Completa-se na próxima segunda-feira, 31 de março, 50 anos do golpe que derrubou o então presidente João Goulart, naqueles efervescentes dias de 1964. Uma junta militar liderada pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assumiu o governo. Teve início, desta forma, um dos períodos mais conturbados da história recente do país e que certa forma, influenciou em muitos dos temas de maior interesse da população brasileira até os dias de hoje.
Apesar disto, os jovens de hoje guardam uma enorme equidistância do tema. Na avaliação do sociólogo e professor universitário José Carlos Vieira, a escola tem grande parcela de responsabilidade nesse aparente esquecimento. Ele avalia que falta material didático aos professores de história para uma abordagem mais correta do período. “Trata-se do tema na sala de aula como se fosse algo de menor importância. Isso tem a ver, talvez, com uma falta de interesse do próprio sistema em examinar com maior profundidade este conturbado período da nossa história, o que é uma pena, pois mergulhar no tema significa ter uma noção mais precisa das transformações por que o país como um todo e a sociedade brasileira em geral passaram neste período ”, avaliou Vieira .
Atual professor dos quadros do IESI (Instituto de Ensino Superior de Itapira ), José Carlos Vieira é uma pessoa com grande folha de serviços prestados na cidade no trabalho de conscientização política da população local. Oriundo da zona rural, sempre foi uma pessoa determinada. Fez o ginasial na antiga Escola Técnica de Comércio e depois a Madureza Colegial (espécie de supletivo da época).
Em 1976 ingressou no curso de Ciências Sociais da Unicamp, numa época em que o Regime Militar endurecia no seu afã de eliminar toda forma de dissidência. A Unicamp era tida à época como um dos últimos redutos de resistência ao regime e o curso de Ciências Sociais, particularmente, era bastante visado pelos serviços de informação. Vieira conta que até chegar à Unicamp possuía inclinação oposicionista que resultou por exemplo no fato de ter sido um dos fundadores em Itapira do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido de oposição ao regime, que na “democracia” de fachada da época tinha seu partido, a ARENA. Mas foi na Unicamp onde se deparou com grandes nomes do engajamento contra o regime.
A partir daí deu início a um tipo de militância mais ativa. Indagado se não teve receio de ser enquadrado pelo regime neste período, Vieira acrescentou que “receio todo mundo tinha”. No meio universitário, segundo ele, circulavam notícias a respeito de prisões, torturas, assassinatos e desaparecimento de militantes de esquerda. Em 1976 elegeu-se vereador pela primeira vez, desta vez pelo MDB.
Mais tarde participou da campanha pela anistia. Junto com o ex-deputado João Batista Breda promoveu em Itapira no final da década de 1970 um ciclo de palestra que trouxe na cidade nomes como Fernando Henrique Cardoso, Almino Afonso, Luiz Eduardo Greenhalg e José Serra, este recém chegado do exílio no exterior. Mais tarde , participou da fundação do PT. Foi pessoa de destaque também na campanha Diretas Já em 1984.
Comissão da Verdade
Questionado sobre o que pensa da criação das chamadas Comissão da Verdade, que tem a pretensão de passar a limpo os crimes praticados pelos militares, “Carlão” como é popularmente conhecido disse ser totalmente favorável. Para ele o argumento de que a Lei da Anistia foi elaborada com o propósito de se colocar uma pedra sobre tudo o que ocorreu, dos delitos cometidos por ambas as partes, é enganoso. “Usaram a prática da tortura, dos assassinatos e do desaparecimento de pessoas se utilizando do aparelho do Estado. Isso tem que ser passado a limpo”, defendeu.
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