Padre Pires
Há um antigo ditado alemão que diz "Mulher foi feita para igreja, criança e cozinha". Como essas três palavras na língua daquele país começam com a letra K (kirche, kinder e küche,) o provérbio faz rima e tem sonoridade.
Esse pensamento foi gerado num mundo patriarcal onde os papéis estavam bem definidos. A revolução de costumes que estamos assistindo desde a década de sessenta pôs todos os modelos em crise. Hoje é necessário repensar o novo lugar da mulher na Igreja, como o do homem. Essa tarefa não é fácil numa instituição bilenar, presente no mundo inteiro e que tem 400 mil padres, quase cinco mil bispos, 140 cardeais e quatro mil funcionários só na Cúria Romana.
Algumas Igrejas estão mais adiantadas que nós católicos neste processo. Há dez anos atrás a Igreja Episcopal americana ordenou para presidir o Conselho de Bispos a senhora Katharine Jeferts Schori. É o mais alto posto alcançado por uma mulher na história da Igreja Anglicana. E a senhora Katharine não é pouca coisa não! Além de bispa pilota avião, tem formação em biologia e filosofia, é casada com um matemático e é mãe de um tenente da Força Aérea dos Estados Unidos. Putz!!!
Na Igreja metodista do Brasil já há episcopas. A senhora Coen é a maior monja do zen budismo no Brasil e até no Marrocos a hierarquia mulçumana aprovou que quarenta mulheres fossem indicadas para o cargo de pregadoras do Corão. Enquanto isso a Igreja católica está há quase dois mil anos explicando porque o clero só deve ser composto de homens e porque devem ser solteiros.
Procurar justificativas na Bíblia para a ordenação ou não de mulheres é complicado, pois ela pode ser usada tanto pelos pró como pelos contra. Se em Gl 3, 28 São Paulo diz que em Cristo "não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos somos uma só pessoa em Jesus Cristo " já escrevendo aos Coríntios (I Cor 14, 34-35) recomenda que "as mulheres devem ficar caladas nas assembléias, como se faz em todas as igrejas dos cristãos, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei. Se deseja instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos em casa; não é conveniente que a mulher fale nas assembléias".
Mas a Igreja Católica não se pauta pela Bíblia tomada em sua literalidade. Seus livros estão submetidos à interpretação da Igreja, justamente pelo seu caráter histórico e contingente. Cabe aos pastores fazerem as devidas interpretações conforme mudam os tempos e os costumes. Jesus Cristo não propôs nenhuma estrutura como definitiva. A única coisa que ele deixou como inegociável foi a lei do amor.
O teólogo católico Fernando Altemeyer, numa entrevista concedida ao jornal Estado de São Paulo (25.06.2006), e de onde eu extrai muitas informações contidas neste artigo era otimista. Dizia que a permissão para ordenação de mulheres viria ainda com o papa Bento XVI: "Ele apontou na encíclica DEUS CARITAS EST que a sexualidade humana deve ser valorizada na Igreja tanto quanto o amor de Deus. Isso nunca foi dito dessa forma. Não sou profeta, mas ao dizer isso ele parece apontar que algo vai ser feito". Não foi.
A inclusão das mulheres de maneira plena na Igreja Católica com presbíteras e epíscopas só traria ganhos para todos. É claro que uma mudança de tal magnitude vai exigir muitos esforços de adaptação. Mas o povo de Deus já lidou com coisas muito mais difíceis e complicadas.