novamente. Ganhou um estímulo importante: foi contratado para ajudar na cozinha do projeto.
Milton Pereira das Neves, 64, foi um dos “graduandos” desta semana. Natural de São Paulo e residente em Mogi Guaçu, foi acolhido no começo de janeiro . Segundo seu testemunho foram pelo menos 30 anos de dependência de drogas pesadas, entre elas o crack. Emocionado, disse que não acredita em recaída. “O que eu aprendi aqui é para guardar para toda a vida. Aprendi a dar mais valor à minha própria vida e sei também , por tudo o que já passei, o quanto vale uma palavra de incentivo. E isso eu venho fazendo aqui e farei também lá fora. Levo o que aprendi aqui”, garantiu.
Ele disse que já passou por outras tentativas de recuperação, sem contudo ter sucesso. Disse que na Santa Carlota são muitos os aspectos que ajudam na recuperação, salientando a cumplicidade de cada um, da dedicação da equipe de funcionários e as técnicas empregadas, a vontade de se ajudar, são fatores determinantes para o sucesso da iniciativa.
Havia itapirenses entre os frequentadores do programa. Um deles, Patric Duzzo, de 23 anos, estava se graduando e decidiu falar abertamente do processo de recuperação. Ele conta que teve o primeiro contato com a cocaína aos 15 anos e que desde então sua vida se tornou um inferno. “Quando trabalhava, tudo o que eu ganhava ia para satisfazer a compulsão pela droga. Chegou um ponto onde comecei a vender coisas de casa. Felizmente vim conhecer o projeto da Santa Carlota”, contou. Patric relatou ainda que durante o auge da dependência chegou a pesar 54 quilos. Ele também foi um dos muitos casos de pessoas que chegam, ficam um período, pedem para ir achando que estão prontos para a volta ao convívio da sociedade e sofrem recaída. Voltou e ficou mais seis meses, recebendo de maneira definitiva sua “graduação” na terça-feira. “Saio convicto de que deixo para trás uma página negra da minha vida. Sou outra pessoa e devo isso ao convívio que tive aqui na Santa Carlota, com os colegas e os profissionais que nos atendem ”, finalizou.
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