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Itapira, 26 de Dezembro de 2024
Artigo
15/02/2021 | Luiz Santos: Caminhamos para a Páscoa

Iniciamos no calendário cristão o tempo em preparação para a Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo. O nome desta estação litúrgica é quaresma. Contudo, pelos mais justificáveis e verdadeiros argumentos, não é um nome bem quisto entre os evangélicos. As muitas práticas supersticiosas e até idolátricas destes dias fez com que os cristãos não católicos romanos levantassem razoáveis dúvidas acerca da validade de um tempo assim para a vida de um discípulo de Cristo. Entretanto, esse período em preparação para a celebração da Páscoa pode ser encontrado já no fim do segundo século (Catequeses Mistagógicas de Cirilo de Jerusalém, por exemplo) como um tempo intimamente ligado ao escrutínio probatório dos candidatos ao batismo, que geralmente era ministrado no domingo de Páscoa. Com o fim da instituição do catecumenato e de uma mais acurada catequização e preparação dos convertidos tendo em vista a recepção do batismo, esse tempo em preparação para a Páscoa, a quaresma, perdeu um pouco a sua importância e se tornou apenas uma observância litúrgica, uma marca temporal que apontava para a proximidade da celebração anual da ressurreição de Cristo. Com o passar do tempo, infelizmente, novas práticas estranhas ao propósito inicial foram incorporadas o que levou não só a deturpação, mas a natural rejeição desta estação, sobretudo em muitos ambientes pós-reformados. Entretanto, nenhum dos grandes reformadores abriu definitivamente mão deste período dentro do calendário cristão. O que os teólogos e pastores envolvidos na Reforma da Igreja intentaram fazer foi devolver à quaresma ou preparação para a Páscoa o seu caráter meramente didático e pedagógico, sem, contudo, torná-lo imprescindível para a vida da igreja. Sua observância deveria ser apenas de caráter meramente instrutivo, sem ver nesses dias algo de especial, santo ou místico que pudesse comunicar ao crente alguma bênção suplementar. Como não era e não é de fato imprescindível, na medida em que a igreja evangélica foi se distinguindo, se opondo e afastando de tudo o que pudesse lembrar o catolicismo romano, a quaresma ou a preparação para a Páscoa praticamente desapareceu. Mas, ainda hoje, é possível lançar mão desta pedagogia para aprofundar a instrução bíblica e fomentar a piedade dentro do contexto celebrativo da igreja. É muito possível, e acima de tudo, usar com inteligência as Escrituras ou um bom lecionário, para demonstrar que os acontecimentos que envolvem a celebração da Páscoa, a saber, a Instituição da Ceia, a paixão do Salvador, a sua crucificação, sua morte verdadeira e a sua real e gloriosa ressureição, estão todos previstos e já sacramentalmente celebrados no Antigo Testamento, por meio de ‘tipos’ antecipatórios que apontavam para a necessidade de um sacrifício superior e definitivo, que reclamavam o Messias, o verdadeiro Cordeiro expiatório e a celebração de uma Aliança eterna. Assim, a quaresma, a preparação para a Páscoa, é um convite para que a igreja percorra os caminhos da história bíblica, se reconecte com o seu passado histórico e reafirme a sua fé bíblica. A quaresma pode fazer-nos aprofundar ainda mais a nossa consciência sobre a continuidade das ‘Alianças’ entre o que aconteceu no AT, de maneira preparatória, e o que foi consumado no NT, na Páscoa do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nos domingos que antecedem à celebração da ressureição, a Igreja é levada a considerar o fato que após a queda, quando da nudez de Adão e Eva, o Senhor não aceitou as roupas por eles tecidas para esconder as suas vergonhas, mas requereu o sangue de um terceiro, um inocente, para cobrir a miséria e, assim, serem recebidos na presença do Altíssimo. Assim, de maneira antecipada, nos fala da morte substitutiva de Cristo e de seu sangue justificador que desvia a ira de Deus e nos torna aceitáveis aos seus olhos. Dando um grande salto na história, aprendemos que o Egito, a escravidão e o Faraó simbolizam o mundo caído e idolátrico, o pecado e o diabo. Aprendemos que o Mar Vermelho é a morte e que Moisés, o grande libertador, é um tipo de Jesus, o nosso redentor. Moisés, ao ferir o Mar Vermelho com o seu cajado aponta na verdade para Cristo que com sua cruz golpeou mortalmente a morte e faz os filhos de Deus atravessá-la sem por ela serem tragados. Assim, e de muitas outras maravilhosas maneiras, a quaresma nos ajuda a conhecer, entender e integrar em nossa caminhada com Cristo hoje os grandes feitos de Deus. Nesses dias tão sombrios e incertos, saber que Deus não mudou o seu favor para conosco, que em Cristo as suas promessas têm ‘prazo de eternidade’ e não de validade e que a morte não tem a última palavra sobre a vida, enche o nosso coração de esperança e de paz. Caminhemos pressurosos para a Páscoa de Jesus, a nossa Páscoa definitiva.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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