Pode ser! E quem não erra, seria divino? Por mais que usemos essa frase, cismamos com a idéia de que estamos certos ou queremos estar certo, o tempo todo. Parece que temos a vocação inequívoca para Deus.
Acaba de ser publicado, no Brasil, um dos melhores livros do ano passado “Por que Erramos?” da jornalista americana Kathryn Schulz. Nele, a escritora explora o nosso lado mais importante: a capacidade de errar. É quando acreditamos nos nossos sentidos, nas nossas intuições, nos nossos conhecimentos e, principalmente, nos nossos entendimentos. Mas se usamos todas as nossas faculdades físicas, sensoriais e intelectuais, da melhor maneira possível, por que erramos?
Kathryn com muita sagacidade responde: os nossos sentidos falham, podemos ser traídos por uma ilusão de ótica, os nossos ouvidos nem sempre conduzem a informação completa ou adequada, muitas vezes os conhecimentos adquiridos não são perfeitos e acabados, a nossa memória nos engana em determinadas ocasiões, sem falar que normalmente nos baseamos em crenças ou preconceitos ou influências do grupo social em que estamos inseridos, não necessariamente, condizentes.
O acerto é importante. Ser reconhecido e elogiado é massagem para o ego. O nosso dia a dia depende das decisões corretas. Mas os acertos apenas confirmam o caminho, nem sempre nos ensina as melhores alternativas para as futuras caminhadas. Ao passo que o erro nos força à reconstrução das idéias, de onde vem o aprendizado.
Uma questão interessante, nesse assunto, é o prazer e a necessidade em caracterizar o erro alheio como forma de defesa e proteção. Segundo a autora, são sintomas de sadismo associados à insegurança e à incompetência. Quando alguém valoriza muito os erros dos outros, algo mais sério poderá estar por trás desse acusador!
A grande mensagem do livro está na referência ao aproveitamento dos erros para a construção do conhecimento e das relações. Só erra quem arrisca e quem busca algo novo. A maioria dos erros não é catastrófica e pode ser corrigida. Muitas vezes, a não aceitação do erro pode ser mais danoso do que o erro em si.
A afirmação é inquestionável: jamais acabaremos com os erros. Eles são frutos da nossa necessidade de evoluir, de facilitar e ganhar a vida. Apesar de ser natural, para muitos, a determinação dos culpados parece ser a melhor solução. Isso acontece há pelo menos um milhão de anos, nem por isso nos tornamos perfeitos.
Invariavelmente, acreditamos que estamos certos sobre o que imaginamos estar errado e, vice-versa, sem perceber, no curto prazo, os eventuais enganos.
A autora exemplifica com um caso da enfermeira que ministrou uma medicação errada para um paciente. Um erro grave, que poderia ser fatal. A crucificação e os destemperos parecem ser o melhor caminho. Mas, talvez fosse prudente perguntar: por que ela errou? Desde que não se configure uma anomalia cerebral ou intenção em matar, será que não valeria a pena levantar o tempo que ela tinha para atender os pacientes que estavam sob os seus cuidados? Será que o medicamento não apresentava estrutura idêntica ao que deveria ser corretamente usado? Enfim, com tantos casos similares ocorrendo em todos os setores, culpar pessoas não conduz à melhoria do sistema, pois nunca teremos profissionais perfeitos. A conclusão parece óbvia, é melhor analisar os erros, descobrir como eles foram gerados, aperfeiçoar os procedimentos para prevenir que as ocorrências inevitáveis causem prejuízos maiores.
Acreditamos que aceitar o erro é se apresentar à comunidade ou à família ou aos amigos ou aos colegas de trabalho com um ser inferior, estúpido, idiota, desinteressado, preguiçoso ou pouco esforçado. Logo, reconhecer o erro parece burrice. Quando o inverso é o verdadeiro sinal de inteligência, perspicácia e autocontrole.
Quanto mais se vive, mais se aprende: errar é natural, acertar é raro. Ninguém considerado normal erra propositadamente. Queremos acertar, sempre. É por isso que o erro é pedagógico. É por isso que uma crítica vale mais do que mil elogios. Enfim, o erro é próprio do Homem.
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