Sou de um tempo em que tudo caminhava de forma mais branda. Um tempo em que não havia essa loucura de hoje.
Um tempo em que se podia andar pelas ruas sem medo de ser atropelado ou assaltado. Tempo em que as pessoas se conheciam mais, valorizavam mais cada minuto vivido.
Lembro bem das noites de dezembro, das lojas com as portas abertas, expondo as novidades de final de ano. Os pais à procura do presente para os filhos. Os filhos, ávidos pela chegada do Natal e do presente tão aguardado.
Meu tempo de criança não foi diferente. Com a chegada do mês de dezembro tudo mudava, parecia que o tempo teimava em caminhar ainda mais devagar. A espera se tornava mais angustiante, mas ao mesmo tempo podia se viver aqueles momentos de forma intensa.
Lembro do meu último presente de criança. Meu pai, que nunca deixou de nos dar um presente no Natal, fazia mistério o tempo todo, não deixava que a gente visse o que era, apenas dizia que era um presente só para os três filhos, aumentando ainda mais a nossa ansiedade e, claro, a curiosidade.
Sempre que a gente perguntava sobre o dito cujo, meu pai, sempre sorridente, nos enchia de curiosidade e ficava feliz como se ele fosse a criança a espera do presente de Natal.
E era com esse espírito de criança que meu pai guardava a surpresa a sete chaves. Quando tirava da caixa fazia questão de trancar a porta do quarto e somente minha mãe tinha acesso. O máximo que eu minhas irmãs conseguíamos era ouvir o barulho que o misterioso brinquedo fazia.
Com a chegada do dia de Natal a ansiedade tomou conta daquele menino magricela de orelhas grandes. A noite custou a passar e quando o dia amanheceu pudemos finalmente ver o que tinha naquela caixa enorme.
Meu pai, com sua bondade e o coração do tamanho do mundo, havia comprado um jogo eletrônico de futebol, algo raro naqueles tempos, na Casa dos Presentes, e nossa alegria era tanta que dava pra ver seus olhos brilhando de satisfação com a felicidade dos filhos.
Lembro dessa época com forma de reverenciar a figura de meu pai, que apesar das dificuldades que aquela época impunha, nunca nos deixou sem um presente de Natal, sem os chocolates, as castanhas e, principalmente, sem a alegria de se viver em uma família feliz. Um pai que sempre foi um exemplo, rígido, austero, mas que nunca deixou de cuidar de sua família e de todos que o cercavam.
Um pai que Deus levou para junto de si, mas que nos deixou um legado de ensinamentos e um mundo de boas recordações. Recordações que o tempo não apaga e que para sempre estarão presentes em nossas vidas, principalmente nessa época em que ficamos mais sensíveis às emoções.
E, quando se escreve com o coração, as palavras fluem em nossa mente e escorregam para os dedos banhadas pelas lágrimas de saudade que escorrem dos olhos e teimam em turvar a visão. Por isso, a cada lembrança, volto no tempo e revivo cada momento como forma de alegrar meu coração.
Meu tio José Rubens e meu pai durante jogo no seminário de Campinas
Time de marceneiros da cidade
Meu pai e minha mãe e a devoção de ambos
Sempre alegre, meu pai tinha um grande coração
Meu pai e minha mãe: sempre juntos
Eu com meus pais
No time de veteranos da Esportiva Itapirense