O processo eleitoral compreende cinco momentos distintos: convenção, campanha, votação, apuração e resultado. Teríamos, ainda, um sexto momento, não oficial, a pré-campanha que se antecipa às convenções partidárias. Enfim, tudo é organizado como manda o bom figurino eleitoral, aqui ou em qualquer uma das melhores democracias do mundo.
A convenção partidária define as candidaturas entre os interessados cacifados para a disputa eleitoral. Cacife este marcado pela personalidade política, pelos apoios na área de atuação e pelo dinheiro suficiente para encarar a empreitada. A maioria dos candidatos desprovidos viaja na maionese.
É na campanha que o eleitor exercita o poder de escolha. Para isso ele deve contar com a aproximação e desnudamento dos candidatos. É quando se busca a identificação do pensamento de quem vota com aquele que se pretende votar e associa com os benefícios que o escolhido poderá produzir para a população. Há quem faça essa escolha usando parâmetros diferentes e individualistas, moralmente condenáveis, mas democraticamente permitidos.
A votação é o sacramento da escolha. A apuração é a verificação da abrangência da nossa visão política e a consagração dos vitoriosos. Já a derrota do candidato votado, em qualquer nível, representa que a maioria discorda daquela escolha. Nem todas as pessoas estão preparadas para essa realidade. Durante a campanha, muitos eleitores transformam as suas aspirações e desejos em realidade forçada, antes do tempo. Daí a decepção, daí o inconformismo com o resultado. A loucura dessas pessoas chega, muitas vezes, a criar situações que prejudicam a cidade em que mora e até o país, só para provar que seu voto era o mais acertado. Loucura lastreada, quase sempre, na desinformação, no sentimento antidemocrático e, o que é pior, no preconceito.
As eleições deste ano foram pródigas em brigas de amigos e parentes, ao vivo ou nas redes sociais, por conta das divergências nas escolhas. Dá para considerar culturalmente desenvolvido ou politizado quem troca uma relação duradoura pelo credo neste ou naquele candidato, neste ou naquele agrupamento político?
Finalmente, é inconcebível a desqualificação eleitoral ao se estabelecer, inconscientemente talvez, a diferenciação no valor do voto, como se o voto de alguns devesse ser mais importante do que o de outros ou, ainda, que os votos de determinadas regiões são mais conscientes do que os de outras paragens como se não existisse a pulverização das escolhas pelo país inteiro.
Em que pese todos os prós e os contras dessa eleição, é fato que ainda não temos uma democracia consolidada, mas temos uma democracia experimentada e resistente. Passamos por percalços nunca dantes imaginados. No final das contas prevaleceu a salutar divisão entre minoria e maioria, com a primeira devendo respeitar a segunda, como sempre deve ser.
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