Estamos no primeiro estágio da campanha eleitoral. Uma fase em que ela se apresenta morna e sonsa por fora, fervente e astuciosa por dentro. As limitações eleitorais e os altos custos jogarão a campanha, propriamente dita, para o início de agosto. Os candidatos estão aproveitando a quietude para discutir os planos de governo, planejar os passos para não perderem tempo, nem dinheiro. Mas o corpo a corpo já começou.
É a fase, também, que um fica esperando o outro atirar a primeira pedra. Há candidato que acha mais fácil desqualificar o adversário a provar a própria eficiência. Recurso antigo que revela comportamentos insano, ilógico e irresponsável. Vem do processo de pessoalização de uma atividade que nada tem de pessoal. O melhor candidato - o que deveria ser eleito - é o que encaixa as relações políticas dentro da sociedade com maior eficácia. Cabe ao eleito exercer com plenitude o poder conquistado e esquecer o palanque. Deve governar para a cidade inteira.
Dentre os pensadores e cientistas políticos, ninguém melhor que Maquiavel para dizer como se sobressair diante dos acontecimentos políticos: ser virtuoso, astuto, forte e sortudo. Não há nada mais angustiante do que os últimos seis meses de um governante que definha a olhos vistos. Depois de um dia ter sido consagrado, na hora de preparar a mala, vir a sensação de que nada ou pouco construiu. Sentir que das boas coisas realizadas, o povo quase nada reconhece. Ser governo é padecer no inferno!
O governo claudicante, fraco, inepto e azarado costuma colocar as agruras na conta da imprensa, se afasta dela e reclama dos exageros. A imprensa, é verdade, algumas vezes exagera, mas nunca consegue cobrir todas as ações criminosas, maliciosas ou incompetentes de uma administração. Ninguém vê tudo.
Ser governo é padecer no inferno. Ser oposição é viver no paraíso. Tem pedras para atirar e nenhuma vidraça nova para proteger. Mas porque então toda oposição quer virar governo. Ser governo é bom, então?
É claro que sim. Tem status. É sempre convidado para as festas. É reconhecido e tem a possibilidade de fazer história. Pode dar nomes de amigos e parentes nas construções públicas, além de ajuda-los, com emprego ou concorrências, de vez em quando. Mas o mais importante de um governo é a possibilidade de empreender políticas públicas e melhorar a vida das pessoas.
Triste, porém, é ver casos em que os ocupantes dos cargos executivos acabam vendo na corrupção a paga pelos serviços prestados, o conforto para as dores sofridas e a recompensa pelas noites mal dormidas.
Toda campanha eleitoral reacende a esperança de que desta vez tudo vai ser diferente. O grande desserviço que um político pode prestar ao povo que o elegeu é o sentimento de desesperança. Candidatos reflitam, pois