Foi instaurada a CPI, com aprovação unânime dos vereadores, para apurar um desvio de valor, logo depois da crise de 2008, na ordem de seis milhões de reais. O desvio é significativo, pois segundo a presidenta do Sindicato dos Servidores Municipais, não era condizente ao aumento concedido à categoria e, como noticiado pela imprensa local, cortes foram efetuados, pela administração, aos salários de secretários e outros cargos.
A CPI deverá apurar, também, outro desvio. Aquele que vem ganhando destaque nos jornais, rádios e sites da cidade. Um funcionário de carreira, com mais de trinta anos como servidor municipal, teria usado mecanismos de transferência de valores ou emissão de cheques em duplicidade em benefício próprio. Pouco se fala sobre outros suspeitos. Uma descoberta, conforme relatos não oficiais, que foi calcada no mais puro dos acontecimentos aleatórios, cuja chance de repetição é remota.
A população não confia no poder legislativo. Vêem senadores, deputados e vereadores mais como alguém que um dia poderá quebrar-lhes um galho, do que a importância que esses cargos representam para a democracia. Quando o assunto é CPI, a maioria não titubeia: “vai acabar em pizza”. Acredita que os legisladores usam as comissões processantes como uma escada para a popularidade ou como excelente motivo para levar uns trocadinhos a mais, em troca de voto.
Essa CPI mesmo que não saia dos assuntos pertinentes, poderá conduzir a outros desvios. E por isso, ela terá papel fundamental em nossa pobre história política. Estará em jogo o respeito ao servidor público, o futuro da crença sobre os poderes constituídos e a evolução do contribuinte-cidadão. Em suma, estamos diante de uma crise de identidade da nossa cidadania.
Não podemos nos esquecer que o atual grupo político conquistou o voto graças ao discurso da moralidade, da competência, da democracia e, sobretudo, da transparência dos atos políticos e administrativos. Souberam, depois de 28 anos, aproveitar a imagem desgastada do poder absolutista de Barros Munhoz. Construíram a idéia de que Itapira seria melhor sem os exageros, nem rojões, com o fim das perseguições e a extinção da corrupção instalada nas gestões antecessoras. Teve um primeiro mandato, sob a tutela e afago da popularidade e eficiência emprestadas do presidente Lula. Aproveitaram-se do crescimento econômico, associado à estabilização da moeda. No campo interno, na câmara de vereadores, com maioria absoluta, não enfrentaram obstáculos. No segundo mandato, apesar de reconquistar a maioria da câmara, viram os anos passarem sem mostrar um projeto político consistente. Optaram pelas terceirizações e descentralização administrativa. Mas enfrentaram problemas judiciais e emperro na máquina.
A CPI poderá, nesse aspecto, destacar o desvio negativo. Aquele que colocará em cheque todo o esforço discursista, que ainda se mantém, onde são relevados os ganhos da democracia, da transparência administrativa, da lisura dos atos e da coerência da linha de ação política.
Assim como essa CPI poderá desencadear um desvio positivo, que não só reforçará os alicerces tão propalados pelos governistas, como semeará esperança e crédito na população. Mas essa tarefa, não se dará de forma graciosa e, muito menos, diante de qualquer pingo de dúvida. O processo e a investigação exigirão mais do que boas palavras e intenções. Hoje, qualquer tentativa de manipulação chegará aos olhos e ouvidos da população como um raio. Que ninguém se sinta protegido pela inércia cidadã.
Não é possível avaliar os reflexos dessa CPI nas eleições do ano que vem. Independentemente do caminho que ela venha a tomar o mais importante será o conjunto das obras. Mas, não lhe neguemos importância, certamente, ela será a nossa travessia do Egito, sobre o Mar Vermelho.
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