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Itapira, 26 de Dezembro de 2024
Artigo
21/07/2020 | Luiz Santos: Refundar a comunidade: Uma volta ao essencial

A Pandemia uma hora dessas vai passar. Em algum momento haverá uma confluência de acontecimentos que nos trará de volta parte da vida de antes. Um tratamento eficaz será encontrado, uma vacina será descoberta e, quem sabe, novos hábitos de convivência social e de cuidados com a higiene serão definitivamente incorporados ao nosso cotidiano. Também, apesar das muitas transformações no que diz respeito ao mundo do trabalho e ao uso da tecnologia, dos aplicativos e das redes sociais em substituição a muitas tarefas da vida de cada dia, na verdade, a pandemia só acelerou esse processo todo. Já nos encaminhávamos para esse mundo digital, virtual, porém real, há um certo tempo. Seria mesmo inevitável em futuro nem tão distante assim, o home office, a massificação dos cursos EAD e remoto. O conceito mesmo de ensino híbrido nem é novidade. Seria impossível a não adesão às formas de compra, pagamentos e os mais variados serviços de transação comercial e financeira via internet e ‘apps’. A Pandemia só acelerou esse processo todo. É bem verdade que também aprofundou o fosso da desigualdade, a começar justamente pela dificuldade de acesso a esse mundo digital, da educação e, de maneira especial, as desigualdades sociais básicas como trabalho, saneamento básico e saúde. No que diz respeito à igreja, não é de hoje que ela vem se digitalizando, se virtualizando. Ululam e pululam sites, canais, conferências, ‘lives’ e vídeos na cyber-esfera. Esses dias de afastamento e isolamento social só fez aumentar exponencialmente uma realidade já existente e que convivia pacificamente com os trabalhos presenciais da igreja. Vez ou outra uma tensão com os ‘desigrejados’ ou irmãos da lei do menor esforço pudesse acontecer. Mas, a condição da igreja virtual já estava posta antes da pandemia. Uma das tarefas mais importantes que os pastores e presbíteros precisarão realizar após a era da Covid-19 em primeiro lugar será a de evitar a todo o custo o forçamento de uma volta à plena normalidade de antes. Não ocorrerá. Não digo, claro, em todos os lugares. Mas, será, de fato, um erro insistir que todos se sintam confortáveis e preparados psicologicamente para a volta. E ainda, graças a Deus, muitos pastores foram zelosos e eficientes na cura pastoral nesse tempo e, por isso mesmo, haverá um inevitável efeito colateral. Um grupo significativo de irmãos irá se acostumar com as facilidades dos recursos tecnológicos e da assistência recebida ‘personalmente’ no seu lar ou pela atenção recebida dos pastores e presbíteros em chamadas de vídeo e ligações telefônicas, coisa que não acontecia com frequência antes. Evidentemente que essas iniciativas são imprescindíveis nesses dias. Não poderemos usar de moralismos e tentar arrastar os nossos irmãos pelo constrangimento. Os seus ombros já estarão sobrecarregados pelos fardos desses dias duros pelos quais passamos e não precisarão de mais peso sobre si. Então, mais do que forçar a volta a antiga normalidade, será a nossa tarefa, em segundo lugar, ‘refundar’ a comunidade. Não significa começar tudo do zero, da terra arrasada, nada disso. Mas, é nosso dever entender que precisaremos aprender e rápido, a fazer novas, de maneira nova, como novo ardor, as coisas de antes, mas com novas metodologias, inclusive. Durante um certo período os grandes ajuntamentos não serão nem possíveis e nem desejáveis. Os pequenos grupos, aqueles de proximidade física ainda maior e mais invasivos, porque as reuniões se dão nos lares, também não serão aconselháveis. Também as muitas reuniões departamentais, sociais e de confraternização, por ora, não terão ocasião, pelo menos não como antes. E como nos ‘virar’ para que a igreja não esvazie a sua adoração pública, não perca o dinamismo da missão e a bênção da comunhão? Teremos de escolher muito bem o que queremos valorizar nesse tempo até que as condições sanitárias estejam plenamente seguras e que todos estejamos convencidos de que a tecnologia auxilia, mas, nunca substitui. Dentro das possibilidades observadas pelos protocolos de flexibilização, devemos aproveitar cada reunião de adoração para oferecer aos irmãos aquilo mesmo que o culto se propõe a ser para o adorador. Um tempo invadido pela eternidade, um ambiente transcendente de tudo o que ele experimenta ao longo da semana, uma teia de relações marcadas por sentimentos e emoções que é impossível de se encontrar no mundo e uma Palavra que seguramente ninguém tem para oferecer. É nosso dever oferecer a Deus e proporcionar aos irmãos uma adoração que nos faça íntegros após um tempo de dispersão na correria da semana. Queremos estar por inteiro na presença de Deus. Desejamos ardentemente que o Senhor nos restaure a inteireza do coração fragmentado pelas muitas solicitações da vida. Nessa refundação é nosso dever focalizar o ensino da doutrina, a pregação da Palavra e o discipulado. Precisamos otimizar o tempo com qualidade e quantidade para formar a mente e o espírito de nossos irmãos com o Evangelho da graça. Outra realidade que precisamos despertar e fomentar é o espaço e a oportunidade para reuniões de oração, muitas, o quanto possível para que o nosso povo aprenda a se conformar à vontade de Deus e a nela descansar. Numa palavra, refundar significa limpar a nossa igreja do entulho dos acúmulos das quinquilharias da religião e nos apegar aos essenciais da nossa fé. Aos poucos, precisamos acomodar melhor a ‘mobília’ na sala da Igreja para não darmos mais valor ao bibelô do que aos móveis e utensílios de primeira necessidade.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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