Os jornais iranianos adulteram a imagem de Catherine. O decote da diplomata recebeu um prolongamento na blusa para cobrir a área desnuda até o pescoço. Além dessa, outra sutil censura foi aplicada à imagem original. Um recorte na parte inferior do corpo dela induziu que Ashton não usava calça comprida. O vestuário por revelar as formas femininas é condenado pelo islamismo.
Essa prática costumeira da imprensa iraniana reflete as diferenças culturais entre o Ocidente e as tradições dos países muçulmanos. Não busca, necessariamente, ofender a pessoa, cuja imagem foi retocada, tenta evitar confusão. Parece uma boa desculpa, não parece?
É condenável qualquer tipo de censura, adulteração em textos ou imagens, independentemente dos objetivos apregoados. Em primeiro lugar vale a obrigação da informação fidedigna ao leitor. Em segundo, a boa imprensa ajuda a contar a história de um povo. Nesse caso, além de ferir as premissas jornalísticas básicas, considerando que a diplomata vestia-se com a sobriedade conventual, a intervenção, na prática, desrespeita quem vê o mundo com outros olhos – coloca a visão muçulmana acima das demais religiões e povos. Isso, para mim, tem um nome: intolerância. O respeito às diferenças é condição básica para a convivência humana harmoniosa.
Não posso deixar de registrar, no entanto, algumas reações que observei, na imprensa e em algumas pessoas, sobre a imagem adulterada. Tive a impressão de que apenas os jornais e governos vinculados aos países não-democráticos se utilizam de tais procedimentos. Sites especializados, como o Photoshop Disasters, buscam, diariamente, adulterações veiculadas nas imagens colhidas no mundo todo, dos EUA à Itália, da China ao Irã: pessoas que são retiradas para isolar a personagem principal, governante que é mudado de lugar para garantir melhor posição e mais destaque, multiplicação virtual de pessoas para reforçar a platéia apoiadora... Tudo isso, no campo político. Nas outras áreas, o nojo chega a ser desconcertante. Nem precisa ser dito quem é o consumidor desses despautérios. Muda-se para enganar, para vender, para nos fazer de bobos. Essas coisas parecem de são do outro mundo, não parecem?
Pois é. Alguns jornais itapirenses, de hoje e antigamente, por determinação dos seus diretores, usam sem parcimônia do direito de censurar, de adulterar imagens, de excluir pessoas das suas publicações. Lembro-me do dia em que o saudoso Jácomo Mandato me mostrou uma foto na qual ele aparecia e mostrou uma edição do jornal “Cidade de Itapira” em que a mesma imagem estava publicada, porém, sem a presença do ilustre escritor e historiador itapirense. Assustado, perguntei: mas como, cadê você? Ele me respondeu: O Jonas, o diretor, não gosta de mim!
Por muito tempo, o referido jornal, manteve o veto à imagem de Jácomo. Mas ele não foi o único. Outras personalidades itapirenses tiveram, nesses anos, a mesma intolerância diretora, independentemente dos seus feitos. O mais triste dessa história é que o jornal Cidade de Itapira, apesar de centenário, além de não ter prosperado para outros cem anos, poderá perder a importância dos seus registros jornalísticos, no futuro, constatada a prática flagrante de censura.
Quando o assunto é liberdade de expressão, não há justificativa que abençoe os abusos, quaisquer que sejam eles. É melhor olharmos para o próprio rabo. Sempre!
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