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Itapira, 26 de Dezembro de 2024
Artigo
24/07/2018 | Luiz Santos: Saber ouvir

Alguém já disse que saber ouvir é uma arte. Numa sociedade onde todo mundo tem o que dizer e onde todos querem dizer tudo e qualquer coisa ao mesmo tempo, ouvir tornou-se também uma necessidade essencial, inclusive para a nossa saúde mental. Se da parte de Deus tudo começou com uma Palavra: Faça-se a luz! De nossa parte, tudo começa pelo ouvir o que Deus tem a dizer-nos. O núcleo do credo do povo da antiga aliança era uma ordenança divina para ter os ouvidos bem abertos: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4) e sempre que Israel se esquecia das promessas contidas na aliança, era incitado a dar ouvidos à Palavra do Senhor: “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Sl 95.7,8). Também o Senhor Jesus já chamava a atenção dos discípulos: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt13.9) e ainda “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não ouvem porque não pertencem a Deus" (Jo 8.47). Mesmo a capacidade de crer salvificamente depende da nossa atenção: “Consequentemente, a fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo” (Rm 10.17). Assim, vemos pelo testemunho das Escrituras que a nossa vida depende do quanto somos capazes de ouvir, de dar ouvidos, de sermos sensíveis “ao que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3.22) e de obedecer-lhe à voz. Vivemos no mundo de muitas vozes solicitando atenção. Existem muitas mensagens tentando captar a nossa atenção e muitos têm uma proposta de felicidade e vida a oferecer nessa babel. Nesse turbilhão, em meio a esse alarido ensandecido, o discípulo de Cristo precisa exercitar a capacidade de reconhecer a voz do bom pastor:Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas nunca seguirão um estranho; na verdade, fugirão dele, porque não reconhecem a voz de estranhos" (Jo 10.2-5). Graças ao Pai porque ele mesmo providenciou à igreja e aos crentes os meios pelos quais quer ser ouvido, pelos quais quer falar com o seu povo. Deus nos fala claramente pelas Escrituras Sagradas. Uma das doutrinas mais caras preconizadas pelos teólogos da reforma protestante ensina sobre a ‘perspicuidade da Bíblia’, isto é, a clareza das Escrituras. Isso quer dizer que os textos essenciais que importam em nossa salvação, aquelas verdades que o Espírito Santo usa para produzir fé salvadora, arrependimento para a vida, santificação e aquisição de virtudes, são claros e evidentes a todos os homens, independentemente de sua capacidade intelectual. Deus fala conosco quando lemos as Escrituras! Ele abre diálogo conosco quando estudamos diligentemente a sua vontade na Bíblia e ali procuramos aprender a maneira de viver como agradá-lo. Por meio da pregação, quando subordinada à Palavra de Deus, o Senhor fala diretamente com o seu povo instruindo, exortando, corrigindo, punindo, redimindo. O outro meio providenciado por Deus para falar conosco é a oração. Embora na oração a mecânica da coisa pareça ser uma iniciativa simplesmente humana, na verdade não é. Conquanto seja um dever orar, uma ordenança, a oração é na verdade uma resposta do homem ao Deus que o convida para uma ‘conversa’ franca e amorosa. Enquanto nos dirigimos a Deus com a imperfeição e a imprecisão de nossas palavras, o Espírito Santo que geme dentro de nós, que ora conosco e por nós, também fala com a nossa mente e alma, levando-nos à convicção de que nos céus o Pai está atento, recebendo e tendo prazer em ouvir-nos. Por isso mesmo, podemos afirmar com toda a convicção de que não existem orações sem respostas. O Senhor a todas ouve. Nunca despreza uma única oração feita em fé e nos méritos de seu amado Filho. A todas dá provimento, conforme a sua vontade, para a sua glória e o bem daqueles que lhe pertencem. Assim, entendemos que orar sem cessar não significa insistirmos na oração até que Deus nos ouça. Antes, significa perseverar orando, até que sejamos capazes de ouvir a sua voz dando-nos a resposta justa, santa, sábia e perfeita ao que solicitamos em nossos rogos. Deus fala conosco ainda por meio da história que é sempre o reflexo de sua soberania e o palco dos seus atos redentivos. É preciso estar atento também aos acontecimentos de nossa história pessoal e da história do mundo, pois o Senhor está agindo por meio delas e falando através delas. Na história, o cristão também deve ser capaz de perceber os sinais dos tempos, descobrir o que Deus está falando e engajar-se nessa obra. Que o Senhor nos dê sempre mais a graça de ouvi-lo na Palavra, escutá-lo na oração, atentar para o que a história nos diz e em tudo, como cantamos em um belo hino, ‘Crer e observar’ (Hinário Novo Cântico 110 – A).

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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